Sem maior destaque, alguns jornais noticiando apenas hoje, terça-feira, outros nem isso, morreu sábado na França, aos 76 anos de idade, o historiador Pierre Vidal-Naquet. Especialista em história grega antiga, Vidal-Naquet foi o grande debatedor na polêmica surgida ao fim dos anos 80, quando o anti-semitismo camuflou-se de anti-sionismo. Surgiu, então, a negação do Holocausto, o trucidamento premeditado de judeus, ciganos, homossexuais e deficientes, praticado pelos nazistas.
A tese de que o Holocausto era uma mentira sionista foi defendida por Robert Faurisson, professor universitário, também francês, cujos argumentos ainda mais deturpados são usados no lixo racista que gerou processos e condenações por difamação em vários tribunais pelo mundo afora.
Faurisson teve, a certa altura da polêmica, o apoio de Noah Chomsky, conhecido no Brasil por suas participações no Fórum Social Mundial, onde comprovou o que já se sabia antes: sua genialidade e lucidez não conseguem sobreviver fora da lingüística. Escreveu um prefácio para o livro de Faurisson, admitindo que não o lera, que sabia pouco dos temas abordados e sobre eles não tinha provas particulares. Apenas defendia a liberdade de expressão.
Vidal-Naquet liquidou a questão no livro “Assassinos da memória”, do qual existe tradução em português, da Editora Papirus. Dissecou as teses de Faurisson, mostrando que duas meias verdades não somam uma verdade inteira. Temperadas com interesses políticos e com outras meias verdades arrebanhadas pelo caminho, acabam desaguando em um oceano de mentiras com ar de verossimilhança.
O fato é que a nota biográfica de Pierre-Vidal Naquet, assinalando a sua morte recente, omite tudo isso. Fica-se com a impressão de que a outra metade da verdade, a que de fato somaria a verdade inteira, é escamoteada para que convenientemente não apareça.
terça-feira, 1 de agosto de 2006
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