domingo, 27 de junho de 2010

Da visão de Lula à miopia de Pelé – Jayme Copstein

O leitor Paulo Renato contesta: "Em sua coluna (O Cipó da Ford, 3 de junho) o senhor opina que a Ford decidiu se instalar na Bahia e não no Rio Grande do Sul conforme o contrato que assinara (e pelo qual já havia recebido dezenas de milhões de reais do governo gaúcho, por isso foi condenada a ressarcir o erário) por culpa do então governador Olívio Dutra, sem interferência alguma do governo federal.
Sem desconsiderar a imensa inabilidade política da gestão petista, não podemos esconder o fato que houve interferência direta do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso – naturalmente, após a derrota de Antônio Brito – através da medida provisória 1740, de 02/06/1999, convertida posteriormente na lei 9808, o que possibilitou a Ford descumprir o contrato e decidir se instalar na Bahia".

Resposta: Se não dá para desconsiderar a "imensa inabilidade política da gestão petista", então todo o resto é mera consequência, a não ser que se quisesse mandar a Ford embora do Brasil. Isso o então Presidente Fernando Henrique Cardoso não queria. Além do mais, pouco tempo depois, a decisão do então Governador Olívio Dutra teve aplauso público do futuro Presidente Lula, em pronunciamento na Federasul. A visão que ambos tinham do tema era esta.

Já Ademar Romeiro Medeiros Netto discorda de A bola do filósofo (25 de junho): "(...)João Saldanha não deixou a seleção pronta para a Copa de 1970 na preparação da seleção. Uma de suas aleivosias foi a de declarar que o Pelé estava com miopia e teria dificuldade para jogar. Quem preparou a seleção, quer queiramos ou não, foi Zagalo,  e por isso temos que engoli-lo até hoje."

Resposta: Quando João Saldanha foi alijado, dias antes do embarque para o México, a equipe já estava pronta e treinada, e livre dos medalhões que tinham protagonizado o vexame de 1966 na Suíça. A sua demissão Saldanha nada teve a ver com a sugestão do General Médici, de convocar Dario, e não foi ordenada pelos militares, como tem sido dito. Resultou de campanha liderada pelo rival Yustrich, que queria o posto. Saldanha formara a Seleção apenas com base no Botafogo e no Santos, onde estavam os melhores jogadores, contrariando óbvios interesses.

Quanto à miopia de Pelé, em entrevista a Geneton Moraes Netto (http://tinyurl.com/2cbh4wu) Saldanha nega que tinha afirmado aquilo: "(...) Aquela história deve ter surgido dentro do SNI. Quem tinha problema de vista na seleção era Tostão e, ainda assim, fiz Tostão ser convocado à força (...) porque sabia que na operação de Tostão havia mais charlatanismo e publicidade do que propriamente uma lesão. Quanto a Pelé, não tive nenhum problema. (...) Nunca fiz um pronunciamento daqueles sobre a vista de Pelé por duas razões. Uma é que seria injusto: sou leigo e não entendo. Nós só tínhamos uma preocupação quanto à boa visão: com os goleiros. Dos goleiros, a gente exige que tenham uma visão igual aos exames que são feitos com os aeronavegadores, os pilotos de aviação. Quanto aos demais jogadores, o campo visual é tão vasto que nós nunca nos preocupamos. O importante é que enxerguem a bola. E Pelé enxergava! A segunda razão é que não sou burro. Se eu vejo o cara jogar e ser o melhor jogador do mundo, eu vou dizer "não"? A onda não era em cima de mim: era em cima de Pelé. Eu e Pelé já conversamos sobre essa coisa e rimos."

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