quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Quem é quem - Jayme Copstein

Quem é José Sarney, todos sabemos: o político que, com o toma-lá-dá-cá e o estelionato do Plano Cruzado, inaugurou a fase mais corrupta da política brasileira e emporcalhou a atribulada redemocratização do país. O espetáculo deprimente a que a Nação testemunhou anteontem no Senado, apenas ratifica o conceito: seus mais competentes defensores são um presidente da República cassado por corrupção, um presidente do Senado que renunciou ao cargo para não ser cassado pelo mesmo motivo e, nos bastidores, José Dirceu, presuntivo candidato à Presidência da República, também cassado por iguais razões.

Dito isto, diz-se tudo sobre José Sarney, sobre quem apenas as mais recentes acusações, também de corrupção, somam onze. Nada disso, porém, é tão vexatório e humilhante a um país como assistir a Renan Calheiros, com ares de comadre mexeriqueira e Fernando Collor de Mello, possesso, de olhos esbugalhados, a boca entortada em um esgar histérico, ambos eleitos com votos acaudilhados nas grotas de Alagoas, a ameaçar com maledicências de quenga de beco, um político de vida limpa, como Pedro Simon.

Collor, de quem já foi dito que não passava de um videoclipe bem editado, quando se candidatou à Presidências da República, ao chegar ao Senado criou um bordão infantil para substituir a vulgaridade do "aquilo" roxo dos seus tempos de Planalto: "Engula suas palavras e as digira como puder". Tal como ele fez com as ofensas que preferiu contra a Família Sarney e as ofensas que lhe fizeram José Sarney e Renan Calheiros no fim dos anos 1980 e 1990. Sua única frase sensata -- Collor de Mello – "Não pronuncie mais o meu nome" – deve ser acatada como conselho por Pedro Simon. Para não vomitar...

Tiro pela culatra

José Sarney havia prometido discurso bomba para se defender na tribuna do Senado, ontem. Mandou seus leais discípulos e apaniguados na vanguarda, para o deprimente espetáculo de anteontem. Alguma coisa que ainda não transpirou, está indicar que o tiro saiu pela culatra. A violência de Calheiros e Collor, ao melhor estilo da velha Chicago, amedrontou os próprios aliados de Sarney. Este deve ser o motivo pelo qual, dotado de extremo instinto de sobrevivência, ele adiou o pronunciamento.

As coisas devem estar fervendo nos bastidores. A esta altura dos acontecimentos, entretanto, Sarney não tem como retirar sua assinatura do comportamento de Calheiros e Collor de Mello. Só lhe resta, mesmo renunciar à presidência do Senado e ao seu próprio mandato, se ainda quiser preservar um pouco de sua dignidade pessoal.

 

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