sexta-feira, 28 de outubro de 2005

Dirceu e Maluf - Jayme Copstein

O deputado José Dirceu vangloriou-se, dizendo que a decisão do ministro Eros Grau, determinando a confecção de novo relatório era uma advertência à Comissão de Ética da Câmara Federal. É uma afirmação arrogante e grave porque subverte a ordem constitucional, subordinando o Legislativo ao Judiciário, o que nem remotamente passou pela mente do ministro. Ele apenas ordenou a solução de um conflito, sendo duvidoso fosse acatada pelos demais membros do Supremo Tribunal Federal, se submetida a julgamento pleno.
Em contraposição, o deputado Chico Alencar, ex-correligionário de Dirceu, mas ideologicamente afinado com ele expressava a perplexidade da grande maioria do povo brasileiro, em uma frase singela: “Nunca vi ninguém, neste país, ter tanto direito à defesa quanto José Dirceu!”
Tem razão em parte, o deputado Chico Alencar. Também Paulo Maluf nos causa perplexidade por permanecer impune até hoje.
Mas Chico Alencar foi mais preciso na sua análise: “Dirceu está sendo cassado não pelo que representou, mas pelo que deixou de representar", disse, ao justificar o próprio voto, um dos 13 que aprovou o relatório condenando Dirceu.
O tão alegado passado de José Dirceu é um mito, nascido do idealismo da juventude, da urgência que se tem aos 18 anos, de salvar o mundo. Porém, quando a maturidade nos põe em contato com a realidade, todos acabamos constatando que o mundo não vai se perder tão cedo.
Uma minoria finge que não percebe e transforma a profissão de fé em profissão de lucros. Daí resulta o saque do patrimônio público, tenha ele o apelido que as circunstâncias lhe atribuírem, mensalão, o que for. A maioria vai trabalhar porque alguém tem de sustentar os salvadores da pátria
José Dirceu nunca participou das ações materiais de muitos de seus correligionários. Libertado dos cárceres da ditadura, cursou guerrilha em Cuba e não voltou para pegar em armas. Protagonizou uma caricatura de comerciante no interior do Paraná e por lá ficou placidamente até a abertura, quando não corria mais nenhum risco em reaparecer. Glorificá-lo como mentor e autor exclusivo da redemocratização é puro delírio.
Tem toda a razão o deputado Chico Alencar. José Dirceu está sendo julgado não por sua biografia jovem, que esta é a de todos nós, mas por sua biografia adulta, que todos nós queremos banir da nossa história.
Tanto a dele como a de Maluf

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