quarta-feira, 4 de março de 2009

Das ditaduras - Jayme Copstein

Polêmica da Folha de São Paulo com seus leitores pôs em evidência a paixão e a consequente irracionalidade com que tudo é discutido no Brasil. Analisando as acrobacias políticas de Hugo Cháves para se perpetuar na presidência da Venezuela, o editorialista se deixou capturar em uma armadilha semântica ao comparar ditaduras latino-americanas dos anos 60 e 70 do século passado e qualificá-las em mais ou menos brandas, de acordo com o número de assassinatos por elas praticados.

Não há diferença entre o assassinato do brasileiro Manoel Elias e de russos, chilenos, cubanos, espanhóis, alemães, italianos, gregos, enfim, de dissidentes das ditaduras de todos os matizes ideológicos – e até sem nenhum disfarce para o exercício do banditismo. Pouco importa que esta tenha trucidado 10 pessoas e aquela outra, 10 mil pessoas. Crime tudo é, seja qual for o pretexto, com a agravante de ter vitimado pessoas indefesas.

Chamou-me a atenção, entretanto, artigo de Fernando de Barros e Silva, um dos editores da Folha de São Paulo, ressalvando que a “esquerda armada” brasileira era menos organizada que a chilena ou a argentina e por isso foi dizimada com mais facilidade. Pode ser, também, que as Forças Armadas brasileiras fossem mais organizadas que suas congêneres chilena ou argentina, mas o dado traz ao debate algo até agora só afirmado pelo historiador Hélio Silva, em seu “1964 – golpe ou contragolpe?”. Não que isso possa atenuar a gravidade dos crimes cometidos nos cárceres das ditaduras latino-americanas, mas convida à reflexão sobre o que aconteceu naquela época. Atrás dessa história, há menos santos do que se quer fazer crer.

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