Deve ter sido o vento que me trouxe, esta manhã, o dobre das matinas em uma igrejinha distante. Pelo menos assim pareceu porque o som vinha em ondas como nos rádios antigos. Naquele tempo, tudo ficava do outro lado da Terra, mas o mundo não era tão cheio de barulhos e cada coisa tinha sua própria sua música.
De repente, dou-me conta que, por distante, a igreja não é necessariamente pequena. Hoje, com o homem deixando pegadas na Lua, tudo fica muito remoto. Os sinos devem ser os da Catedral Metropolitana, dobrando pela morte do arcebispo d. Luciano Mendes de Almeida. E aí me pergunto se as pessoas ainda conhecem o significado da palavra “dobre”, fora do dicionário do jogo.
Provavelmente pouca gente sabe, mesmo porque os sinos já não dobram nas igrejas, grandes ou pequenas. Foram substituídos pela eletrônica, com robôs fingindo ser pessoas, animais ou coisas, ou todo isso ao mesmo tempo, mas tão perfeitos que nos fazem esquecer que os velhos sineiros já não existem mais. Robôs não ficam surdos, não faltam ao serviço, são pontuais, apenas lhes falta a emoção que fazia dos sinos o coração das aldeias.
O sineiro não é, porém, o último símbolo sacrificado ao altar da tecnologia. Os relógios começam a ser devorados pelos telefones celulares e os jornais de hoje trazem a notícia de seus donos debatendo o futuro dos... próprios jornais.
É um mundo em vertiginosa transformação, no qual só o homem não muda. Continua a matar com a mesma ferocidade de quando, ainda habitando cavernas, disputava a presa com o vizinho da caverna ao lado.
terça-feira, 29 de agosto de 2006
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário