quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Polvilho no ventilador - Jayme Copsteun

Nem Sherlock Holmes, ou Hercule Poirot, ou o Comissário Maigret ou o Padre Brown, por mais geniais que os tenham criado Conan Doyle, Agatha Christie, Simenon ou Chesterton, são capazes de tirar do nada a informação concreta. Se os repórteres da Folha de São Paulo procuraram a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, para lhe pedir confirmação sobre certo encontro com a ministra Dilma Roussef, acertado por Erenice Guerra para falar do filho de Zé Sarney, é porque alguém lhes passou a ficha.

Quem o terá feito? A oposição, não, com toda a certeza. Não haveria de esperar um segundo que fosse para jogar o polvilho no ventilador e fustigar as ventas do Governo. Se considerarmos o bombardeio contínuo a que Dilma é submetida desde o lançamento de sua candidatura à Presidência da República, a resposta é conhecida dos artilheiros do "fogo amigo": gente com acesso à intimidade do Palácio do Planalto para saber de algo tão privado que sequer constou das agendas dos personagens.

A questão até poderia morrer aí porque a própria Lina Vieira não entendeu a solicitação de Dilma como sugestão para amorcegar os procedimentos fiscais contra o filho de Sarney. A Justiça já tinha solicitado antes maior presteza. O máximo admissível é que a Ministra pretendesse tirar o caso de foco no momento em que Zé Sarney candidatava-se à Presidência do Senado, com o apoio de Lula. Nada de excepcional dentro ética bastante elástica vigente na política de qualquer país, notadamente a brasileira

Contudo, as coisas não são tão simples. Resta uma incógnita deveras intrigante: por que os holofotes se fixaram na audiência com Dilma Roussef só depois que Lina Vieira discordou da comprovada artimanha fiscal da Petrobrás, da qual resultou arrecadação a menos para o Erário de alguns bilhões de reais. O grande problema que se coloca não é quem está dizendo a verdade sobre uma desimportância, se Lina ou Dilma, mas o destino que a Petrobrás pretende dar à montanha de dinheiro espertamente sonegada, às vésperas da eleição presidencial.

Esta informação, os repórteres da Folha não têm como saber. Nem Sherlock Holmes, ou Hercule Poirot, ou o Comissário Maigret ou o Padre Brown. Porque todo o fuzuê em torno da audiência a Lina, com Dilma envergando um xale muito bonitinho – vocês sabiam? – foi aceso pelo Planalto, apesar do teatro protagonizado por Lula. Com o propósito de esconder a verdade.

Ditos e Achados

"Dilma já escorregou algumas vezes. No caso VarigLog, negou ter conversado com Roberto Teixeira, o primeiro-compadre do presidente Lula, e acabou sendo forçada a desmentir-se. Precisou renegar seu próprio currículo, que a titulava de Mestra e Doutoranda (na verdade, não era mestra nem doutoranda), e garantiu que nunca o tinha lido. Negou ter mandado fazer um dossiê sobre a falecida primeira-dama Ruth Cardoso, e depois se desmentiu, mas mudando o nome do dossiê para "banco de dados". Que nome será dado ao encontro com Lina Vieira?" – Carlos Brickmann, em "Uma questão de pernas curtas" (www.brickmann.com.br)