quinta-feira, 10 de junho de 2010

Notas breves para uma história da corrupção – Jayme Copstein

Quando começou a corrupção e a impunidade no Brasil? Foram os portugueses que a trouxeram ou ela já estava aqui à espera de devotos que a cultuassem como religião?

Nem uma coisa nem outra. Pero Vaz de Caminha em sua longa carta a El-Rei D. Manoel, o Venturoso, relata uma cena de esperteza mútua, quando descreve um dos dois índios trazido ao navio capitânia, apontando para o colar de ouro no pescoço de Pedro Álvares Cabral e acenando para terra, como se oferecesse ouro por um colar de miçangas que lhe haviam presenteado.

"Isto tomávamos nós nesse sentido, por assim o desejarmos!" – descreve Caminha em sua carta. "Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não queríamos nós entender, por que lho não havíamos de dar!"

Caminha não tinha necessidade de escrever a El-Rei, posto que – palavras dele – "o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que - para o bem contar e falar - o saiba pior que todos fazer!"

Então, por que o fez? Porque, sendo a terra tão "graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo", aproveitou para plantar sua sementinha. Pero Vaz de Caminha ia para Calicut (cidade da Índia. Hoje se chama Kozhikode ) e bem no finzinho da longa missiva pede "singular mercê: "(...) mande vir da ilha de São Tomé a Jorge d'Osouro, meu genro". O qual genro, por acaso, estava preso em São Thomé por ter assaltado uma igreja e espancado o pároco.

Também as frequentes febres de moralização, tipo crime hediondo, ficha limpa, são antigas no país. Luiz Edmundo, em "O Rio de Janeiro do meu tempo", conta que Estácio de Sá, ao fundar a cidade do Rio de Janeiro, quase 400 anos antes do Presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu o jogo, sob pena de rigorosa punição.

De pouco adiantou. Logo se descobriu que os soldados contrabandeavam os baralhos nas ceroulas, antecedendo também em mais de quatro séculos aquele pessoal do PT que andou escondendo dólares nas cuecas. Há de se entender que nem as ditas cujas tinham sido inventadas ainda e faltava muito para os Estados Unidos existirem.

A proibição de Estácio de Sá não durou muito, mas não foi porque ele morreu flechado pelos índios. Em 1606, a Imprensa do Rei de Portugal começou a imprimir baralhos para vender ao povo e ficou ou dito por não dito. Ninguém justificou a "benemerência" com desenvolvimento econômico e criação de empregos porque, naquele tempo, a demagogia era outra.

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