sexta-feira, 6 de março de 2009

Velhas cantigas - Jayme Copstein

“As pressões que o PMDB, capitaneado por José Sarney, Renan Calheiros, Michel Temer e outros menos votados, ameaçam desembocar em crise política. É estranho, tanto a vocação do sr. José Sarney, que parece estar sempre em qualquer rampa por onde a vida do país deslize para o atraso, quanto o poder que ele detém dentro do parlamento, a ponto de tornar refém o governo da República. Ocupado com as tricas e futricas do apoio deste PMDB, descaradamente na base do toma lá, dá cá, o governo do sr. Luiz Inácio Lula da Silva parece imobilizado e estático, e com isso descontentando outros aliados, à espera do cumprimento de promessas, utilizadas como engodo para mantê-los bem comportados”.

Sabem de quem é este texto? Deste colunista. Foi escrito em 14 de janeiro de 2004 e é reproduzido agora porque o leitor Mário Borba, de Porto Alegre, pergunta por que ele não tem se ocupado com mais profundidade do fandango em que os personagens citados transformaram a vida pública brasileira.

A razão é simples: estar falando como se pregasse no deserto. Em janeiro de 2008, em comentário de estreia na Rádio Pampa, falei a Marne Barcelos que, se pegasse tudo o que já havia escrito sobre a malandragem e corrupção na política, bastaria substituir os que morreram por outros “vivos”. O resto poderia ficar tal como foi redigido, palavras por palavra, vírgula por vírgula.

Confesso que há exagero nessa afirmativa. Passados cinco anos desse comentário, sequer o nome dos “vivos” é necessário mudar.

“Em nome do bom senso e para preservar vidas inocentes é necessário que se contenham malucos messiânicos, do tipo João Pedro Stédile, ou Bruno Maranhão. Faça-se com urgência, antes que ocorra uma tragédia semelhante ou até pior que a de Carajás, quando a irresponsabilidade criminosa de líderes do MST jogou uma massa de pobres coitados conta a Polícia Militar”.

O texto (“Antes que seja tarde”) é de 2006. Acrescente-se apenas que militantes do MST assassinaram quatro seguranças de uma fazenda em Pernambuco.

Poderia seguir nesta trilha até o infinito. Nunca contei quantos comentários escrevi sobre a política brasileira, mas apenas reproduzo o parágrafo final de “O comício dos deserdados”, de 2005:

“A sociedade brasileira é permanente exercício de hipocrisia dissimulado na eloquência de um comício de deserdados. Eles são convocados para bloquear estradas, fechar ruas, destruir patrimônio público, gritar palavras de ordem e ouvir discursos de privilegiados – o advogado, o médico, o jornalista, o juiz, o dentista, o economista, o empresário, o contabilista, o burocrata, o artista da novela, as senhoras do chá das cinco, os jovens dos bares da moda. Os deserdados continuam cada vez mais deserdados”.

Que mais se pode dizer?

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