terça-feira, 11 de julho de 2006

De ladrões e censores - Jayme Copstein

Não se sabe até onde vai a censura ao rádio e à tevê no Brasil em tempo de eleição. Mas é de supor-se que não alcance preocupações de ordem semântica como a de se perguntas se não deveria haver maneira de distinguir entre pequenos e grandes ladrões.
Não é mera questão de palavras. Ouçam:
“Não são só ladrões os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem se atribuem o governo das províncias ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força roubam e despojam os povos.
“Os ladrões pequenos roubam um homem, os grandes gatunos roubam cidades e países”. Os ladrões pequenos furtam por sua conta e risco; os grandes gatunos roubam sem temer perigo.
“Os pequenos ladrões, se furtam, são enforcados; os grandes gatunos além de furtar, enforcam os pequenos”.
Como se diz nos filmes de cinema, qualquer coincidência é mera semelhança. Ou o contrário: qualquer semelhança é mera coincidência.
Tanto faz como tanto fez. Não se precipitem, não tirem conclusões apressadas os censores e patrulheiros ideológicos de plantão. O que acabou de ser lido é trecho do Sermão do Bom Ladrão (*), pronunciado pelo padre Antônio Vieira em 1665, há 341 anos.
Só se espera que a censura ao rádio e à tevê no Brasil não alcance o Padre Vieira.
Era só o que faltava.

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