Na prática, a teoria é outra. A saúde é apenas mais uma área onde os problemas refletem as deficiências da educação no Brasil, das quais já falava Caxias na primeira metade do século 19, sem que providências mais efetivas tenham sido tomadas em 150 anos. É duvidoso que maior rigor na exigência de normas, já existentes, mas descumpridas, possa sustar comportamento arraigado em um país viciado em jeitinhos e desapertos e agravado pela fiscalização precária.
Não faz muito, abordou-se nesta coluna o risco da ingestão de ervas medicinais sem supervisão médica. O e-mail ficou saturado de mensagens indignadas, com argumentos que iam da sabedoria milenar dos habitantes de Atlântida, o continente desaparecido, à acusação de suborno às multinacionais, fabricantes de medicamentos. Pretendeu-se dizer apenas, em relação às ervas medicinais, o que agora a própria Anvisa está falando em relação à inofensiva aspirina, capaz de desencadear hemorragias em pacientes com doenças gástricas
Superar os problemas da vida brasileira com proibições, sem tocar nas deficiências da educação, a origem comum das dificuldades, pode funcionar na teoria. Na prática, porém, como evitar que dona Joana recorra à automedicação, que peça remédio ao atendente da farmácia, ao vendedor de ervas ou à benzedeira da esquina? Ela foi ao SUS, prescreveram–lhe exame xxxx, marcado para daqui a dois anos, após o que lhe será receitada a medicação adequada. Por trás, gente que foi instruída com o ABC e as quatro operações no primário, gente que foi instruída com dicas para passar no vestibular, gente que foi instruída na arte de curar doenças, administrar serviços públicos, cativar eleitores, mas não foi educada para ser solidária com seus semelhantes.
A culpa não é da Anvisa. Não é de ninguém. Com toda a certeza é daquela senhora, de costa largas, a mãe do Badanha.