sexta-feira, 25 de junho de 2010

Este jogo não foi zero a zero – Jayme Copstein

Com o pedido de desculpas à torcida, Dunga deu por encerrado o incidente provocado por um repórter da Rede Globo, durante a entrevista coletiva que o treinador concedia logo após a partida contra a Costa do Marfim. Saiu maior do episódio que seu antagonista.

Curiosa, porém, foi a reação dos poucos leitores que me honram com sua preferência. Uns me criticaram, outros concordaram comigo, e houve quem me advertisse do perigo de desafiar a Rede Globo ou me alertasse para a ingenuidade de estar favorecendo redes concorrentes.

O que me deixou feliz e orgulhoso foi o nível elevado dessas mensagens, e não se trata de uma "elite" intelectual. Há quem enfrente dificuldades com regras de linguagem, mas nem por isso infringe as normas da civilidade. São poucos os meus leitores, mas são os que desejo ter.

Todavia, essas manifestações e as que li em outros jornais e na Internet me convencem que, por trás do homem cordial, como o historiador Sérgio Buarque de Holanda definia o brasileiro, há um brigão sempre pronto para a guerra. É, porém, tão despreparado para ela que não percebe a importância de vencer a última batalha. Não sabe que todas as demais são mero preparativo para a vitória final.

Digo isso porque, ontem, durante a partida contra Portugal, em todos os canais de tevê só se ouviam críticas à "pelada", à falta de acrobacias circenses e a reclamação sobre a ausência de Robinho que hipoteticamente encheria as redes lusitanas de gols.

Mas quem analisasse a situação do Brasil, já classificado na chave, perceberia que a única hipótese que não interessava à nossa seleção era a vitória. Se quiséssemos forçá-la, os portugueses, a quem a única hipótese que não interessava era a derrota pelo risco de desclassificação, haveriam de vendê-la caro. Seria uma carnificina. Tendo apenas 48 horas pela frente até a partida seguinte, como recuperar a equipe em tão pouco tempo?

Pena que se tem memória curta no país. Na Copa do Mundo de 1954, na Suíça, o Brasil chegou à partida final de seu grupo na mesma situação, após ter derrotado o México (5 a 0) e a França (1 a 0), mas entrou em campo para massacrar os iugoslavos. Os "gringos" faziam sinais desesperados para que nossos jogadores se acalmassem, que ambas as equipes estavam classificadas.

Não houve jeito. O jogo terminou empatado (1 a 1) e também em patadas. Na partida seguinte o Brasil foi eliminado pela Hungria por 4 a 2.

Em compensação, nesta mesma Copa de 1954, quando se enfrentaram pela primeira vez no Grupo, a Alemanha Ocidental levou 8 a 3 da Hungria que andava goleando todo mundo. Ninguém quis linchar o técnico, a honra nacional não foi maculada, porque, na batalha final, a que valia pelo título, a Alemanha ganhou por 3 a 2.

Não entendo de futebol, não sei se o Brasil será campeão do mundo – tudo indica que sim porque o técnico é gaúcho e esta é a tradição. Mas que esse empate de ontem, em 0 a 0, foi passo bem maior na direção do caneco do que se tentássemos fazer 10 a 0, isso foi.

Um comentário:

  1. Estou sempre aquí no blog e não dou pitacos porque não sou nada competente em se tratando de regras de linguagem.
    Gosto muito de suas análises e vibrei ao saber que este jogo não foi zero a zero.
    Um abraço enorme e outros beijos na minha melhor amiga "Luca".
    É sempre um prazer estar aqui e no Newsletter.

    Walkyria/ Belo Horizonte

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