segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Do sim e do não – Jayme Copstein

Aloizio Mercadante segue rumo equivocado, para explicar a revogação da irrevogável renúncia à liderança do PT. Pede que lhe conheçam "razões mais profundas" e alega a impossibilidade de dizer "não", quando Luiz Inácio Lula da Silva argumenta que a caminhada é maior que dificuldades e divergências.

Esta, porém, é a mensagem do filme, "A onda", ora em exibição nos cinemas, ao mostrar o que acontece quando a "causa" se torna maior que o ideal e os meios se sobrepõem ao fim. Foi a alegação dos criminosos de guerra no Tribunal de Nuremberg. Como cá nos trópicos somos mais modestos, na verdade o que aconteceu em todo o episódio é que Lula não consegue dizer "não" nem a Zé Sarney.

Pontal do Estaleiro

Como bem argumentou o jornalista André Machado, em recente artigo na Zero Hora, o "sim" desta consulta sobre a permissão de se construir prédios residenciais no Pontal do Estaleiro não se diferenciava do "não" porque a empresa interessada na área já havia manifestado seu desinteresse no segundo projeto. Fica apenas com os empreendimentos comerciais, suficientes para retribuir o investimento feito.

Confesso que o debate havido não conseguiu me convencer nem dos prejuízos nem dos benefícios que haveria com o projeto residencial. Como sempre, foi mera troca de desaforos apaixonados, sugerindo que a questão talvez se resolvesse melhor em um Grenal. Desde o princípio, porém, desagradou-me a sede com que foram ao pote, no atropelo do processo legislativo, na tentativa de aprová-lo na Câmara Municipal. Era preciso dizer "não" àquilo, pela mesma razão que se exige do senador Mercadante: nenhum fim justifica o meio.

Voto nulo

A quem me perguntar se espero consertar, já não digo o mundo, mas apenas o Brasil, tarefa que me parece ainda mais difícil, só posso responder que me pareço com aquele camarada do Evangelho que tentava esvaziar o oceano com um dedal. Não o faço pela esperança, apenas pela consciência.

Vale o raciocínio quando se analisa também a campanha ressurgente em todas as eleições, da inutilização do voto para anular a eleição. Não se precisa ir muito longe para aquilatar o tamanho da sandice: dos 1.039.635 eleitores de Porto Alegre, votaram apenas 22.619. Ou seja, pouco menos de 2% decidiram em nome de mais de 98%.

Ao contrário da gripe A em que lavar as mãos é um dos rituais importantes para evitar sua propagação, quando se quer combater a corrupção suína que assola o Brasil, o essencial é não lavá-las. A não ser que se deseje fazer como Pilatos que entrou no credo justamente por se omitir. Alguém já pensou em deixar meros 22 mil votantes escolherem o prefeito e todos os vereadores de Porto Alegre? Ou apenas 150 mil (cerca de 2%) "nomearem" 55 deputados estaduais, o governador, 2 senadores e 31 deputados federais, em nome dos 7.940.249 eleitores inscritos no Rio Grande do Sul?