quarta-feira, 26 de julho de 2006

Os escribas de Ramsés III - Jayme Copstein

Há mais curiosidade do que expectativa sobre o que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai fazer com o projeto de lei que amplia de 11 para 23 as funções de jornalista com exigência de diploma. Vetará ou não, no todo ou só em parte a nova tentativa de restringir a liberdade de a opinião no Brasil?
O presidente está pisando em ovos porque, às vésperas das eleições, sua decisão, seja qual for, tem custo político. Pouco importa, entretanto: o projeto, elaborado pela Federação Nacional dos Jornal é tão mal escrito – o que aliás não recomenda jornalistas – é tão manifestamente inconstitucional que não resistirá a qualquer contestação na Justiça. Aliás, é a própria ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef quem reconhece: “O governo acha que, em várias partes, o projeto tem problemas sérios de ilegalidade”, ela afirmou. O Ministério da Justiça recomendou o veto integral.
Não se precisa mais do que bom-senso para se perceber os absurdos pretendidos pelo projeto. Já não se pergunta para que um fotógrafo ou cinegrafista necessitam da formação de um “canetinha”, como eles chamam os repórteres que colhem a notícia e redigem a matéria. Vamos nos fixar nos colunistas, profissionais especializados que abordam temas específicos de medicina, direito, economia e por aí afora. A exigência de um curso de jornalismo para um médico divulgar pela mídia temas de saúde equivale à exigência de curso de medicina a jornalistas que queiram tratar do assunto. Ou então, curso de educação física para os que queiram comentar futebol, vôlei, qualquer outro esporte.
Apresentei este argumento a um colega entusiasmado com a pretendida regulamentação. Ele contrapôs: “Não, será assim - o médico dita para um jornalista escrever a matéria”. Eu o divisei com uma pena de íbis na mão, desenhando hieróglifos em pedaços de pergaminho. Ele ficaria muito bonitinho, fantasiado de escriba egípcio.

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