sexta-feira, 4 de junho de 2010

Muito barulho por nada – Carlos Brickmann

Há muitos e muitos anos, um dos mais importantes políticos brasileiros, Carlos Lacerda, dizia que o SNI, o serviço secreto dos Governos militares, às segundas-feiras não enviava seus informes confidenciais às autoridades. Motivo: naquela época, os principais jornais não saíam nas segundas.

O barulhentíssimo caso do dossiê que a equipe de Dilma é acusada de preparar contra seu adversário Serra é mais ou menos isso: o que se falou que consta do tal dossiê é notícia que se acha em jornal velho. Parte está no relatório da CPI do Banestado, de 2006, preparado pelo deputado federal petista José Mentor; parte está em reportagens do hoje blogueiro Ucho Haddad (http://ucho.info/), publicadas em 2002 sob o título geral "A Queridinha do Papai".

Deve haver uma turma da pesada trabalhando com Dilma, como deve haver uma turma da pesada com Serra. De algum lugar saem aquelas bobagens que aparecem na Internet a respeito de Dilma, que estaria proibida de entrar nos Estados Unidos (embora tenha ido lá há poucos dias), ou de Serra, que teria oferecido ao enroladíssimo ex-governador de Brasília José Roberto Arruda a vice de sua chapa (embora até aquele queijo branco light que Serra tanto aprecia soubesse que seu vice favorito seria Aécio Neves). Faz parte do jogo. Mas não funciona.
Os partidos brigam por causa do dossiê, vão à Justiça - e daí? A maior parte dos eleitores usa o jornal não para ler, mas para embrulhar peixe. Ganha quem levar o adversário a se preocupar com bobagens e a perder o foco na campanha.

Por falar nisso

Outro dossiezão está sendo preparado, coincidindo com o início do horário eleitoral gratuito. É uma releitura da CPI do Banestado, de 2006, em que parentes, amigos e supostos amigos de Serra são acusados de remessa ilegal de divisas.

A lei?

As centrais sindicais, mantidas com dinheiro dos assalariados (recebem parte da Contribuição Sindical, um dia de salário de cada trabalhador), gastaram R$ 800 mil para realizar ato público de apoio a Dilma Rousseff e repúdio a José Serra, no estádio do Pacaembu, em São Paulo. Atraíram pouco mais de 20 mil pessoas. Explicar os gastos será complicado: o dinheiro que recebem não é para participar de campanhas eleitorais - até porque os contribuintes compulsórios de seus cofres nem sempre apóiam o candidato preferido dos cartolas das centrais.

Ora, a lei!

Já que o presidente da República não se importa com multas eleitorais, já que as centrais sindicais gastam abertamente o nosso dinheiro em apoio a seu candidato, parece que houve o liberou geral: Marta Suplicy, candidata ao Senado (e forte) pelo PT paulista, usou a festa de aniversário do ex-prefeito de Diadema, José de Filippi, para fazer campanha e pedir votos (o que só será permitido a partir de 5 de julho, segundo a lei). Este colunista acha que a lei é ruim e que a campanha deveria ser permitida a qualquer tempo; mas a lei existe e, até que seja mudada, tem de ser cumprida. Aliás, por que o PT de Marta ainda não a mudou?

Saia justa

Marta, política experimentada, antiga estrela de TV, costuma sair-se bem das mais difíceis situações. Mas nem sempre: há uma semana, visitando a exposição turística Roteiro do Brasil, no Anhembi, SP, uma promoção do Governo federal, passou reto pelo estande paulista - o estande do Estado que ela pretende representar, como senadora. Mas teve a atenção atraída, ali pertinho, por atores vestidos como bandeirantes e nobres portugueses. Um deles, caracterizado de nobre, finíssimo, aproximou-se da candidata, beijou-lhe galantemente a mão, à moda antiga, e disse, relembrando a célebre frase do apagão aéreo: "Ministra, relaxe e goze". Fez-lhe uma elegante reverência e saiu. Marta ficou muda, sem reação.

Brasil antigo

Uma pesquisa preocupante: segundo o DataFolha, mais da metade da população é contra a adoção de crianças por um casal gay. É preocupante por mostrar que boa parte da população prefere deixar a criança num orfanato ou abandonada, sem família, a entregá-la a pessoas cujo comportamento sexual rejeita. É importante notar que a alternativa não é a adoção por um casal heterossexual: é o abandono puro e simples. De qualquer forma, Toni Reis, que lidera uma associação de homossexuais, acha que o resultado foi bom, foi um avanço: "Na Idade Média éramos queimados. Depois, tidos como doentes ou criminosos. Agora, quase metade da população aceita a adoção por gays. É uma ótima notícia".

O famoso major

O PDT paulista insiste no Major Olímpio para vice do petista Aloízio Mercadante. Conhece o Major Olímpio? Não? Que alivio: então não é só este colunista.

Macho e fêmea

O jornalista Xico Sá lança segunda-feira, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, SP, às 18h30, um livro divertidíssimo: Chabadabadá - aventuras e desventuras do macho perdido e da fêmea que se acha. Xico acha que vivemos um tempo de homens frouxos e procura ajudar as mulheres a entendê-los. E, o que é melhor, num texto muito bem-humorado. Dá até para tentar identificar os personagens.

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