quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Sarney, sempre - Jayme Copstein

Enquanto José Sarney discursava ontem, aparentemente sem nada dizer, Renan Calheiros como rafeiro vigiava os demais senadores e Fernando Collor de Mello exibia sorriso alvar, sacudindo a cabeça em aprovação, como mamulengo dessincronizado das falas do mestre. Aparentemente, nada havia para aprovar ou desaprovar nos sons que Sarney emitia, mas no meio da arenga, ele exibiu um um DVD, acusando um jornalista, que não identificou, de lhe roubar documentos pessoais, que não disse quais eram, no escritório de seu advogado, que também não nominou.

Foi repetição da tentativa de chantagem feita por Calheiros e Collor contra Simon – daí a ostensiva cumplicidade -- apenas com Sarney fazendo-se de vítima para dissimular a violência contra seus colegas. Ernesto Geisel e João Figueiredo recomendavam cuidado com ele porque "este só ataca pelas costas". Sarney nunca os desmentiu. Pelo contrário só os encheu de razão quando também desferiu um golpe desleal em Mário Quintana, torpedeando sua candidatura à Academia Brasileira de Letras, episódio já narrado nesta coluna.

Por trás dos melífluos apelos de pacificação, Sarney apontava um punhal às .costas dos seus colegas. Insinuou que tudo pode ter sido documentado e pode ser exibido na hora que melhor lhe convier. Pois bem. Pedro Simon já interpelou Collor de Mello, para que esclareça suas insinuações. O que os demais senadores farão em relação a Sarney só lhes diz respeito. Quando a nós, jornalistas – faço apelo a todas as nossas associações de classe e a todos os veículos de comunicação – que exijam de Sarney a identidade do suposto jornalista. Se ele realmente existe, seja punido, comprovada a sua culpa. Se não existe, não há nada a fazer. José Sarney, o homem cujo governo pôs na lata do lixo decênios da História do Brasil, apenas confirmou a conceito que sobre ele fazia a ditadura da qual se serviu, fingindo tanta devoção.