Os jornais traziam ontem a notícia do advento próximo de uma máquina pensante, que poderia substituir e até dispensar o cérebro humano. É a fantasia, criada com gênio por Stanley Kubrick e Arthur Clarke em 2001, Uma Odisséia no Espaço, e vulgarizada em centenas de filmes de décima-terceira categoria, com robôs escravizando o planeta em uma civilização de ferragens.
Em todas as especulações, menos a de Kubrick e Clarke, falta algo que faz do pensamento um atributo exclusivamente humano, impossível de ser reproduzido pela máquina, por mais perfeita que seja. Chama-se a emoção.
Nada a ver com a percepções física de frio ou calor, liso ou áspero, aroma ou catinga, doce ou amargo, claro ou escuro, som ou silêncio. É a emoção que extrai um Moisés da pedra bruta ou povoar com a música da Heróica a surdez de Beethoven.
Um verso genial do poeta gaúcho Hugo Ramirez diz que o problema do tecnocrata é a sua incapacidade de distinguir entre uma criança e uma parafuso. Um cérebro eletrônico, por mais perfeito que fosse, sempre desembocaria no dilema de produzir mais parafusos e menos crianças para solver uma dificuldade econômica.
É o amor – uma emoção – que nos leva a decidir quantos parafusos são necessários para que mais crianças possam nascer e sobreviver. Esse mundo de robôs, aleijado de sentimentos, já existe, de carne e osso, no fundamentalismo que usa a religião ou a política como instrumento da sua falta de coração.
segunda-feira, 21 de agosto de 2006
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