É difícil entender o gesto de cinco vereadores de Porto Alegre – quatro PTB, um do PMDB – devolvendo à psicóloga Sônia Sebenelo o livro que escreveu sobre “Gênero e Poder”, durante sessão de pré-lançamento na Câmara Municipal.
Discordando do termo “ex-ladra” usado pela autora para relatar a comovedora história de vida de Teresa Franco, a “Nega Diaba”, emergida da marginalidade, como exemplo da luta da mulher por um lugar ao sol, os edis decidiram marcar posição através de gesto descortês na aparência, porém uma agressão à liberdade de pensamento na essência.
Teresa Franco, em cujo currículo se inclui mandato de vereadora já quase no final da vida, registrou em declarações à imprensa, as atribulações de seu passado de prostituição, furtos e drogas, relato ao qual acrescentava a fantasia de ter sido a primeira traficante mulher de Porto Alegre.
A discordância dos vereadores centrou-se na expressão “ex-ladra”, usada por Sônia Sebenelo ao relatar no livro a trajetória de Nega Diaba. Queriam “ex-batedora de carteiras”, entendendo haver entre as duas expressões uma diferença cuja sutileza só está ao alcance de intelectos mais privilegiados.
Não é, porém, a discordância o ponto central. É a descortesia do gesto, o de devolver o livro à autora em plena sessão da qual eram, como seus pares, os anfitriões. A grosseria transforma veemência, direito do debatedor, em violência para coagir o antagonista ao silêncio. É incompatível com um legislativo, o altar onde a chama da liberdade se mantém acesa, mesmo nos piores tempos quando se refugia no aconchego dos mártires.
É com gestos assim que começam as ditaduras. Hoje se impõe o que pode e não pode ser escrito. Amanhã, o que pode ser e não pode ser votado na Câmara Municipal, na Assembléia Legislativa ou no Congresso. Depois de amanhã, o que cada de um nós deve pensar e dizer em honra do Guia dos Povos. .
segunda-feira, 16 de março de 2009
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