domingo, 23 de agosto de 2009

Duas semanas de agosto – Jayme Copstein

Esta semana e a próxima são historicamente importantes por se completarem 70 anos do início da II Guerra Mundial. Mesmo passado tanto tempo, as duas semanas permanecem no centro do debate que jamais cessou, \em torno de acontecimentos considerados chaves no desencadeamento do conflito.

Adolf Hitler tinha se jogado em uma aventura por cujas conseqüências seus próprios generais temiam. Os historiadores e comentaristas de ambos os lados concordam que qualquer reação teria acabado com Hitler, a partir de março de 1934, quando ele ordenou a remilitarização da Renânia, pondo no lixo o Tratado de Versalhes, até setembro de 1938, quando obteve da Tcheco-Eslováquia, por imposição da Inglaterra e da França, a região dos Sudetos.

Na Renânia o próprio batalhão aduaneiro francês seria suficiente para rechaçar os mal equipados e treinados soldados alemães. Ninguém se mexeu. Na anexação da Áustria, bastaria uma ação diplomática enérgica para sustar a ocupação, tanto assim que Hitler só se encorajou depois de ouvir a concordância de Mussolini, a qual agradeceu em célebre telegrama, no qual afirmava que nunca esqueceria o apoio recebido: "Nunca, nunca, nunca", escreveu. No caso dos Sudetos, os generais já se preparavam para prender o Fuehrer quando chegou outro telegrama, também célebre, do primeiro-ministro inglês Neville Chamberlain, propondo a conferência em Munique e o consequente apaziguamento.

A partir deste ponto, as opiniões se dividem quanto à responsabilidade pelo curso dos acontecimentos. Acusa-se Stalin de ter dado carta branca a Hitler quando com ele entrou em conluio no Pacto Nazi-Soviético para retalhar a Polônia. Os russos se defendem com a tese de que o apaziguamento de Hitler era caso pensado das nações ocidentais, para que o confronto entre a Alemanha e a União Soviética enfraquecesse os dois países, para melhor dominar a Europa. Como prevenção contra os nazistas, era preciso avançar a linha de defesa até metade da Polônia.

Tudo pode ser afirmado e contraditado porque a elasticidade é a virtude e também o defeito das palavras. Hitler em "Minha Luta" expressou claramente que "o espaço vital" para o desenvolvimento da Alemanha estava no Leste, o que significava toda a porção européia da URSS, uma imensidão de terras de cultivo e caudais de petróleo. Contudo, Stalin não temia as ambições de Hitler e surpreendeu-se quando foi atacado por ele. Fez todos os esforços para incluir a URSS no Eixo com a Alemanha, a Itália e o Japão e quase o conseguiu, mas as negociações não chegaram a bom termo por um detalhe: o domínio dos estreitos do Mar Negro (Bósforo e Dardanellos), para assegurar a presença no Mar Mediterrâneo, uma das mais antigas aspirações russas. Os alemães e os italianos não aceitaram.

Tudo isso tem sido alegado para se afirmar que a História seria outra, se não tivesse havido o Pacto Nazi-Soviético de agosto de 1939, costurado nestas mesmas duas semanas, passados agora 70 anos. Que a História seria outra, todos podemos ter certeza. Mas que outra História seria, é impossível de se dizer. Seria mera profecia.

Do que aconteceu, restou o depoimento mudo dos mais de 60 milhões de mortos que se calcula tenham sido vitimados pela II Guerra Mundial. Bem mais da metade foram civis indefesos, trucidados por bombardeios ou abatidos por doenças, fome e frio.