terça-feira, 22 de junho de 2010

A bola de dona Fátima – Jayme Copstein

Quando ouvi no noticiário que a "FIFA havia decidido não punir o técnico Dunga por ofensas a um jornalista", convenci-me de que há algo muito apodrecido neste reino que não é da Dinamarca. A informação é uma fraude: a FIFA não tem nenhum tipo de poder ou autoridade para regular as relações de atletas, juízes, auxiliares, técnicos, massagistas, enfim, dos protagonistas de suas atividades esportivas com quem delas não participe, como os jornalistas ou os vendedores de cachorro quente.

Ambos são elementos marginais às competições. Aos vendedores de cachorro quente cabe aplacar a sede e a fome dos torcedores; aos jornalistas, somente colher a informação para transmitir ao público.

Se dos vendedores de cachorro quente se exige, sob pena de cadeia, cuidados de higiene para não intoxicarem seus consumidores, dos jornalistas cobra-se veracidade no que informam, para não envenenarem a opinião pública. Pena que não há cadeia quando infringem a regra.

O que se pôde ver, mesmo depois de o vídeo ser desonestamente editado, foi o repórter da Globo tentando perturbar a entrevista que Dunga concedia, após a vitória contra Costa do Marfim. Se a fraude mais recente, a notícia de que a "FIFA havia decidido não punir o técnico Dunga por ofensas a um jornalista", tivesse procedência, estaríamos diante de uma situação idêntica a dos Tribunais da Inquisição, onde tudo podia ser assacado gratuitamente contra quem quer que seja por autoinvestidos representantes da divindade. Os jornalistas poderiam fazer o que lhes desse na telha, por estarem protegidos pela mesma imunidade – ou impunidade – que todos criticamos nos bandoleiros do Congresso.

Aliás, a arrogância e a truculência, fruto deste sentimento de onipotência são a origem do tumulto que se armou na África do Sul e que não terá maiores consequência graças à liderança firme de Dunga.

A senhora Fátima Bernardes, que apresenta um informativo na Rede Globo com seu marido William Bonner apresentou-se na concentração brasileira, acompanhado da equipe, para uma entrevista exclusiva com os jogadores da seleção. Dunga , mesmo sob ameaça de queixa ao "dono da bola", Ricardo Teixeira, recusou: "Me desculpe, minha senhora, mas aqui não tem essa de 'reportagem exclusiva' para a rede Globo. Ou a gente fala pra todas as emissoras de TV ou não fala pra nenhuma..."

Zangada, dona Fátima decidiu declarar a guerra. Terá ela confundido ficção e realidade e tentado encarnar alguma versão televisiva de madrasta de Branca de Neve para convencer o seu espelho nada mágico que é a mulher mais poderosa do país?

Se foi isso, que bola fora...

Ditos e achados

João Saldanha, desfazendo mitos, entrevistado em 1983 por Geneton Moraes Neto (www.geneton.com.br e http://colunas.g1.com.br): "É bom que o brasileiro saiba que ele não é absoluto. É bom que o brasileiro saiba que lá fora há times tão bons quanto os nossos – e às vezes melhores. É bom que o brasileiro saiba que a Europa se atrasou perante nós por causa de uma guerra que dizimou quase toda a juventude entre 15 e 45 anos. Isso não se refaz com decreto-lei nem com planos quinquenais. É preciso esperar que nasçam outros, formem-se e reaprendam".

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