sexta-feira, 21 de outubro de 2005

O preço da farsa - Jayme Copstein

Flávio Koutzi, deputado estadual do Rio Grande do Sul, sempre destacado entre os melhores parlamentares de todas as legislaturas, desde a redemocratização, anuncia que não concorrerá a nenhum mandato nas eleições de 2006.
Koutzi diz que encerra um ciclo da sua vida pública e justifica a decisão extrema com as denúncias de corrupção envolvendo o seu partido, o PT, e o baixo nível dos debates na Assembléia Legislativa.
Diferenças e discordâncias ideológicas à parte, Koutzi é vítima, como todos nós, desta farsa chamada voto proporcional, em que o eleitor é convocado apenas para sacramentar a perversão do sistema. Ele jamais sabe em quem está votando, menos ainda quem está elegendo. Pior ainda: o próprio deputado não sabe quem o elegeu, com o que e com quem tem compromissos.
O raciocínio é muito simples. Como ninguém se elege com o número exato de votos, exigidos pelo quociente eleitoral, sempre o faz ou com excesso de votos que descarrega em outros candidatos da legenda ou com os votos descarregados de seus companheiros de chapa.
Então, os candidatos não necessitam ter plataformas, programas, idéias a defender. Disputam as eleições como se fossem concursos de beleza em que as pernas bonitas são substituídas por promessas de bíblicos paraísos ressuscitados. Vencem os delírios mais febris.
A desilusão não é só de deputados como Flávio Koutzi. É do próprio eleitor que freqüentemente pensa em anular seu voto, como protesto. Melhor faríamos todos se trocássemos nossa decepção por veemente exigência do voto distrital que corrige a distorção.

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