quinta-feira, 11 de maio de 2006

Morales e o Brasil - Jayme Copstein

Haverá alguma coisa por trás das provocações baratas de Evo Morales ao Brasil? Não bastasse a desnecessária ocupação militar das instalações da Petrobrás em Santa Cruz de la Sierra, o presidente boliviano ameaça agora usar as tropas para expulsar pequenos agricultores brasileiros que se estabeleceram em áreas fronteiriças e ali vivem em situação de extrema penúria.
Tal como em relação ao gás e ao petróleo, há um acordo firmado em 2005, concedendo prazo até agosto deste ano para a desocupação das áreas invadidas. Não existe motivo para a ruptura do compromisso.
Pode ser que, por trás das bravatas de Evo Morales, estejam os delírios napoleônicos de Hugo Chaves, mas o combustível, certamente, é a tibieza do nosso ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, diplomata competente, sem coragem de dizer “não” às sandices de Marco Aurélio Garcia, amador de Relações Internacionais que assessora o presidente Lula.
Não se precisa desfiar o rosário de ridicularias e fracassos, como o da Conferência de Cúpula América do Sul – Países Árabes, sonhada como uma espécie de cornucópia que haveria de derramar um oceano de petrodólares no continente, transformando Lula e seus correligionários em grandes figuras mundiais, com liderança incontestada sobre a hipotética Comunidade das Nações Sul-Americanas. Afinal, não tinha a uni-los o inimigo comum, os Estados Unidos, o demônio responsável por todas as atribulações dos países subdesenvolvidos?
Olhando os quase três anos e meio de governo Lula, a que se reduziu a ação da diplomacia brasileira, antes considerada uma das mais habilidosas e competentes do mundo? Hugo Chaves entra e sai do Brasil como se fosse casa de Mãe Joana e interfere nos negócios brasileiros quaqndo bem entende. A Rússia desconversou sobre o mirabolante eixo Brasília-Moscou. A China declarou na lata que não tem o menor interesse em mudar a composição do Conselho de Segurança da ONU. A Nigéria nos ama, mas não pensa em trocar a parceria com os países europeus, aos quais vende bastante petróleo e recebe na bucha. Em lugar da Alca, a Alba de Hugo Chavez. E o Mercosul, cuja consolidação nos daria uma posição de força para enfrentar o resto do mundo?
O desprestígio do Brasil desceu a tal ponto que o Paraguai há tempos ameaçou expulsar os brasiguaios, para dobrar a quota dos contrabandistas que fazem a prosperidade de Ciudad do Leste e massacram o comércio legalizado das cidades brasileiras.
Será que Evo Morales, animado por todos esses exemplos, acha que está chutando cachorro morto?

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