Pois estava eu em busca de um assunto para este domingo tão parado, quando me defrontei com umas cuecas salvadoras. A princípio – ou em um primeiro momento, como está em moda dizer-se – assaltou-me verta dúvida: encerrando-se uma semana agitada em que o senador Aloízio Mercandante foi personagem central de acidentado episódio da nossa vida política, fiquei pensando que algum maledicente pudesse me acusar de requentar o histórico capítulo das cuecas dos dólares, de que o ilustre líder também foi protagonista importante.
Longe de mim tal crueldade. As cuecas de que falo são outras e nem eram brasileira. Pertenciam ao advogado norte-americano Ben Lipscomb, que vive no Estado de Arkansas e nem se mete política. Aliás, nem politicamente correto ele é: fanático por caçadas, embrenhou-se em uma floresta inundada da Reserva Hollowell para caçar patos e acabou perdido.
Aí é que entram as cuecas. Após 12 horas tentando achar o caminho de volta, bebendo água suja e comendo peito cru de pato selvagem, Lipscomb quase se desesperou porque o helicóptero da Polícia Estadual, que já andava à sua procura, não conseguia enxergá-lo, por mais que abanasse e gritasse. Como estava vestindo roupa de caça com camuflagem, para não ser visto pelos patos, estava invisível também para a Polícia.
Foi quando Lipscomb teve a idéia salvadora. Despiu-se e pendurou as cuecas – por sorte, brancas – na ponta do rifle e, aí, sim, não tardou a ser avistado e resgatado. Ele não fez nenhum comentário especial sobre o estratagema de que se valeu para escapar da floresta, mas o professor Enro Loll, o conhecido teórico das Coisas, Coisinhas e Coisadas, filosofou: "Estas cuecas valem milhões". No que todos temos de concordar, apesar de as cuecas em questão não transportarem dólares. Como foi judiciosamente advertido aos leitores no início desta crônica, elas nada têm a ver com o senador Aloizio Mercandante. Como ele próprio diz, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.