sexta-feira, 28 de outubro de 2005

Picolés e marmeladas - Jayme Copstein

O deputado estadual gaúcho Dionilso Marcon não pode ver o politicamente incorreto pedaço de gelo enfiado em um palito, tingido de anilinas e temperado com sabores artificiais, chamado vulgarmente de picolé.
Não resiste e até põe de lado considerações transcendentais sobre a origem do dito cujo, se a madeira do palito não veio da Amazônia, se não foi fabricado por uma dessas terríveis multinacionais a serviço do imperialismo colonizador e escravizador dos povos livres da América Latina. Ele próprio faz a autocrítica, como declarou ao jornal gaúcho Zero Hora: “Quem não come um bom picolé?”
O deputado Dionilso Marcon terá de esclarecer é outro vínculo: mesmo sabendo que os de creme levam leite na receita, o que têm a ver picolés com os baixos preços do leite, pretexto para o saque de uma empresa distribuidora de alimentos congelados, com a destruição de toneladas de carnes, doces e embutidos.
Marcon terá um problema muito sério para explicar aos colegas da Comissão de Ética da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, não por questões de refrigeração mas porque eles parecem preferir a marmelada. Foi em nome da doçura que apenas repreenderam o deputado Vilson Covatti com um discreto “o bom menino não faz pipi na cama”, ao julgarem o agenciamento de consultas e as vendas de cirurgias, um bom negócio criado pelos seus assessores parlamentares.
Não riam. São casos muito sérios.

Nenhum comentário:

Postar um comentário