Oscar Wilde em "O marido ideal" escreveu: "Os deuses quando nos querem punir, atendem nossas preces". A frase cabe à maior parte das tragédias humanas e parece feita sob medida para a família do patriarca norte-americano, Joseph P Kennedy. Ele concebeu para os filhos uma trajetória política com linha de chegada na Casa Branca. Resultou uma saga da qual o último capítulo encerrou-se anteontem com a morte do senador Edward Kennedy – Teddy -- vitima de câncer cerebral, o único dos quatro rebentos do patriarca a encerrar sua vida na velhice e por causas naturais.
John Kennedy, o único que realmente chegou à Casa Branca, testemunhou publicamente sobre a premeditação do pai: "Tal como ingressei na política porque Joe morrera, se alguma coisa me acontecesse amanhã, Bobby (Roberrt) iria para a minha cadeira no Senado. E se Bobby morresse, nosso irmão mais novo, Ted (Edward), assumiria em seu lugar."
De fato, foi assim que aconteceu até certo ponto. Joe – Joseph P Kennedy Jr –o mais velho dos quatro irmãos, pereceu muito jovem na Segunda Guerra Mundial. Ao dizer aquelas palavras, em 1959, John Kennedy ainda era senador por Massachusetts, mas já se podia antever, pelo carisma pessoal e pela pregação de mais justiça para todos, o futuro presidente dos Estados Unidos. Ainda que hoje possam soar como profecia, ele expressava a preocupação com o tributo cobrado pelos deuses para atender as preces do Joe pai. Eleito presidente, John Kennedy deveria ter sido substituído no Senado pelo irmão Robert, mas este preferiu ser o procurador geral de seu governo e declarar guerra à Máfia, que havia apoiado a campanha de John. Especulou-se muito sobre o assassinato de John, mas ainda que o enigma jamais seja decifrado, aí provavelmente está a chave do mistério. O gângster Jack Ruby, liquidando Lee Oswald, o indigitado assassino de John, dá consistência à hipótese.
Não tendo Robert não ocupando a cadeira de John no Senado, um amigo dos Kennedy, Benjamin Smith II, foi escalado para fazê-lo, enquanto o caçula Edward não completava os 30 anos, limite mínimo de idade para eleger-se senador. Só tinha 28 anos na época e mesmo no seio da própria família seu comportamento não era muito levado a sério. O apelido de infância – Ted (ursinho) – teve origem em traquinices que se prorrogaram pela mocidade afora.
Quando Robert foi assassinado em plena campanha para a presidência, em 1968, tocava a Ted a vez de tomar o rumo da Casa Branca, mas no ano seguinte, depois de ter participado de churrasco em Chappaquiddick, encharcado de bebida, saiu com Mary Jo Kopechne, ex-assessora do falecido Robert. Ao passar por uma ponte estreita, o carro caiu na água, Ted conseguiu salvar-se, mas a moça morreu afogada. Só dez horas depois o acidente foi comunicado à Polícia. O acidente jamais foi totalmente esclarecido e suspeitas do que pudesse ter ocorrido sempre pesaram e impediram que, mais tarde, ele conseguisse sequer disputar a indicação do Partido Democrata para candidatar-se à presidência.
Nos últimos 20 anos, as lembranças de todas estas as tragédias pesaram para que assumisse a responsabilidade, nada pequena, pelos destinos da sua família e também se devotasse ao serviço da Nação. Foi quando Edward Kennedy tornou-se exemplo de cidadão e inscreveu seu nome entre os melhores senadores da história dos Estados Unidos.