quinta-feira, 13 de outubro de 2005

Os ETs da Terra - Jayme Copstein

A indústria farmacêutica deve estar dando estrondosas gargalhadas da punição que o Cade, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, lhe aplicou pelo boicote aos medicamentos genéricos.
Demorou 6 longos anos até que os ilustres conselheiros se reunissem para aplicar a multa de 1% sobre o faturamento daquele ano, assim mesmo em decisão apertada – três votos contra dois.
Um por cento do faturamento anual é quinquilharia para a indústria farmacêutica. Muito mais do que isso ela gasta em mimos para a classe médica, que vão desde DVDs portáteis a viagens e participação em congressos no outro lado do mundo, com tudo pago, do bom e do melhor.
A denúncia foi apresentada à Secretaria de Direito Econômico pelo Conselho Regional de Farmácia de Brasília em julho de 1999, após constatar-se que, sob a liderança do laboratório Janssen-Cilag, a indústria farmacêutica formara cartel para boicotar a fabricação e, portanto, a venda de genéricos aos consumidores.
Quatro meses depois, em novembro, a Secretaria de Direito Econômico tomou medidas para acabar com o boicote e encaminhou o assunto ao Cade. Ali o processo ficou dormindo até agora, quando a multa irrisória foi aplicada. Denúncia à promotoria e indiciamento criminal nem pensar.
A indústria farmacêutica tem se destacado, nos últimos anos, por um triste papel em todos os países do mundo. Ainda está na memória de todos, a queda de braço do governo brasileiro com os fabricantes do coquetel da AIDS, que desejavam duplicar o preço dos medicamentos, simplesmente extorquindo proveito da desgraça alheia.
Na segunda-feira, era o New York Times denunciando que a indústria farmacêutica mundial impediu, por 20 anos, a divulgação da descoberta de Robin Warren e Barry Marshall, ganhadores do Prêmio Nobel de Fisiologia de 2005. de que uma bactéria causava as úlceras de estômago. Tudo porque estavam faturando um bilhão de dólares por ano com outros medicamentos.
Estamos chegando a um ponto em que será necessária uma ação internacional para dar um basta nesta situação. Os inimigos do gênero humano não serão ets, não virão de outros planetas, como sugerem as histórias de quadrinho. Eles estão aqui mesmo, dissimulados sob a capa de anjos que zelam pela vida das pessoas.

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