terça-feira, 18 de agosto de 2009

Os alpinistas - Jayme Copostein

Junto coisas pelos jornais em busca de algo novo para comentar. Alguém inventou um abajur novo que desliga logo que a gente adormece, outro alguém um par de óculos escuros cujas lentes captam energia solar e carregam a bateria do celular. Mais modesto que sou, fico à espera de quem invente um jeito de pagar as contas no fim do mês sem ter dinheiro. Mas é esperança vã porque, aqui no Brasil, nós só conseguimos inventar o Zé Sarney, o Lula da Silva e seus derivados. Todos inventores de métodos mágicos de ganhar dinheiro sem trabalhar, dando para pagar as contas do fim do mês e ainda sobrando muitas vezes mais.

Digo que a esperança é vã porque todos eles surgiram como autênticos revolucionários, o Zé Sarney na antiga UDN para varrer a corrupção, pasmem vocês, o Lula, no antigo PT, cuja versão mais branda da sacrossanta indignação apontava 300 picaretas no Congresso. Ao vê-los de mãos dadas, dançando o ciranda-cirandinha, vou correndo à minha estante, buscar socorro em George Orwell: nove em dez vezes, um revolucionário é um alpinista com uma bomba no bolso.

George Orwell, porém, é malvisto pelas esquerdas, seja lá o que isso signifique, principalmente no Brasil, porque, logo no início da Guerra Fria, apontou quem poderia transformar a BBC em mera retransmissora da Rádio Moscou. Já naquele tempo, escrevia que todos os partidos de esquerda compartilhavam de uma mistificação ao pregarem uma luta contra algo que não desejavam verdadeiramente destruir.

Deixo Orwell de lado e vou até Leo Huberman, politicamente correto até hoje, advertindo, em sua "História da Riqueza do Homem": as revoluções vitoriosas sempre se adonam dos privilégios contra os quais tiveram razão de ser e combateram com tanta veemência.

Neste momento, toca o telefone. Sou eu falando para mim mesmo: "Não complica com Orwell, Huberman. Apenas escreve que o Zé Sarney e o Lula da Silva queriam chegar lá, e chegaram. Ponto final."

Apenas repito: Ponto final!

Aníbal Bendatti

Foi Jurema Josefa, chefe de reportagem do Correio do Povo, quem me passou a notícia triste: "O Bendatti partiu." O verbo é terrível e pertence a uma categoria que os gramáticos não definem: a das palavras sem volta. Muita gente morre, é da vida, diz o Conselheiro Acácio, mas quando elas deixam um vazio na gente, elas partem. A mensagem me chegou atrasada, não tive como comparecer aos atos de sua cremação para me despedir.

Faço-o agora, relembrando sua figura suave, mestre de muitos profissionais da área e também de sucessivas gerações de bacharéis em jornalismo. E a todos ensinou tudo o que sabia, com amor. De todos foi amigo.

Jurema Josefa foi perfeita para transmitir a tristeza da notícia: "O Bendatti partiu."

Fica o vazio.