quinta-feira, 20 de julho de 2006

Os órfãos do Brasil - Jayme Copstein

Para a Justiça brasileira, a orfandade no Brasil deve ser uma questão de tempo ou de metro: quanto mais alto e mais velho, mais órfão o individuo fica, com o direito a grudar as presas na teta gorda da Pátria.
Não fosse assim, não faltaria atenção nem dinheiro para dar assistência aos pirralhos de metro e meio de altura, meninos e meninas de 12, 13, 14 anos de idade, que andam pelas esquinas, pedindo esmolas, boa parte deles órfãos até de pais vivos.
Não que falte a vontade de atender e o dinheiro. Nada se insinue, por favor contra a inteligência e a sensibilidade dos ilustres magistrados. É que nada sobra depois de atender aos órfãos maiores, como os filhos dos filhos dos filhos dos veteranos da Guerra do Paraguai, os descendentes de Tiradentes, que nunca os teve, os reprimidos pela ditadura militar, aos quais acaba de se juntar o jornalista Hermano Alves, com uma indenização milionária de 2 milhões e uma suculenta aposentadoria mensal de 14 mil reais.
Pois a Justiça brasileira, por decisão do Tribunal Federal de Brasília, acaba de criar a nova categoria dos órfãos da Varig e da Transbrasil. A desembargadora Neuza Alves da Silva concedeu tutela antecipada, ordenando que o governo complemente os valores dos benefícios aos respectivos aposentados e pensionistas, porque deveria ter fiscalizado a administração do fundo de pensão, o Aerus, e não o fez com competência.
Não duvidem que, nesta senda, qualquer dia o nosso magnânimo Congresso inclua entre as cláusulas pétreas da Constituição o direito à orfandade dos maiores, reservando os primeiros lugares da fila aos deputados cassados por corrupção e aos demagogos de quem o eleitor já cansou.
Quanto ao demais órfãos, os esmoleiros das esquina – por que a preocupação? Continuarão cada vez mais órfãos.

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