terça-feira, 10 de março de 2009

Crime e militância - Jayme Copstein

Discordo do tratamento que alguns colegas deram ao cidadão que anteontem, em Porto Alegre, manteve o presidente da Corsan (Companhia Riograndense de Saneamento) e dois assessores sob a mira de um revólver, para receber mais de 180 mil reais devidos por serviços prestados.

Durante todo o tempo da cobertura jornalística, houve colegas chamando o homem e a sobrinha, por sinal, sua contadora, de criminosos. Com toda a certeza, crime eles cometeram: extorsão mediante ameaça e porte não autorizado de arma.

O problema está na diferença de tratamento, quando se chama de militantes os assassinos de quatro seguranças de uma fazenda em Pernambuco, apenas porque filiados ao MST, ou às mulheres da Via Campesina que, sob ameaça de foices e enxadas, imobilizaram seguranças e destruíram patrimônio de empresas privadas aqui no Rio Grande do Sul.

Não se consegue perceber qual o elo entre o vandalismo da Via Campesina e a luta da mulher por seus direitos civis. Como também é impossível entender o patuá do ministro Tarso Genro, qualificando apenas de “arrojo” a violência dos invasores do MST.

Mesmo que o Estado brasileiro tenha se demitido de vez de suas atribuições constitucionais e ingressado no “cada um por si” e no “salve-se quem puder”.

Merecem até mais condescendência: ao mesmo tempo em que caloteia seus fornecedores e prestadores de serviços, a Corsan comemora o que sua administração chamou de “lucro” com festa no Palácio Piratini. Ora, se sobrou dinheiro em caixa e há dívidas para pagar, a pergunta é lógica: até que ponto o calote das dívidas engordou o lucro da empresa e financiou a comemoração?

A Corsan alega dúvidas sobre algumas notas fiscais apresentadas pelo prestador de serviço. O exame da suposta irregularidade se prolonga desde 2008. O que há de tão suspeito em uma nota fiscal que não possa ser apurado em 10 dias, 15 dias, um mês que seja. Se o Poder Público tem o direito de suspeitar do cidadão, a recíproca cabe ao cidadão: ele também pode suspeitar da demora de liberar ou de lhe negar o pagamento.

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