segunda-feira, 1 de maio de 2006

Casa da sogra - Jayme Copstein

Em entrevista publicada ontem no jornal O Estado de São Paulo, o jornalista Marco Aurélio Garcia, conhecido aficionado das artes diplomáticas e assessor de Relações Internacionais do presidente Lula, disse que as críticas à política externa brasileira “partem de gente aqui de dentro, querendo tirar casquinha nas conquistas obtidas.”
São compreensíveis as frustrações de Garcia com este mundo mau que não entende nem permite o reino do “foram felizes para sempre”, sob a égide de Lula I e Único. Como todos sabemos, ele seria o autor de façanhas jamais praticadas, neste planeta, desde Adão e Eva.
Difícil de entender são as alegadas conquistas da diplomacia brasileira nos últimos três anos, a começar pelo assento no Conselho de Segurança da ONU, maluquice herdada dos tempos excêntricos de Itamar Franco. Em matéria de concessões, chegou-se ao extremo do servilismo, culminando com o status de economia de mercado concedido à China, sem obter sequer uma declaração de simpatia.
No que diz respeito às relações com os países africanos, o resultado tanta viagem, de tanta reunião e de tanto perdão de dívida foi comprovar o que o velho Itamaraty já sabia há muito tempo: aquelas nações tem um firme comércio com a União Européia e não estão nem aí para as utopias de diplomatas amadores.
Restava, na América Latina, o projeto dileto de Lula, a Casa, a Comunidade Sul-Americana de Nações. Mas com Evo Morales dando uma solene banana às empresas brasileiras e Hugo Chavez entrando e saindo do Brasil quando bem entende, sem pedir licença a ninguém, como se fosse a casa da sogra, de que conquistas Marco Aurélio Garcia está falando?