segunda-feira, 23 de março de 2009

A hora do basta - Jayme Copstein

Com o Poder Público agindo como se o país inteiro fosse feudo de políticos corruptos, que nenhuma satisfação devem a quem quer que seja, chegamos à fronteira da abjeção: ou exigimos clareza da classe política, com punição exemplar aos ladrões, ou só nos restar rasgar a Declaração de Independência e nos conformarmos com a condição de mero covil. Não há mais o que debater.

A cada fim de semana, dezenas de milhares de torcedores enchem os estádios de futebol de todo o país. Não se consegue a décima parte para montar protesto nas cidades brasileiras, sob a forma de comícios, cartazes, panelaços, mensagens pela internet, enfim para dizer que chegou a hora do “Basta!”.

Todavia são de estarrecer os números revelados pelo portal eletrônico “Contas Abertas” (http://contasabertas.uol.com.br), dos quais vamos valem como exemplo os “gastos” do Senado.

Examinem esses números. Quem puder permanecer calado, parabéns – merece os políticos que tem. Talvez, quem sabe, consiga ingressar na confraria.

Em 2007, as despesas do Senado, só com pessoal, somaram 2 bilhões mais cem milhões de reais. Em 2008, com a crise internacional se avolumando, o país cortando investimentos, a despesa cresceu 200 milhões de reais (valor equivalente bem mais do que um milhão de sacos de milho) – somou para R$ 2 bilhões, 300 milhões.

Onde vai tanto dinheiro? Cada “diretor” do Senado – são 181 no total – recebe, em média, 20 mil reais por mês. Completam a folha de pagamento 3500 servidores efetivos, 3000 assessores (cargos de confiança) e 1800 funcionários terceirizados. Ou seja, 102 funcionários por senador. Entre os cargos de confiança, até amantes de políticos já falecidos encontram osso para chupar o tutano.

Só em bufês – coquetéis e salgadinhos – a conta somou 230 mil reais. É de forrar estômago de dinossauro. Rasgar dinheiro deve ser uma das solenidades nas comemorações do Senado – 369.800 reais só para promovê-las.

Em cópias xerográficas, mais 3 milhões, 800 mil reais. O que não exclui também que os Pais da Pátria sejam os mais bem informados do planeta – um milhão e meio de reais para assinaturas de jornais e revistas – e que não se trumbicam porque muito se comunicam: 11 milhões e 100 mil reais em telefonia.

Viagens também são rubrica importante no orçamento do Senado: Entre 2007 e 2008, foram gastos 49 milhões e 400 mil reais na compra de passagens ou despesas de locomoção. Só as viagens internacionais consumiram 3 milhões e 900 mil reais em passagens.

E há a caixa preta, rotulada de despesas médico-hospitalares e odontológicas, pagos a hospitais e clínicas famosas no país: quase 60 milhões de reais em 2008. Sob pretexto de preservar a privacidade dos beneficiados, não são especificados os serviços que consumiram esta montanha de dinheiro. Tem muito silicone de madame, balançando ao vento, às custas do contribuinte.

Por aí afora. Esta é a hora, portanto, de se dizer: “Basta!”.

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