Converso com Nahum Sirotsky, que há muitos anos vive em Israel e é correspondente do jornal "Zero Hora", de Porto Alegre, e do portal Último Segundo, do Centro do País. Nahum tem em seu extenso currículo desde passagens por jornais importantes do mundo, como "The New York Times" à criação de "Senhor", sem dúvida alguma a melhor revista cultural que já se fez no Brasil.
Se eu tivesse de descrever o que há de melhor nele como jornalista, começaria, é claro, pelo talento específico, do qual fazem parte a curiosidade insaciável e a "antena" ou "faro" para perceber os desvãos dos fatos onde a notícia se esconde. Agregaria, também, relações com profissionais da diplomacia que sabem, com meses de antecedência, alguma vezes até anos, o rumo que os acontecimentos estão tomando.
Mas conversava com Nahum, ontem de manhã, seis horas de diferença no fuso horário, ele em Tel Aviv, eu no Bairro Petrópólis, graças ao milagre da Internet. E falamos sobre a Copa do Mundo, se o Michel chutou aquela bola para fazer o gol ou se apenas quis passar e, de "chiripa", acabou marcando. Falei-lhe sobre o "cacete" que a revista alemã "Der Spiegel" está descendo sobre a cabeça de Joseph Sepp Blatter, o presidente da Fifa.
Blatter tem procurado passar imagem de Madre Tereza de Calcutá do Futebol e mostrar seu amor pela África, trazendo a realização da Jules Rimet para a República Sul-Africana, decisão que o Presidente Jaco Zuma qualificou de "voto de confiança da comunidade internacional". A reportagem de "Der Spiegel" publica também o outro lado, o das críticas que acusam Blatter DCE ser um oportunista e de ter modificado as normas para favorecer cumprir promessas eleitorais aos africanos, cujos votos o conduziram e o mantêm na Presidência da Fifa desde 1998.
Nahum me chama a atenção que a Copa desviou o foco do noticiário, dos acontecimentos do Oriente Médio onde prosseguem os desdobramentos. Escapou de todos uma pequena nota, dando conta que o Auditor Geral de Israel, Micha Lindenstrauss, decidiu examinar as ações do Governo para impedir a flotilha de suposta ajuda humanitária de chegar a Gaza, e que isso pode resultar na queda do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pelas trágicas consequências do episódio.
O Auditor Geral de Israel, eleito por sete anos, é independente, só deve satisfações ao Knesset (Parlamento) e tem poderes para analisar qualquer ato do Governo, apurando se foram executados segundo os princípios da ética e da eficiência. Micha Lindenstrauss, no cargo desde 2005, após ter sido Presidente da Corte Suprema, deve decidir se as decisões de Netanyahu e do ministro da Defesa, Ehud Barak, por sinal o mais condecorado militar da historia de Israel, estiveram ou não de acordo com aqueles princípios.
Há precedentes, como o de 1973, quando Golda Meir, pioneira e até agora a primeira e única mulher a governar o país, e Mosche Dayan, o do tapa-olho, o maior herói militar da moderna história israelense, foram responsabilizados, por imprevisão, pelas dificuldades na defesa contra o ataque egípcio. Golda e Dayan perderam prestígio, os cargos (ele era Ministro da Defesa) e foram para casa e para o esquecimento.
O mesmo pode acontecer com Netanyahu e Barak.
Nenhum comentário:
Postar um comentário