sábado, 15 de outubro de 2005

A um antigo tropeiro - Jayme Copstein

Um antigo tropeiro juntou os aperos, encilhou o pingo e tomou o caminho das estrelas, para a grande invernada do nunca mais. Chamava-se Luiz Menezes.
Foi o que a alma romântica deste velho Rio Grande teve de mais puro e genuíno. Eu o conheci no fim dos anos 50, quando ambos, redatores da velha PRH-2, a Rádio Farroupilha, remávamos contra a corrente, para salvar um espetáculo que se esvaía.
A tevê já estava consumada no cotidiano das pessoas. Tudo que nos restava – e sabíamos disso – era preservar as lembranças dos espetáculos idos e os sonhos não vividos, para que não se derramassem em escombros, como taperas nos descampados.
Dividíamos uma sala no último andar da Galeria do Rosário, onde a emissora tinha sede. Olhávamos o horizonte contendo o Guaíba, falávamos das coisas bonitas que ainda desejávamos criar. Era preciso sair daquele cenário porque a vida é um imenso palco e tínhamos outros papéis a desempenhar pelo tempo a-fora.
Menezes preferiu voltar para o seu amado Quarai. Lá era o seu lugar, dizia. E lá ficou o resto da existência, com Sônia, sua segunda esposa, e contando em versos e música como é bom a gente estar vivo para se amar o que é belo.
Luiz Menezes morreu, como os dizem os jornais? Não acredito. Se vocês olharem para o céu, pode ser que aquela luzita pisca-piscante seja alguma estrelinha caborteira tentando seduzi-lo, encantada com seu jeito arrumado de cavalheiro e a palavra mágica que encantava. Mas, com mais certeza, será a brasa do seu palheiro, tremelicando ao som do Piazito Carretero, uma das muitas eternidades que semeou em sua passagem por este planeta.

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