Foi nosso colega Felipe Vieira, da Band, que me ligou para dar a notícia, no fim da tarde. Havia falecido Nelson Cardoso, um dos grandes nomes do rádio antigo e pioneiro da televisão no Rio Grande do Sul.
Instantaneamente me vieram à lembrança cenas daquele passado distante, na metade final dos anos 40, quando ambos, pouco mais que meninos, começávamos nossa carreira em Porto Alegre, escrevendo programas para a Rádio Farroupilha, cujo prefixo, então, era PRH.2. Logo em seguida, Nelson Cardoso projetou seu nome como criador e redator de coisas inesquecíveis, como Banca de Sapateiro, Qual o nome desta mulher, Páginas da Vida e mais uma infinidades de outras obra-primas.
Seu personagem mais popular foi o sapateiro da banca, criado inicialmente por Walter Ferreira e depois continuado até o fim por Walter Broda, tendo o contra-ponto de Pinguinho e Alda Cotrim, sucedida mais tarde por Marisa Fernanda, na pele da dengosa dona Clarinda. Mas se essas foram as figuras mais marcantes do seu repertório, Nelson Cardoso criou também bordões que se perpetuaram, como “trabalhas na casa? Descontas INPS?” Ou então, o gostoso “fritador de bolinhos em caçarola de matéria plástica”, para fustigar políticos demagogos, cujo discurso cheio de voltas não quer dizer coisíssima alguma.
Os despojos de Nelson Cardoso foram cremados ontem ao entardecer, e isso é da contingência humana. Mas a sua contribuição para um rádio e uma televisão que divertisse, entretivesse e instruísse os ouvintes e telespectadores ficará para sempre, a não ser que sejamos derrotados no desafio que nos é imposto nos dias que correm: a batalha travada contra a ignorância, a falta de ética e a mediocridade.
segunda-feira, 7 de agosto de 2006
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