quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Herzog, outra versão - Jayme Copstein

O assassinato de Vladimir Herzog nos porões do II Exército, em 1975, será relembrado enfaticamente neste outubro, ao se completar o 30º aniversário. É parte do acervo de horrores que as ditaduras têm escrito em todos os países do mundo.
Procurado fora de horas, no melhor estilo nazista, para depor sobre algo que nem lhe diziam do que se tratava, Herzog pediu para se apresentar no dia seguinte. Naquele momento, tinha de pôr no ar o jornal da TV Cultura de São Paulo. Não havia quem o substituísse.
Cumpriu a promessa. Em lugar de depoimento, o esperava a tortura. Aqui se encaixa o relato de um político ligado ao regime militar e que desejou, na época, desqualificar o crime como “lamentável acidente”.
Segundo a versão, nada havia realmente contra Herzog, mas um oficial do DÓI-Codi, desgostoso com as opções de sua filha, naqueles primeiros tempos da liberação dos costumes, decidiu interrogá-lo para pedir satisfações. Atribuía às suas “idéias” o “desencaminhamento” da garota.
Os interrogatórios se faziam sempre com a presença de truculentos especialistas do “telefone“, o tapa nos ouvidos, com as duas mãos em concha. É um dos golpes mais violentos do arsenal da tortura.
No caso de Herzog, que nem conhecia a moça, achada desrespeitosa a resposta, o “telefonista” falseou uma das mãos ao aplicar o golpe e “sem querer” lhe quebrou o pescoço.
Mesmo passados 30 anos a perícia pode revelar se aconteceu ou não. Quem contou, não estava preocupado com a verdade. Queria apenas provar que a ditadura de 64 não pretendia matar ninguém.
Só conseguiu comprovar que, em qualquer ditadura, a ideologia é mero pretexto para o exercício da perversidade.

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