quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Os dois Luízes - Jayme Copstein

Luiz XVI, rei da França, escreveu em seu diário “nada a registrar”, na página correspondente a 14 de julho de 1789, dia da queda da Bastilha. Ainda pôde escutar, antes de ser decapitado, os acordes da Marselhesa.
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, nada registrou também em seu discurso de anteontem, na Fiesp, sobre o agravamento da crise que agora chega ao Palácio do Planalto.
Com os olhos postos na mais recente malandragem jurídica, a delação premiada, de seu cárcere o juiz federal Rocha Mattos reitera a participação de Gilberto Carvalho, secretário particular do presidente, no abafamento das investigações sobre o assassinato de Celso Daniel.
Aparentemente, Luiz XVI não tinha porque se preocupar com a Bastilha. Afora já estar desativada, como símbolo de opressão foi um mito posterior. Parecia mais clube do que cárcere, pelo conforto e pela elegância. Há vários documentos de comprovação, entre eles a “bronca” de um prisioneiro sobre a qualidade das camisas que lhe forneceram. Uma ilustre presidiária, Madame de Staël, reclamou em suas Memórias: “No fundo do coração eu estava longe de desejar minha liberdade.”
A Luiz Inácio Lula da Silva parece vã a preocupação com a “concretude” das denúncias de corrupção, depois de içar Aldo Rebelo à presidência da Câmara, com o guincho de mais de um bilhão de reais de emendas liberadas de parlamentares.
Luiz XVI era carpinteiro por predileçãopessoal e rei por imposição da política. Luiz Inácio Lula da Silva era torneiro mecânico por imposição da vida e é presidente da República por predileção pessoal. Mas ainda que os cursos sejam diferentes, os dois Luízes se igualam a rios desaguando no mesmo estuário.

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