Bibi Netanyahu é o homem forte no atual quadro político de Israel. Não existe nenhuma outra liderança com a experiência dele. Tzipi Livni que assumiu a liderança do Kadima em eleições primárias intrapartidárias, não tem nem o carisma nem currículo para competir com ele.
O Kadima, partido criado para ocupar o centro político, perdeu sua oportunidade com a doença do único líder ativo, com origens nas lutas que resultaram na criação do Estado, Sharon, herói de todas as guerras. Ele se afastou da direita com algum plano que não teve oportunidade de realizar.
Grande estimulador da construção das colônias em territórios ocupados, dava mostras do que imaginava ser um esquema possível de paz, com concessões aceitáveis. Era um líder temido. Sabia impor suas ideias.
Sharon tinha liderança forte. Era chamado de buldogue, Não largava o osso. Não respeitava regras. Sofreu um problema neurológico e passou a ter vida vegetativa. Dorme há anos mantido por máquinas.
Bibi nasceu em Tel Aviv, em 1949, cresceu em .Jerusalém e fez os anos do secundário nos Estados Unidos onde seu pai, Benzion, ligado ao revisionismo, campo político da direita, ensinava numa universidade. Em 1967 voltou a Israel para cumprir seu serviço militar obrigatório.E optou como voluntário por uma unidade de elite. Participou de varias ações de alto risco. Capitão, foi ferido em uma delas.
Com seis anos de quartel, os últimos numa unidade comandada por Ehud Barak, o mais condecorado soldado da historia israelense, Bibi foi ferido e desligado do serviço ativo.Tem uma historia de guerras e condecorações.
Fora do quartel, foi realizar estudos superiores na M.I.T, uma das mais conceituadas universidades americanas. Graduou-se em arquitetura, obteve mestrado em Ciências de Administração, estudou ciência política na Universidade de Harvard.
Em 1979 iniciou e organizou uma conferência internacional sobre terrorismos, patrocinada pelo Jonathan Institute instituído em homenagem a seu irmão Jonathan, comandante e único morto na Operação Entebe. Grandes nomes participaram. Há quem afirme que as recomendações da conferência levaram a mudanças da política dos Estados Unidos no confronto com o terrorismo.
Logo depois, Bibi foi nomeado o número dois na embaixada israelense em Washington e, em seguida, embaixador junto as Nações Unidas. De volta a Israel foi eleito para o Parlamento. Em 1991 foi designado interlocutor de negociações de paz com Síria, Líbano e também de uma delegação mista Jordano-palestina que fracassou.
Em 1993, eleito líder do Likud, partido direitista, em maio tornou-se primeiro ministro.Nesta condição, negociou acordos com os palestinos pelos quais entregou a eles a administração de várias cidades.Tinha prometido mais se os palestinos suspendessem, como prometiam, as operações de terrorismo. Eles não o fizeram e as conversas foram suspensas.
Num disputa eleitoral, em 1999, foi derrotado por Barak, cujo governo seria derrubado por Sharon que foi derrubado pela doença. Como ministro das Finanças de Sharon promoveu a reforma econômica, firmando a aplicação dos princípios do livre mercado. Em eleições de 2009, foi novamente eleito primeiro ministro, formou um gabinete com predomínio da direita. Em Israel todos os governos são de coligação. Em 62 anos de existência partido algum jamais conseguiu maioria absoluta.
O Ministério resulta de complicadas negociações que terminam em compromissos por escrito entre o chefe do governo e os partidos. Raros governos completam seus mandatos. São derrubados pela insatisfação de coligados. Mas as atuais Oposições são muito fracas. Os partidos coligados sabem que a queda de Bibi implicaria na ascensão de Tzipi Livni, líder do centrista Kadima, cujo programa é o oposto daquele do Likud de Bibi e partidos coligados. Não querem Livni inclusive porque a situação israelense exige um pulso forte e nervos de aço. Não existe sequer a segurança absoluta de apoio americano a Israel.
As negociações indiretas de paz entre o governo Netanyahu e o governo palestino de Abu Mazen não avançam com a velocidade desejada por Obama que tinha convidado Bibi a um encontro com ele na Casa Branca. Netanyahu fora antes ao Canadá. Suspendeu o encontro com Obama. Aconteceu o choque no Marmara, navio de bandeira turca transportando carga e gente tentando romper o bloqueio a Gaza. Houve as mortes e feridos e as piores reações contra Israel.
É tudo explicado em versões majoritariamente contrárias a Israel e minoritariamente favoráveis. Só uma investigação por uma comissão de indivíduos do mais alto conceito poderá se aproximar da verdade. Existem varias sugestões sobre a composição da comissão. Ainda não existe uma decisão. E a cada dia piora a imagem internacional do Estado judeu,
O chefe do governo Netanyahu e o ministro da Defesa Ehud Barak são velhos amigos. Foram os que ordenaram a operação. Um é o líder inconteste do Likud direitista, o outro, o líder do Partido Trabalhista supostamente da esquerda.
As consequências da operação ainda estão em andamento, mas a derrota face à opinião publica, em grande parte devido ao noticiário, é inegável. É uma derrota do governo Bibi. É também uma derrota de Israel.
(*) Nahum Sirotsky é correspondente de Zero Hora no Oriente Médio e colunista do portal "Último Segundo".
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