terça-feira, 18 de outubro de 2005

Gafieiras e mensalões - Jayme Copstein

Um ouvinte pergunta qual seria a posição da mídia se tudo caminhar para a impunidade, como sugerem as danças e contradanças “na grande gafieira em que se converteu Brasília. Como vocês jornalistas reagirão a tamanha afronta?”
O ouvinte comete injustiças e equívocos. A injustiça está na comparação. As gafieiras exigem um mínimo de respeito, o que não se consegue nem para remédio na zorra do mensalão.
O equívoco diz respeito à mídia, coletivo criado denominar os veículos de comunicação social, mas cujo sentido é deturpado por quem não consegue conviver com a diferença de idéias. É a mesma loucura do imperador romano Calígula, que lamentava não ter o povo romano uma única cabeça, para ser decepada por um só golpe de espada.
A mídia, se é que isso existe fora desse conceito meramente técnico, fará o de sempre. Continuará expressando a revolta e a perplexidade dos ingênuos, mais uma vez enganados pelos gatunos que correm junto com as vítimas e gritam “pega ladrão!”, para não serem identificados pela Polícia. No caso, os eleitores.
Tudo é hipótese, porém. O mais provável é que a afronta não seja cometida. Fomos todos longe demais, os gatunos na sua ousadia, os demais na indignação, seja por sinceridade ou mero teatro. Difícil recuar.

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