O presidente Luiz Lula da Silva, cuja informalidade encanta os adeptos, indigna os opositores e diverte a quem já aprendeu a não levar a sério a política brasileira, algumas vezes comete excessos censuráveis.
Ontem, em entrevista conjunta com o primeiro-ministro britânico Gordon Brown, ora em visita ao país, atribuiu a “gente branca e de olhos azuis” a responsabilidade pela crise mundial.
Lula completou o disparate, dizendo que não conhece banqueiros negros ou índios, em uma visão limitada que não é verdadeira nem mesmo em relação ao Brasil e mostra ignorância do sólido sistema financeiros das comunidades negras e indígenas norte-americanas.
É apenas um exemplo. Basta uma pesquisa na Internet para localizar bancos nacionais na África, na Ásia, Oceania, em qualquer país do mundo. Em janeiro deste ano, os ministros das Finanças dos países africanos reuniram-se para estudar a criação do Banco Africano de Negócios, com sede na Líbia, e aqui já temos outro exemplo.
O presidente está procurando é chifre em cabeça de cavalo para desviar a atenção de um tema desconfortável, ao qual jamais se refere – o esbanjamento do seu governo nos anos de vacas gordas, facilmente verificável no aumento da despesa pública, sem que os investimentos essenciais em educação, pesquisa, infra-estrutura e segurança tenham chamado atenção. Teria sido o caminho para criar uma economia minimamente independente, menos vulnerável, não de todo, claro, diante de um mundo globalizado.
No tempo em que dispunha de um Judas para apedrejar diariamente, fosse ou não sábado de Aleluia, Lula se lavava na “crise do Bush”, somando aos desastres bélicos do norte-americano a responsabilidade das falcatruas dos banqueiros de Wall Street, como se ele, Lula, pudesse ser acusado pessoalmente pelas diabruras de Daniel Dantas.
Escapa a esse raciocínio, de atribuir a fantasmas a culpa de nossos pecados, é que o resto do mundo é dependentes da prosperidade norte-americana. Faltou riqueza nos Estados Unidos, faltou no resto do mundo. Não é a primeira vez que acontece – a quebra da Bolsa, em 1930, é uma referência na história das finanças mundiais.
Quem liga a tevê, o rádio, lê jornais ou acessa a Internet, é soterrado em um terremoto de informações pseudoeruditas, seja das autoridades para esconder sua imprudência, seja de analistas improvisados para dissimular a incompetência. Outra pesquisa fácil na Internet mostra que o principal produto de exportação de muitos países é a mão-de-obra.
De novo, ficando em um exemplo, os trabalhadores etíopes nos Estados Unidos remetem anualmente para seus familiares em torno de um bilhão e 200 milhões de dólares, constituindo-se na principal e significativa fonte de divisas para o país.
Todavia, enquanto o presidente, sem que a sua assessoria lhe forneça esses dados para preservá-lo, protagonizava a cenas de mau gosto, no Senado – Comissão de Assuntos Sociais – em reunião presidida pelo senador gaúcho Paulo Paim, o IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas) apresentava novo indicador, o IQD (Índice de Qualidade do Desenvolvimento), considerando dados de produção setorial, massa salarial, confiança dos empresários, investimento estrangeiro, exportações, meio ambiente, pobreza, mobilidade social, desigualdade de renda, desemprego e ocupação formal.
Pelo que foi dito ali, deduz-se que, não arrefecendo a crise mundial, em maio, o Brasil começa a regredir, perdendo as conquistas duramente havidas nos últimos 15 anos. É no que dá quando se desvia o olhar do bem nação para focá-lo exclusivamente nas benesses do poder.
quinta-feira, 26 de março de 2009
Os chifres do cavalo - Jayme Copstein
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