Silveira Martins dizia que idéias não são metais que se fundem. Érico Veríssimo contrapunha que era bobagem porque a única utilidade dos metais é se fundirem. Não fosse assim, não serviriam para nada.
O desembargador Décio Vieira, do STJ, proibiu o jornal O Estado de São Paulo de divulgar informações referentes à Operação Boi Barrica que tem entre seus indiciados o filho de Zé Sarney, presidente do Senado.
Vieira é amigo da família Sarney. Devia ou não ter levantado suspeição para julgar a liminar e evitar a polêmica dos metais e a fusão? Segundo a Família Sarney e seus agregados e simpatizantes, a utilidade dos amigos é assegurar imparcialidade aos seus interesses. É uma opinião. Para que serve a amizade sem a confusão de sentimentos?
O problema é a segunda questão que se coloca a partir da liminar: a proibição não significa censura prévia, expressamente vedada pela Constituição? A juíza de direito de São Paulo, Kenarik Boujikian Felippe acha necessária "(...) uma reflexão sobre o papel do Poder Judiciário, especialmente no que diz respeito a direitos que sustentam a democracia, como a liberdade de expressão, de informação e de imprensa (...) O papel do Judiciário é o de fortalecer e enriquecer a democracia, e não ceifá-la. Inaceitável pensar em voltar ao tempo de abrir jornais e ler receitas ou versos de Camões." Já o presidente do Supremo Tribunal Fedceral, Gilmar Mendes, diz que não, que é só uma decisão judicial que "precisa ser examinada".
É a democracia onde todas as opiniões convivem e se fundem. Daí a sua utilidade. E já que é democracia e tem serventia, permitam reaver e adaptar o trocadilho antigo criado pelo jornalista Rivadávia de Souza, no velho Correio do Povo. Com toda essa conversa mole para o boi dormir na barrica, nós, os "aqui de baixo", é que terminamos fundidos e mal pagos.