quinta-feira, 3 de junho de 2010

O sol dos trópicos – Jayme Copstein

Como as pegadinhas andam na moda, não pude conter o riso ao ler sobre a que foi aplicada em colonos alemães na década de 1850, segundo notícia do jornal "Gazeta da Tarde", de 18 de junho de 1888 e transcrita pelo "Almanak do Rio Grande do Sul", de Alfredo Ferreira Rodrigues, edição de 1900.

Havia chegado uma leva desses imigrantes à cidade de Santa Cruz, e e eles se surpreenderam ao serem cumprimentados com grande intimidade e em alemão, por um negro. Desconfiados, porque nunca tinham visto aquilo, os colonos perguntaram-lhe se, por acaso, era patrício.

O negro respondeu que sim. Que quando havia chegado, há alguns anos, tinha a pele clara e os cabelos louros como eles. Mas como o sol destas paragens era muito forte, queimava a pele, tornando-a escura e torrava os cabelos, encarapinhando-os.

Foi um Deus nos acuda. Os colonos entraram em pânico e começaram a exigir a imediata viagem de volta. Foi um caro custo acalmá-los, até alguém conseguir explicar que o "alemão preto" era um ex-escravo, de nome Manoel Germano, muito brincalhão, famoso pelas peças que pregava em todo o mundo.

Manoel fora criado pelos Klingelhoefer e com eles aprendera o idioma, falado com sotaque igual ao dos colonos, pois a família provinha da mesma região da Alemanha.

Quando morreu em 16 de junho de 1888, um mês depois da Abolição, Manoel era pedreiro. Provavelmente fora emancipado ao tempo da Revolução Farroupilha, pois a notícia de sua morte, publicada pelo jornal Gazeta da Tarde, dois dias depois, assinalava ter servido aos farrapos com os Klingelhoefer que, por sinal, foram mortos pelas tropas imperiais.

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