segunda-feira, 29 de maio de 2006

O disco emperrado - Jayme Copstein

Parece um daqueles discos antigos de gramofone, rachados, em que a agulha emperrava no arranhão e ficava repetindo a última palavra. Suzane von Richthofen depois de vários entra-e-sai da cadeia, volta novo para prisão domiciliar. A agulha trancada na rachadura da Justiça, grita: impunidade, impunidade, impunidade, impunidade.
Por que prisão domiciliar para Suzane, que arquitetou com o namorado e o irmão dele a morte dos pais? É uma das muitas manobras dos seus defensores para caracterizá-la como pobre órfã, incompreendida e massacrada pela mídia, às vésperas de seu julgamento.
Conseguido o benefício na sexta-feira, os advogados tinham pressa em levá-la para casa no mesmo dia. Acusaram o juiz da Vara Criminal, onde corre o processo, de “má-vontade” por ele ter se recusado a assinar o alvará de soltura sem a indicação clara do domicílio para onde seria levada. Acabou sendo providenciado o endereço de uma dos próprios advogados.
Há uma outra indagação, sem resposta desde que o processo de Suzane von Richthofen começou: por que tribunal do júri, se a materialidade caracteriza o latrocínio? Não se trata da intenção de antecipar a herança – é o roubo de valores que havia na casa quando o crime foi cometido.
A próxima manobra dos defensores de Suzane é conseguir que não seja julgada com seus cúmplices. Vão pedir o desdobramento do processo e que a “pobre órfã” enfrente o Tribunal depois, despertando a piedade dos jurados.
De fundo, para o dramalhão, o disco emperrado da Justiça: impunidade, impunidade, impunidade, impunidade.

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