quarta-feira, 9 de junho de 2010

A dança dos famosos – Carlos Brickmann (*)

A partir de agora, entretanto, a campanha esfria um pouco: é a hora da Copa. No fim do mês, vem a festa junina promovida pelo casal Lula-Mariza Letícia, na Granja do Torto. A festa dá pouco trabalho: cada convidado leva um prato típico. E, em Brasília, formar a quadrilha não chega a ser muito difícil.

Foi constrangedor: o candidato José Serra, mal-humorado, de gênio difícil, impaciente, precisou dançar algo chamado "Ah, Moleque", para atender a pedido da humorista Sabrina Sato - a mesma que fez o senador Eduardo Suplicy vestir uma cueca vermelha por cima do terno para imitar o Super-Homem.

Foi constrangedor: a candidata Dilma Rousseff, exausta de tantos compromissos de campanha - sabatina na Folha Serrana de Xiririca do Alto, palestra na União dos Plantadores de Frutas Exóticas, inauguração da ideia de construção de uma maquete da pedra fundamental do Obelisco Bolivariano de Carreiral - trocou o nome de uma de suas principais aliadas, e chamou-a de Márcia Suplicy.

Estamos chegando ao ponto principal de um longo processo, em que cada corrente política do país escolheu uma pessoa de prestígio e capacidade para representá-la; uma dessas pessoas receberá o encargo de dirigir um país cheio de problemas, mas com enorme potencial, nos próximos quatro anos. E essas pessoas, escolhidas entre as notáveis, entre as melhores de cada corrente política, passam a representar papéis que para elas nada significam, apenas para mostrar que também podem ser ridículos.

A campanha, uma caminhada pelo país, passa a não ter utilidade para os candidatos: em vez de assistir pessoalmente ao dia a dia e aos problemas da população, passam a preparar-se para resistir a maratonas antinaturais, a comer coisas exóticas (e malfeitas) a exibir seus parcos dotes humorísticos, a dançar músicas que em situações normais jamais ouviriam. Não é por aí.

Avancê!
A partir de agora, entretanto, a campanha esfria um pouco: é a hora da Copa. No fim do mês, vem a festa junina promovida pelo casal Lula-Mariza Letícia, na Granja do Torto. A festa dá pouco trabalho: cada convidado leva um prato típico. E, em Brasília, formar a quadrilha não chega a ser muito difícil.

Ah, Brasília!

Lembra do escândalo do Senado (um deles: aquele do excesso de funcionários)? Pois é, deu demissões, valeu a contratação de consultores para planejar o enxugamento da máquina, etc., etc.

Como o tempo já passou, tudo começou de novo: o Senado acaba de contratar empresas que terceirizarão o serviço de arrumação, cozinha, copa, e oferecerão garçons, jornalistas (ou melhor, "pessoal de comunicação social"), além de cuidar de serviços administrativos. Em bom português, são R$ 72 milhões por ano a mais.

Quase um milhão de gasto extra, diretamente do bolso de cada um dos leitores para cada um dos 81 senadores.

Ah, sim, as despesas novas não ficam só nisso: a mesma consultoria que fez o plano anterior de redução de gastos de pessoal foi contratada de novo, com o mesmo objetivo, naturalmente cobrando de novo, com a devida correção.

Fogo amigo

Como não disse Geraldo Vandré, é só para não dizer que não falamos do dossiê. Tudo indica que José Serra, embora seja o protagonista do dossiê, não seria seu alvo: o alvo era a própria equipe que produziu o dossiê, talvez induzida por inimigos de dentro do partido que, mais tarde, alegaram que a iniciativa era inaceitável, condenável e ineficaz, e que seus produtores deveriam cair fora da campanha. Vitória total: os produtores caíram fora. E o chefe de sua ala, Fernando Pimentel, candidato ao Senado por Minas, também balança na campanha: deve receber passe livre para dedicar-se só à sua candidatura. Neste momento, a equipe que toca o barco de Dilma é a que gira em torno de Marta Suplicy.

Fogo inimigo

Quanto a Serra, aparentemente aproveitou a oportunidade: já que havia um dossiê contra ele, denunciou-o, de um lado para colocar-se como vítima, de outro para desqualificá-lo, se trouxesse novidades. O tema continuará em debate por mais algum tempo, até que a Copa o esfrie de vez. Depois da Copa, se alguém quiser reavivar o debate, terá de apresentar novos fatos - talvez o lançamento do livro que engloba todas as acusações contra Serra e parentes.

A greve, sim e não

O STJ, Superior Tribunal de Justiça, determinou que a Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público da União mantenham em atividade, durante sua greve, pelo menos 60% dos trabalhadores. Caso a determinação não seja cumprida, haverá multa de R$ 100 mil por dia de desobediência.

Tudo muito bom, tudo muito bem, mas até agora os sindicatos que não cumpriram decisões judiciais conseguiram evitar o pagamento das multas. Se o próprio presidente da República debocha das multas que a Justiça lhe impôs, que esperar de um sindicato numa hora de radicalização?

(*) Carlos Brickmann, colunista do Observatório da Imprensa, do Diário do Grande ABC, antigo editor-chefe da Folha de São Paulo, é dono de invejável currículo no jornalismo brasileiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário