O presidente Luiz Inácio Lula da Silva que há poucos dias negara o mensalão, afirmando que a CPI nada havia provado, agora em entrevista a Pedro Bial, admite que existiu sim, mas queixa-se de que foi uma facada nas costas.
Lula não quis dizer quem o apunhalou, mas por palavras tortas, sugere que destina a José Dirceu o papel de Judas em sábado de Aleluia. Quando Bial lembrou-lhe uma declaração taxativa, de que levaria Dirceu ao palanque, em 2006, Lula se irritou. Disse que não disse, que apenas foi perguntado. Mas respondeu que sim, todos se lembram. Só que, em relação a Dirceu, acrescentou uma frase gélida: “A CPI vai mostrar se ele errou.”
Lula só foi coerente nas suas acusações à imprensa. Repete que ela só noticia as coisas ruins, não fala do que é bom. Ora, o que é bom e o que é ruim, fora de comida e de bebida, é questão de ponto de vista Denúncia de corrupção pode ser ruim para o denunciado, mas é boa para o país que assim tem ocasião de combatê-la e acabar com ela.
Quem prestou atenção no noticiário, soube de muitas coisas positivas. A dívida com o FMI está quitada, a dívida externa está em seu valor mais baixo desde 1995, a Petrobrás deve manter sem aumentos o preço dos combustíveis, os preços públicos – telefone, eletricidade, água etc. – só devem subir uma merrequinha no ano que vem, por isso a inflação de 2006 será reduzidíssima, talvez a menor desde os tempos de Juscelino Kubistchek.
Tudo isso está no noticiário dos últimos dias. O problema é que talvez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não goste de ler jornais, ouvir rádio, assistir tevê. Se o faz, parece ficar contrariado e só prestar atenção às notícias que lhe são desagradáveis. A culpa é só dele.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2005
Realidade patética - Jayme Copstein
É patética a realidade desenhada pelo delegado Eduardo de Oliveira César, titular da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos de Porto Alegre, Rio Grande do Sul: 90% dos delinqüentes presos em 2005 foram soltos, não mais com sentimento mas com plena certeza da impunidade.
A reportagem está na Zero Hora de hoje. O delegado queixa-se da dificuldade de provar a culpa de ladrões e receptadores, mas os exemplos que fornece para fundamentar sua argumentação dizem respeito às deficiências da estrutura de prevenção e repressão ao crime no Brasil.
Esta estrutura é herança do regime militar. O papel da velha Polícia, que todos conhecíamos, admirávamos e amávamos, de se responsabilizar pela segurança do cidadão, foi deturpado para que pudesse servir à segurança do Estado.
Ao lhe dar funções judiciárias, a ditadura dissimulou as arbitrariedades da repressão política que, em certos momentos, baixou até o nível da delinqüência comum. Foi quando, tal qual uma Gestapo ou uma KGB dos trópicos, a velha Polícia desaprendeu a arte de investigar e se especializou em métodos de arrancar confissões e acomodar provas.
Não se precisa dizer que, em uma democracia, uma Polícia assim anacrônica não tem muito o que fazer. Mas como na cabeça dos governantes, cidadão só serve mesmo é para votar – criar os juizados de instrução, equipar a Polícia e treinar os policiais não são obras que se possa exibir nas campanhas eleitorais. Nem superfaturar para recompensar os amigos do peito.
A reportagem está na Zero Hora de hoje. O delegado queixa-se da dificuldade de provar a culpa de ladrões e receptadores, mas os exemplos que fornece para fundamentar sua argumentação dizem respeito às deficiências da estrutura de prevenção e repressão ao crime no Brasil.
Esta estrutura é herança do regime militar. O papel da velha Polícia, que todos conhecíamos, admirávamos e amávamos, de se responsabilizar pela segurança do cidadão, foi deturpado para que pudesse servir à segurança do Estado.
Ao lhe dar funções judiciárias, a ditadura dissimulou as arbitrariedades da repressão política que, em certos momentos, baixou até o nível da delinqüência comum. Foi quando, tal qual uma Gestapo ou uma KGB dos trópicos, a velha Polícia desaprendeu a arte de investigar e se especializou em métodos de arrancar confissões e acomodar provas.
Não se precisa dizer que, em uma democracia, uma Polícia assim anacrônica não tem muito o que fazer. Mas como na cabeça dos governantes, cidadão só serve mesmo é para votar – criar os juizados de instrução, equipar a Polícia e treinar os policiais não são obras que se possa exibir nas campanhas eleitorais. Nem superfaturar para recompensar os amigos do peito.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2005
A marca do Sorro - Jayme Copstein
Mal atarrachada no rosto, a máscara com que Aldo Rebelo se disfarçara de cordeiro, ao assumir a presidência da Câmara Federal, esborrachou-se com sua negativa recente de que o mensalão tenha existido.
É verdade que Rebelo tem dificuldades com a semântica. Sua iniciativa mais notável, como parlamentar, foi o ridículo projeto para ejetar do dicionário as palavras de origem estrangeira, que não entendia.
Apesar da montanha de indícios e provas, demonstrados com fartura pelo relator da CPI, Osmar Serraglio, como não é possível apurar o dia, a hora, o minuto e o segundo exatos em que o dinheiro da batota era pago, Rebelo simula não perceber que “mensalão” é gatunagem pura e não “salários não contabilizados”.
Faça-se justiça ainda que tardia. O deputado gaúcho, Alceu Collares, acusado de oportunista e demagogo, teve razão quando argüiu a falta de autoridade moral de Rebello para presidir a sessão que cassou José Dirceu.
Rebello fez um discurso indignado, sob os aplausos delirantes até da oposição. Mas sua atuação posterior, quando a Câmara enodoou a história política do país, absolvendo Romeu Queiroz, com direito a boca de urna e a cédulas previamente marcadas com “não”, mostra que por trás da máscara de cordeiro, havia não um lobo das estepes, mas um brasileiríssimo sorro manso.
É verdade que Rebelo tem dificuldades com a semântica. Sua iniciativa mais notável, como parlamentar, foi o ridículo projeto para ejetar do dicionário as palavras de origem estrangeira, que não entendia.
Apesar da montanha de indícios e provas, demonstrados com fartura pelo relator da CPI, Osmar Serraglio, como não é possível apurar o dia, a hora, o minuto e o segundo exatos em que o dinheiro da batota era pago, Rebelo simula não perceber que “mensalão” é gatunagem pura e não “salários não contabilizados”.
Faça-se justiça ainda que tardia. O deputado gaúcho, Alceu Collares, acusado de oportunista e demagogo, teve razão quando argüiu a falta de autoridade moral de Rebello para presidir a sessão que cassou José Dirceu.
Rebello fez um discurso indignado, sob os aplausos delirantes até da oposição. Mas sua atuação posterior, quando a Câmara enodoou a história política do país, absolvendo Romeu Queiroz, com direito a boca de urna e a cédulas previamente marcadas com “não”, mostra que por trás da máscara de cordeiro, havia não um lobo das estepes, mas um brasileiríssimo sorro manso.
terça-feira, 27 de dezembro de 2005
A verdade dos números - Jayme Copstein
A Folha de São Paulo publicou domingo avaliação do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, o Cebrap, que deita água fria no entusiasmo do governo por suposta diminuição da desigualdade de renda no país.
Os números estão dizendo algo bem diferente. Há empobrecimento da classe média, o que fez cair a diferença, sem que o grupo mais pobre tivesse avançado um níquel que fosse. Pelo contrário, o rendimento médio dos mais pobres caiu em torno de 40% nos últimos 10 anos, com os programas sociais ocupando papel importante como fonte principal de renda das famílias.
Pode-se argumentar que a situação seria pior se esses programas sociais não existissem. O raciocínio, porém, não encara que a falta de instrução faz tais camadas da população considerar o “bolsa família” uma espécie de “emprego público”. É mais “garantido” do que o trabalho na iniciativa privada, onde se gera, de verdade, a riqueza a ser distribuída.
A visão deformada resulta da crassa ignorância em que são mantidas as massas, para torná-las dóceis ao manejo eleitoral. Entra governo, sai governo, sucedem-se as mirabolâncias de um ensino universitário que excede a capacidade de assimilação da maioria dos alunos supostamente alfabetizados. Libertar o povo das amarras faria os salvadores da pátria não terem mais o que salvar...
Os números estão dizendo algo bem diferente. Há empobrecimento da classe média, o que fez cair a diferença, sem que o grupo mais pobre tivesse avançado um níquel que fosse. Pelo contrário, o rendimento médio dos mais pobres caiu em torno de 40% nos últimos 10 anos, com os programas sociais ocupando papel importante como fonte principal de renda das famílias.
Pode-se argumentar que a situação seria pior se esses programas sociais não existissem. O raciocínio, porém, não encara que a falta de instrução faz tais camadas da população considerar o “bolsa família” uma espécie de “emprego público”. É mais “garantido” do que o trabalho na iniciativa privada, onde se gera, de verdade, a riqueza a ser distribuída.
A visão deformada resulta da crassa ignorância em que são mantidas as massas, para torná-las dóceis ao manejo eleitoral. Entra governo, sai governo, sucedem-se as mirabolâncias de um ensino universitário que excede a capacidade de assimilação da maioria dos alunos supostamente alfabetizados. Libertar o povo das amarras faria os salvadores da pátria não terem mais o que salvar...
quinta-feira, 22 de dezembro de 2005
O fazedor de gestos - Jayme Copstein
Afora o texto de Bruno Garschagen – “Ai de ti, crônica brasileira!” – publicado na revista eletrônica NoMínimo, o décimo-quinto aniversário da morte de Rubem Braga passou em branco na imprensa brasileira.
De alguma maneira, sorte do “velho” Braga, se é que alguém, depois de morto, pode estar ou não sujeito ao azar. Ao menos, sua memória foi poupada da mediocridade modernosa que não consegue ir além de um “tantos anos sem fulano”, ao registrar efemérides que reverenciam mortos ilustres. Não se admirem se, em qualquer Páscoa, algum gênio pespegar “Dois mil anos sem Jesus”, ainda que involuntariamente possa ter um pouco de razão.
Mas chama a atenção na matéria de Bruno, a observação de Álvaro da Costa e Silva, editor do Caderno “Idéias”, do Jornal do Brasil, temendo que não haja espaço nos jornais de hoje, para crônicas como as de Rubem Braga. Bastaria, entretanto, relacionar-se Luiz Fernando Veríssimo, Moacyr Scliar, Sérgio da Costa Franco e Cláudia Laytano, ficando apenas com gaúchos, para atenuar tais receios,
Provavelmente, a preocupação de Costa e Silva tem a ver com a contrafação chamada “jornal-empresa” ou coisa que o valha, parida no cérebro (?) de engravatados executivos, incapazes de ver na Vênus de Milo algo além da oportunidade de vender braços mecânicos, “melhores que os de nascença”. É a explicação para os salários de nada, a ausência de talento e a acentuada fuga de leitores do jornalismo impresso.
Rubem Braga haveria de sorrir, se é que conseguisse prestar atenção a essas pequenezas. Tinha importâncias maiores com que se ocupar, como por exemplo, a primavera chegando na Rua do Catete.
Sei, porque conheci o “velho” Braga pessoalmente e muito conversei com ele, quando ia ao Rio. Escrevi uma crônica, para comemorar os seus setenta anos, publicada em fevereiro de 1983, no caderno “Letras e Livros” do velho Correio do Povo. Chamava-se “O fazedor de gestos”. Era assim:
Durante seis dias o velho Jeovah obrou o mundo com mania de grandeza. Fez céus, terras, mares, montanhas, fabricou o homem. E no sétimo dia viu as coisas que tinha feito, achou que eram boas, jogou fora o entulho e foi descansar, que ninguém é de ferro.
Pois nesse mesmo sétimo dia, o velho Braga nasceu no Cachoeiro do Itapemirim. Viu a Obra e achou que não era lá essas coisas porque, em toda a mania de grandeza, falta a pequenez do gestos que é o sal da vida. E então, com o barro sobrado do homem, desandou a fabricar sonhos, esperanças, brisas, crianças, sereias. Porque tudo são gestos. A flor é um gesto da primavera, assim como o arrepio da mulher amada é um gesto de amor e por aí afora.
O tempo desta história ninguém sabe. Nietzsche diz que Jeovah está morto, Jeovah diz que Nietzsche está morto e mostra a sepultura, enfim, é um pouco mais do que palavra contra palavra. Mas o velho Braga tem 70 anos. Isso é um gesto da vida que todos acham bom e festejam.
Como alguém pode ter apenas 70 anos e ser contemporâneo da criação do mundo, é mistério. Melhor dito, um gesto do velho Jeovah. De colega para colega. Que Ele também os tem.
De alguma maneira, sorte do “velho” Braga, se é que alguém, depois de morto, pode estar ou não sujeito ao azar. Ao menos, sua memória foi poupada da mediocridade modernosa que não consegue ir além de um “tantos anos sem fulano”, ao registrar efemérides que reverenciam mortos ilustres. Não se admirem se, em qualquer Páscoa, algum gênio pespegar “Dois mil anos sem Jesus”, ainda que involuntariamente possa ter um pouco de razão.
Mas chama a atenção na matéria de Bruno, a observação de Álvaro da Costa e Silva, editor do Caderno “Idéias”, do Jornal do Brasil, temendo que não haja espaço nos jornais de hoje, para crônicas como as de Rubem Braga. Bastaria, entretanto, relacionar-se Luiz Fernando Veríssimo, Moacyr Scliar, Sérgio da Costa Franco e Cláudia Laytano, ficando apenas com gaúchos, para atenuar tais receios,
Provavelmente, a preocupação de Costa e Silva tem a ver com a contrafação chamada “jornal-empresa” ou coisa que o valha, parida no cérebro (?) de engravatados executivos, incapazes de ver na Vênus de Milo algo além da oportunidade de vender braços mecânicos, “melhores que os de nascença”. É a explicação para os salários de nada, a ausência de talento e a acentuada fuga de leitores do jornalismo impresso.
Rubem Braga haveria de sorrir, se é que conseguisse prestar atenção a essas pequenezas. Tinha importâncias maiores com que se ocupar, como por exemplo, a primavera chegando na Rua do Catete.
Sei, porque conheci o “velho” Braga pessoalmente e muito conversei com ele, quando ia ao Rio. Escrevi uma crônica, para comemorar os seus setenta anos, publicada em fevereiro de 1983, no caderno “Letras e Livros” do velho Correio do Povo. Chamava-se “O fazedor de gestos”. Era assim:
Durante seis dias o velho Jeovah obrou o mundo com mania de grandeza. Fez céus, terras, mares, montanhas, fabricou o homem. E no sétimo dia viu as coisas que tinha feito, achou que eram boas, jogou fora o entulho e foi descansar, que ninguém é de ferro.
Pois nesse mesmo sétimo dia, o velho Braga nasceu no Cachoeiro do Itapemirim. Viu a Obra e achou que não era lá essas coisas porque, em toda a mania de grandeza, falta a pequenez do gestos que é o sal da vida. E então, com o barro sobrado do homem, desandou a fabricar sonhos, esperanças, brisas, crianças, sereias. Porque tudo são gestos. A flor é um gesto da primavera, assim como o arrepio da mulher amada é um gesto de amor e por aí afora.
O tempo desta história ninguém sabe. Nietzsche diz que Jeovah está morto, Jeovah diz que Nietzsche está morto e mostra a sepultura, enfim, é um pouco mais do que palavra contra palavra. Mas o velho Braga tem 70 anos. Isso é um gesto da vida que todos acham bom e festejam.
Como alguém pode ter apenas 70 anos e ser contemporâneo da criação do mundo, é mistério. Melhor dito, um gesto do velho Jeovah. De colega para colega. Que Ele também os tem.
O quorum dos canalhas - Jayme Copstein
As absolvições do deputado federal Romeu Queiroz, réu confesso de manejo de 450 mil reais de origem escusa, e do deputado estadual do Ceará, José Nobre, envolvido nos dólares do cuecão, conduzem à reflexão do equívoco a que a opinião pública foi induzida no impeachment de Fernando Collor de Mello.
Havia motivos de sobra para cassar Collor, mas também eles existiam, sim, para extinguir com desonra os mandatos de Queiroz e de Nobre. A única conclusão a que se chega é que o “caçador de marajás” não contou com número suficiente de canalhas para lhe assegurar a impunidade.
A absolvição de Queiroz e de Nobre ultrapassa qualquer dimensão imaginável de falta de pudor. Na Câmara Federal, fazendo pose de imparcialidade, a presidência da Casa fechou convenientemente os olhos para a escancarada “boca de urna” em favor de Queiroz. Na Assembléia Legislativa do Ceará, seis cúmplices anularam o voto, o sétimo votou em branco, para deixar escapar por um voto o irmão de José Genoíno.
Pairando sobre este espetáculo máximo de indecência, a cordura da população, capaz de provocar um terremoto se o juiz de futebol anula o goal do seu time, mas assiste a tudo como se ocorresse em algum nebulosa remota.
Que diabo de país é esse?
Havia motivos de sobra para cassar Collor, mas também eles existiam, sim, para extinguir com desonra os mandatos de Queiroz e de Nobre. A única conclusão a que se chega é que o “caçador de marajás” não contou com número suficiente de canalhas para lhe assegurar a impunidade.
A absolvição de Queiroz e de Nobre ultrapassa qualquer dimensão imaginável de falta de pudor. Na Câmara Federal, fazendo pose de imparcialidade, a presidência da Casa fechou convenientemente os olhos para a escancarada “boca de urna” em favor de Queiroz. Na Assembléia Legislativa do Ceará, seis cúmplices anularam o voto, o sétimo votou em branco, para deixar escapar por um voto o irmão de José Genoíno.
Pairando sobre este espetáculo máximo de indecência, a cordura da população, capaz de provocar um terremoto se o juiz de futebol anula o goal do seu time, mas assiste a tudo como se ocorresse em algum nebulosa remota.
Que diabo de país é esse?
quarta-feira, 21 de dezembro de 2005
Onde está a honestidade? - Jayme Copstein
Onde está a honestidade? A pergunta, de um velho samba de Noel Rosa, é a manchete mais gritante dos jornais de hoje, apesar de não ter sido escrita.
Uma quadrilha de gatunos, todos formalmente diplomados, alguns talvez com pós-graduação e o que mais for parte da chamada educação superior, aboletou-se na Universidade de Cruz Alta e embolsou o dinheiro até das comemorações do centenário de Érico Veríssimo. O magnífico reitor está foragido. Ou deu no pé, como falam os doutos da malandragem.
Ao mesmo tempo em que isso acontece no Rio Grande do Sul, na Assembléia Legislativa do Ceará o irmão de José Genoíno, que além do nome de José Nobre – imaginem a contradição – é o patrão do homem das cuecas dolarizadas, escapou de ser cassado por apenas um voto, com sete espertalhões anulando ou votando em branco, sem que se saiba os relevantes motivos de tão corajosa decisão.
De outro lado, tudo absolutamente dentro da lei, o Tribunal de Contas da União sacramentou assalto de dois bilhões de reais ao Tesouro, mandando incorporar ao salário as gratificações, por exercício entre 1998 e 2001, de cargos de confiança nos três poderes
Onde está a honestidade?
Só falta aparecer alguém que a tenha encontrado, mas só devolve se lhe pagarem alguns milhões. Como já pontificou sua excelência, o presidente da República, achado não é roubado, companheiro.
Uma quadrilha de gatunos, todos formalmente diplomados, alguns talvez com pós-graduação e o que mais for parte da chamada educação superior, aboletou-se na Universidade de Cruz Alta e embolsou o dinheiro até das comemorações do centenário de Érico Veríssimo. O magnífico reitor está foragido. Ou deu no pé, como falam os doutos da malandragem.
Ao mesmo tempo em que isso acontece no Rio Grande do Sul, na Assembléia Legislativa do Ceará o irmão de José Genoíno, que além do nome de José Nobre – imaginem a contradição – é o patrão do homem das cuecas dolarizadas, escapou de ser cassado por apenas um voto, com sete espertalhões anulando ou votando em branco, sem que se saiba os relevantes motivos de tão corajosa decisão.
De outro lado, tudo absolutamente dentro da lei, o Tribunal de Contas da União sacramentou assalto de dois bilhões de reais ao Tesouro, mandando incorporar ao salário as gratificações, por exercício entre 1998 e 2001, de cargos de confiança nos três poderes
Onde está a honestidade?
Só falta aparecer alguém que a tenha encontrado, mas só devolve se lhe pagarem alguns milhões. Como já pontificou sua excelência, o presidente da República, achado não é roubado, companheiro.
terça-feira, 20 de dezembro de 2005
Lição de primeiras letras - Jayme Copstein
Enfim, a aritmética singela do dois-mais-dois-quatro, conhecida como a do bom-senso, volta às contas do Poder Judiciário gaúcho, na visão do novo presidente do Tribunal de Justiça do Estado, desembargador Marco Antô-nio Barbosa Leal. “Não adianta termos direito quando não há dinheiro para satisfazê-lo”, declarou à imprensa, ensinando o be-a-bá do equilíbrio que deve nortear a conduta de um homem público.
Magistrado de carreira, Marco Antônio Barbosa Leal é bacharel graduado por um celeiro de grandes juristas, a Faculdade de Direito de Pelotas, em cuja tradição o saber se casa ao destemor para desafiar mitos tingidos de verdade.
“No Brasil, hoje, com esse discurso idiota e cretino, mais vale ser parente de Fernandinho Beira-Mar do que familiar de magistrado”. Este é o retrato preciso, de corpo inteiro, que ele traça do Brasil de hoje, ao analisar a caça às bruxas em que se transformou a campanha de moralização do Judiciário na questão do nepotismo.
Tem razão o novo presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Mais grave é o nepotismo político, que organiza gangues para assaltar o poder e cevar-se à farta com os dinheiros da educação, da saúde e da segurança.
Magistrado de carreira, Marco Antônio Barbosa Leal é bacharel graduado por um celeiro de grandes juristas, a Faculdade de Direito de Pelotas, em cuja tradição o saber se casa ao destemor para desafiar mitos tingidos de verdade.
“No Brasil, hoje, com esse discurso idiota e cretino, mais vale ser parente de Fernandinho Beira-Mar do que familiar de magistrado”. Este é o retrato preciso, de corpo inteiro, que ele traça do Brasil de hoje, ao analisar a caça às bruxas em que se transformou a campanha de moralização do Judiciário na questão do nepotismo.
Tem razão o novo presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Mais grave é o nepotismo político, que organiza gangues para assaltar o poder e cevar-se à farta com os dinheiros da educação, da saúde e da segurança.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2005
História repetida - Jayme Copstein
Os homens cometem disparates, Deus é convocado para dar aval. Como se fosse uma espécie de FMI, com a imensa bolsa dos milagres à disposição das emergências.
Ariel Sharon, primeiro-ministro de Israel sofreu um derrame cerebral. Os terroristas do Hamas comemoraram, alegando castigo de Deus. Dispararam ar fuzis AK-47, inventados ao tempo da União Soviética e distribuídos aos povos amantes da paz para substituir, como todos sabem, os fogos de artifício na comemoração da desgraça dos adversários. Vocês conhecem algo mais poético e inofensivo?
Chama a atenção, entretanto, a semelhança com o episódio protagonizado pelos nazistas, ao final da Segunda Guerra Mundial. O país reduzido a escombros, adolescentes imberbes sacrificados para prolongar a vida de Hitler, seu leal servidor Goebbles lia relatos da Guerra dos Sete Anos. Detinha-se no figura de Frederico II, imperador da Prússia, que tinha até data marcada de suicídio, diante da inevitável derrota para os russos. Mas aí morreu a imperatriz da Rússia e a sorte das armas mudou, terminando com a vitória dos prussianos.
Os nazistas se perguntavam quem seriam a tzarina, cuja morte salvaria o pela segunda vez o Reich sagrado. Quando a chegou a notícia da morte do presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt, estouraram champanhas para comemorar a intervenção divina no curso da guerra. Não dispararam fuzis automáticos para o ar porque, àquela altura dos acontecimentos, havia mais bebida do que munição em seus paióis.
Como se vê, com ligeiras diferenças, as comemorações do derrame de Ariel Sharon são mera história repetida.
Ariel Sharon, primeiro-ministro de Israel sofreu um derrame cerebral. Os terroristas do Hamas comemoraram, alegando castigo de Deus. Dispararam ar fuzis AK-47, inventados ao tempo da União Soviética e distribuídos aos povos amantes da paz para substituir, como todos sabem, os fogos de artifício na comemoração da desgraça dos adversários. Vocês conhecem algo mais poético e inofensivo?
Chama a atenção, entretanto, a semelhança com o episódio protagonizado pelos nazistas, ao final da Segunda Guerra Mundial. O país reduzido a escombros, adolescentes imberbes sacrificados para prolongar a vida de Hitler, seu leal servidor Goebbles lia relatos da Guerra dos Sete Anos. Detinha-se no figura de Frederico II, imperador da Prússia, que tinha até data marcada de suicídio, diante da inevitável derrota para os russos. Mas aí morreu a imperatriz da Rússia e a sorte das armas mudou, terminando com a vitória dos prussianos.
Os nazistas se perguntavam quem seriam a tzarina, cuja morte salvaria o pela segunda vez o Reich sagrado. Quando a chegou a notícia da morte do presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt, estouraram champanhas para comemorar a intervenção divina no curso da guerra. Não dispararam fuzis automáticos para o ar porque, àquela altura dos acontecimentos, havia mais bebida do que munição em seus paióis.
Como se vê, com ligeiras diferenças, as comemorações do derrame de Ariel Sharon são mera história repetida.
Semântica e racismo - Jayme Copstein
O Brasil tem um problema negro ou são os negros que têm problemas no Brasil? A indagação é mais importante do que parece à primeira vista. O problema dos negros brasileiros é parte de um crime que se comete não só contra quem tem pele escura. Inclui a população pobre, que não é pequena, mantida de propósito em ignorância e miséria, para permitir o festim dos mensalistas aboletados no poder.
Assim sendo, o projeto bem-intencionado do senador Paulo Paim, já aprovado no Senado e à espera de votação na Câmara Federal,soma equívocos. Denominado Estatuto da Igualdade Racial, cai em artimanha montada para aplacar as tensões sociais e fingir mudanças que não mudam nada. Consiste na generosidade falseada de privilégios que vão além dos direitos de todos os cidadãos, como, por exemplo, as quotas em universidades.
É uma ilusão achar que um negro diplomado vá deixar de ser negro e discriminado no Brasil. Que testemunhem aqueles excepcionalmente bem-dotados, que conseguiram por seus próprios méritos, furar as barreiras.
No mesmo diapasão, inserem-se outras fraudes, como a de chamar aleijado de deficiente, velho de idoso, criança abandonada de carente.
Quem sabe começamos a falar em educação genuína. Palavras bonitas e hipocrisia não tiram ninguém da ignorância e da miséria por ela gerada.
Assim sendo, o projeto bem-intencionado do senador Paulo Paim, já aprovado no Senado e à espera de votação na Câmara Federal,soma equívocos. Denominado Estatuto da Igualdade Racial, cai em artimanha montada para aplacar as tensões sociais e fingir mudanças que não mudam nada. Consiste na generosidade falseada de privilégios que vão além dos direitos de todos os cidadãos, como, por exemplo, as quotas em universidades.
É uma ilusão achar que um negro diplomado vá deixar de ser negro e discriminado no Brasil. Que testemunhem aqueles excepcionalmente bem-dotados, que conseguiram por seus próprios méritos, furar as barreiras.
No mesmo diapasão, inserem-se outras fraudes, como a de chamar aleijado de deficiente, velho de idoso, criança abandonada de carente.
Quem sabe começamos a falar em educação genuína. Palavras bonitas e hipocrisia não tiram ninguém da ignorância e da miséria por ela gerada.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2005
No reino do mensalão - Jayme Copstein
Há qualquer coisa que não fecha na absolvição do deputado Romeu Queiroz, réu confesso da manipulação de 400 mil reais, de origem escusa, para fins eleitorais. Compare-se com o motivo alegado para se cassar o mandato do senador João Capiberibe: deu a fortuna de 52 reais a um casal, para comprar duas passagens de ônibus.
Pode-se contra-argumentar que os dois casos são diferentes. Uma diferença brutal, convenhamos, que tem como acréscimo o dedo de José Sarney, o condestável do Amapá, prestes a ser ejetado do trono por Capiberibe;
Há outras estranhezas, porém. Em determinado momento, a onda do mensalão arrefeceu. Foi quando Roberto Jeferson, o papa do neomoralismo, em súbito acesso de generosidade derramou indulgências plenárias a José Dirceu.
Os bastidores de tão comovente religiosidade escaparam à cobertura da imprensa. O que vem a furo são miudezas, diz-que-me-diz-que. Mas José Dirceu, por esperançoso, até estourou sua verba de gabinete para se movimentar na cabala de votos contra a cassação.
Em vão. Ícone como Jéferson, ou boi de piranha, os dois foram o preço para salvar o resto da tropilha. A começar por Romeu Queiroz, do PTB de Jeferson, absolvido ontem. Antes mesmo de começar a sessão que o julgou, contabilizava fartura de adeptos da sua inocência, inclusos aí 50 dos 81 deputados do PT de Dirceu, que como todos sabemos, é o partido da ética na política, como jamais houve na história deste país.
Ora, em um Congresso onde Sarney é gênio literário, não se fale em Shakespeare nem na Dinamarca. A podridão – e botem podridão nisso – é no reino do mensalão.
Pode-se contra-argumentar que os dois casos são diferentes. Uma diferença brutal, convenhamos, que tem como acréscimo o dedo de José Sarney, o condestável do Amapá, prestes a ser ejetado do trono por Capiberibe;
Há outras estranhezas, porém. Em determinado momento, a onda do mensalão arrefeceu. Foi quando Roberto Jeferson, o papa do neomoralismo, em súbito acesso de generosidade derramou indulgências plenárias a José Dirceu.
Os bastidores de tão comovente religiosidade escaparam à cobertura da imprensa. O que vem a furo são miudezas, diz-que-me-diz-que. Mas José Dirceu, por esperançoso, até estourou sua verba de gabinete para se movimentar na cabala de votos contra a cassação.
Em vão. Ícone como Jéferson, ou boi de piranha, os dois foram o preço para salvar o resto da tropilha. A começar por Romeu Queiroz, do PTB de Jeferson, absolvido ontem. Antes mesmo de começar a sessão que o julgou, contabilizava fartura de adeptos da sua inocência, inclusos aí 50 dos 81 deputados do PT de Dirceu, que como todos sabemos, é o partido da ética na política, como jamais houve na história deste país.
Ora, em um Congresso onde Sarney é gênio literário, não se fale em Shakespeare nem na Dinamarca. A podridão – e botem podridão nisso – é no reino do mensalão.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2005
Fora de lugar - Jayme Copstein
Afora as difíceis relações com jornalistas, cujo exercício da liberdade de expressão parece ofender vaidades e autoritarismos fora de época e de lugar, portanto sem nenhum sentido, o Judiciário começa a semear também ruídos nas suas conexões com a sociedade brasileira, particularmente com a do Rio Grande do Sul.
Trata-se das reivindicações salariais, cujos percentuais, todos os anos, são verdadeiros despropósitos em relação aos demais servidores públicos. É como se, de repente, o mito de Maria Antonieta – quem não tem pão, coma bolachas – se transformasse em virose que afetasse a visão periférica de seus portadores, impedindo-os de enxergar qualquer coisa além do seu próprio horizonte.
Há de se assinalar que, desta vez, ao contrário de anos anteriores, a postulação tem a marca da civilidade que sempre foi tradição do Poder Judiciário. Mas se o tom voltou ao que devia ser, a realidade continua fora de lugar. O Estado não tem como conceder o aumento no percentual que o Judiciário deseja. Nem é justo que o faça em detrimento dos funcionários dos demais poderes.
Os magistrados poderão alegar que a culpa não lhes cabe, mas também não pode ser imputada aos demais servidores, com seus salários de nada, menos ainda a qualquer um de nós, que enfrentamos escorchante carga tributária.
Nem é caso de sentar-se alguém no banco dos réus, não só porque foi soma de muitos equívocos que criou a presente situação de aprêmio nas finanças públicas. É também pela inutilidade de fazê-lo. Não adianta chorar sobre o leite derramado.
É preciso organizar o caos e transformá-lo em vida possível. Para isso, o sacrifício que se exige é de todos.
Trata-se das reivindicações salariais, cujos percentuais, todos os anos, são verdadeiros despropósitos em relação aos demais servidores públicos. É como se, de repente, o mito de Maria Antonieta – quem não tem pão, coma bolachas – se transformasse em virose que afetasse a visão periférica de seus portadores, impedindo-os de enxergar qualquer coisa além do seu próprio horizonte.
Há de se assinalar que, desta vez, ao contrário de anos anteriores, a postulação tem a marca da civilidade que sempre foi tradição do Poder Judiciário. Mas se o tom voltou ao que devia ser, a realidade continua fora de lugar. O Estado não tem como conceder o aumento no percentual que o Judiciário deseja. Nem é justo que o faça em detrimento dos funcionários dos demais poderes.
Os magistrados poderão alegar que a culpa não lhes cabe, mas também não pode ser imputada aos demais servidores, com seus salários de nada, menos ainda a qualquer um de nós, que enfrentamos escorchante carga tributária.
Nem é caso de sentar-se alguém no banco dos réus, não só porque foi soma de muitos equívocos que criou a presente situação de aprêmio nas finanças públicas. É também pela inutilidade de fazê-lo. Não adianta chorar sobre o leite derramado.
É preciso organizar o caos e transformá-lo em vida possível. Para isso, o sacrifício que se exige é de todos.
Os trapaceiros - Jayme Copstein
Os amadores aboletados no Itamaraty, desde que o sr. Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência da República, andariam melhor se acreditassem em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e Saci Pererê. Em vez da veemência, direito e arma dos justos e dos espoliados, preferem o discurso de mirabolantes alianças ideológicas, que descambam em fiasco.
Quando se fala em países pobres, fala-se nos países africanos. Foram todos neocolonizados pelos europeus sem grandes questionamentos, graças a esperto e safado sistema de lavagem cerebral, que tem o antiamericanismo como pedra de toque.
A ministra de Relações Exteriores da França acaba incorporar o Brasil entre os demônios, dizendo que – imaginem vocês – queremos deixar a Europa sem roupa
É assim que a hipocrisia européia formula o que chama de “preferência tarifária” – a isenção de impostos, sem limitação de cotas, concedida à produção agrícola das nações africanas. Em tudo, ao contrário do Brasil.
A produção agrícola desses países – café, cacau, algodão, açúcar – está nas mãos das grandes empresas européias, que a negociam como se cultivada no Velho Mundo. Quando se reclama contra a maroteira, vem a resposta compungida: se o mesmo tratamento for concedido ao Brasil, a preferência pelos pobres desaparece também.
Há crocodilos, cujas lágrimas são bem mais convincentes.
Quando se fala em países pobres, fala-se nos países africanos. Foram todos neocolonizados pelos europeus sem grandes questionamentos, graças a esperto e safado sistema de lavagem cerebral, que tem o antiamericanismo como pedra de toque.
A ministra de Relações Exteriores da França acaba incorporar o Brasil entre os demônios, dizendo que – imaginem vocês – queremos deixar a Europa sem roupa
É assim que a hipocrisia européia formula o que chama de “preferência tarifária” – a isenção de impostos, sem limitação de cotas, concedida à produção agrícola das nações africanas. Em tudo, ao contrário do Brasil.
A produção agrícola desses países – café, cacau, algodão, açúcar – está nas mãos das grandes empresas européias, que a negociam como se cultivada no Velho Mundo. Quando se reclama contra a maroteira, vem a resposta compungida: se o mesmo tratamento for concedido ao Brasil, a preferência pelos pobres desaparece também.
Há crocodilos, cujas lágrimas são bem mais convincentes.
terça-feira, 13 de dezembro de 2005
Espírito nada santo - Jayme Copstein
O adjetivo mais brando que se pode aplicar ao ocorrido no Espírito Santo é: estarrecedor.
A Polícia Civil requereu e obteve da Justiça capixaba autorização para escuta telefônica de jornalistas e funcionários do jornal “A Gazeta”, da TV Gazeta e da Rádio CBN, veículos que integram a Rede Gazeta da cidade de Vitória.
O juiz de primeira instância, autor da decisão, e o desembargador que a confirmou na segunda instância, justificaram-se, alegando que foram enganados: policiais introduziram os números da Rede Gazeta, dentro de uma relação de telefones que tinham a ver com outra investigação.
Não há porque se duvidar da palavra dos dois magistrados, mas não é possível absolvê-los do pecado de desleixo. Se um crime é investigado, também devem ser identificados os telefones cuja quebra de sigilo é solicitada à Justiça.
A omissão abala um dos pilares em que se assenta a vida em sociedade: a confiança dos cidadãos em seu Judiciário.
É evidente que os policiais do Espírito Santo desejavam identificar quem está informando os jornalistas da Rede Gazeta sobre a corrupção que atingiu em cheio a corporação e tem sido denunciada pela imprensa. A intimidação de testemunhas e até o seu assassinato são notícias que estão todos os dias nos jornais.
O que aconteceu foi realmente estarrecedor.
A Polícia Civil requereu e obteve da Justiça capixaba autorização para escuta telefônica de jornalistas e funcionários do jornal “A Gazeta”, da TV Gazeta e da Rádio CBN, veículos que integram a Rede Gazeta da cidade de Vitória.
O juiz de primeira instância, autor da decisão, e o desembargador que a confirmou na segunda instância, justificaram-se, alegando que foram enganados: policiais introduziram os números da Rede Gazeta, dentro de uma relação de telefones que tinham a ver com outra investigação.
Não há porque se duvidar da palavra dos dois magistrados, mas não é possível absolvê-los do pecado de desleixo. Se um crime é investigado, também devem ser identificados os telefones cuja quebra de sigilo é solicitada à Justiça.
A omissão abala um dos pilares em que se assenta a vida em sociedade: a confiança dos cidadãos em seu Judiciário.
É evidente que os policiais do Espírito Santo desejavam identificar quem está informando os jornalistas da Rede Gazeta sobre a corrupção que atingiu em cheio a corporação e tem sido denunciada pela imprensa. A intimidação de testemunhas e até o seu assassinato são notícias que estão todos os dias nos jornais.
O que aconteceu foi realmente estarrecedor.
O gabinete sombra - Jayme Copstein
Correspondência de Ralph Hofmann, de Porto Alegre, induz a ligar coisas aparentemente sem nexo – a acusação de golpismo, feita por Lula à oposição, e a sua antiga tentativa de criar um governo paralelo, quando Fernando Henrique Cardoso assumiu o primeiro mandato.
A idéia não era original nem Lula reivindicava a paternidade. Derrotado mais uma vez nas urnas, manifestava a inconformidade com o desejo dos eleitores. Buscou no parlamentarismo o chamado "shadow cabinet" – o gabinete sombra – para “marcar de cima” o novo governo.
A invenção não seguiu adiante por descabida no regime presidencialista. Tem cheiro de conspiração.
O conceito original de gabinete-sombra é bem outro. Funciona como laboratório para a oposição e a prepara para assumir o poder, na eventualidade de se alterarem as forças no Parlamento. Os integrantes têm status de ministro. Recebem todas as informações concernentes à sua pasta e nela não serão os estranhos que não sabem sequer onde fica o banheiro.
Por conter tantas salvaguardas, o parlamentarismo é infinitamente superior ao presidencialismo. Não acaba com as crises, mas as resolve rapidamente, dentro da lei, sem paralisar a vida da Nação.
Não é nenhuma panacéia. Com a falta de qualidade de congressistas eleitos pelo voto proporcional, sua adoção significaria trocar um caos pelo outro. Tivéssemos o bom e velho voto distrital, poderíamos considerar tranqüilamente o parlamentarismo. O Brasil não estaria atolado nesta crise que se instalou desde que Roberto Jefferson jogou esterco no ventilador.
A idéia não era original nem Lula reivindicava a paternidade. Derrotado mais uma vez nas urnas, manifestava a inconformidade com o desejo dos eleitores. Buscou no parlamentarismo o chamado "shadow cabinet" – o gabinete sombra – para “marcar de cima” o novo governo.
A invenção não seguiu adiante por descabida no regime presidencialista. Tem cheiro de conspiração.
O conceito original de gabinete-sombra é bem outro. Funciona como laboratório para a oposição e a prepara para assumir o poder, na eventualidade de se alterarem as forças no Parlamento. Os integrantes têm status de ministro. Recebem todas as informações concernentes à sua pasta e nela não serão os estranhos que não sabem sequer onde fica o banheiro.
Por conter tantas salvaguardas, o parlamentarismo é infinitamente superior ao presidencialismo. Não acaba com as crises, mas as resolve rapidamente, dentro da lei, sem paralisar a vida da Nação.
Não é nenhuma panacéia. Com a falta de qualidade de congressistas eleitos pelo voto proporcional, sua adoção significaria trocar um caos pelo outro. Tivéssemos o bom e velho voto distrital, poderíamos considerar tranqüilamente o parlamentarismo. O Brasil não estaria atolado nesta crise que se instalou desde que Roberto Jefferson jogou esterco no ventilador.
O morto fingido - Jayme Copstein
Lúcia Hipólito, comentarista política da Rádio CBN de São Paulo, está alertando a Nação para o risco de o deputado federal João Paulo Cunha, escapar da cassação de mandato. Ele está se fingindo de morto, para que se esqueçam dele, com toda a certeza por conselho dos muitos amigos que fez quando teve a faca, o queijo e a chave do cofre na mão, no tempo em que presidiu a Câmara Federal.
Como bem assinala Lúcia Hipólito, esses amigos de João Paulo estão brincando com fogo, achando que a opinião pública e o eleitor brasileiro ainda são bobos, desinformados e desmemoriados, como no tempo de D. João Charuto. Com a comunicação instantânea de hoje, ninguém vai deixar passar que as explicações por ele oferecidas à Comissão de Ética eram simplórias e contraditórias e equivaleram a uma rasgada confissão.
Primeiro, era apenas sua mulher reclamando diferenças de uma conta de tevê a cabo, depois ela retirava 50 mil reais para fazer um pagamento. Finalmente admitiu que alguém o tranqüilizara, garantindo que abaixo de 100 mil reais, o Coaf - Conselho de Controle de Atividades Financeiras – não registrava operações.
Que não registrasse, e portanto não houvesse prova do seu envolvimento com o mensalão. Mas há também, apesar de ter sido candidato único, a campanha eleitoral para presidência da Câmara, contratada a peso de ouro a Marcos Valério, e paga depois com 10 milhões e 500 mil reais, sob pretexto de fazer propaganda da Câmara de Deputados. De sobra, mas incluída no preço ou como lambuja, pesquisa para saber as chances de João Paulo eleger-se governador de São Paulo.
É trapalhada demais para ser esquecida. Vocês – lembrem-se disso.
Como bem assinala Lúcia Hipólito, esses amigos de João Paulo estão brincando com fogo, achando que a opinião pública e o eleitor brasileiro ainda são bobos, desinformados e desmemoriados, como no tempo de D. João Charuto. Com a comunicação instantânea de hoje, ninguém vai deixar passar que as explicações por ele oferecidas à Comissão de Ética eram simplórias e contraditórias e equivaleram a uma rasgada confissão.
Primeiro, era apenas sua mulher reclamando diferenças de uma conta de tevê a cabo, depois ela retirava 50 mil reais para fazer um pagamento. Finalmente admitiu que alguém o tranqüilizara, garantindo que abaixo de 100 mil reais, o Coaf - Conselho de Controle de Atividades Financeiras – não registrava operações.
Que não registrasse, e portanto não houvesse prova do seu envolvimento com o mensalão. Mas há também, apesar de ter sido candidato único, a campanha eleitoral para presidência da Câmara, contratada a peso de ouro a Marcos Valério, e paga depois com 10 milhões e 500 mil reais, sob pretexto de fazer propaganda da Câmara de Deputados. De sobra, mas incluída no preço ou como lambuja, pesquisa para saber as chances de João Paulo eleger-se governador de São Paulo.
É trapalhada demais para ser esquecida. Vocês – lembrem-se disso.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2005
1984 é aqui - Jayme Copstein
Começam a pipocar na Justiça, dentro da indústria criada com as indenizações por danos morais, ações de filhos que cobram reparação do pai por abandono afetivo. Não se trata da prestação de alimentos, popularizada como “pensão”, mas de remuneração por uma pseudo-orfandade.
O casal separa-se em desarmonia, as crianças ficam ao encargo da mãe e são industriadas para comportamento agressivo em relação ao pai. Esta é a causa mais freqüente do afastamento. Há outras, como eventual mudança de residência para cidades ou países distantes, mas não é caso de se escrever aqui um tratado geral das difíceis relações entre filhos e pais separados.
O importante da questão é que alguns tribunais brasileiros têm concedido as indenizações, como se coubesse ao Estado - e a alguns magistrados em particular - impor, controlar, dirigir, permitir ou proibir os sentimentos das pessoas.
O repúdio a tal violência é a semente que gerou obras-primas da literatura universal, como “1984” de George Orwell, ou “Admirável mundo novo” , de Aldous Huxley, ambas inspiradas em “Nós”, do escritor russo Eugênio Zamyatin.
Para mostrar o ridículo e o absurdo da questão, basta dizer que, concedida a indenização ao “órfão” de pai vivo, poderá ele reivindicar mais outra indenização por danos morais, também da mãe. Pela incompetência de escolher pai adequado ao “coitadinho”.
O casal separa-se em desarmonia, as crianças ficam ao encargo da mãe e são industriadas para comportamento agressivo em relação ao pai. Esta é a causa mais freqüente do afastamento. Há outras, como eventual mudança de residência para cidades ou países distantes, mas não é caso de se escrever aqui um tratado geral das difíceis relações entre filhos e pais separados.
O importante da questão é que alguns tribunais brasileiros têm concedido as indenizações, como se coubesse ao Estado - e a alguns magistrados em particular - impor, controlar, dirigir, permitir ou proibir os sentimentos das pessoas.
O repúdio a tal violência é a semente que gerou obras-primas da literatura universal, como “1984” de George Orwell, ou “Admirável mundo novo” , de Aldous Huxley, ambas inspiradas em “Nós”, do escritor russo Eugênio Zamyatin.
Para mostrar o ridículo e o absurdo da questão, basta dizer que, concedida a indenização ao “órfão” de pai vivo, poderá ele reivindicar mais outra indenização por danos morais, também da mãe. Pela incompetência de escolher pai adequado ao “coitadinho”.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2005
O marido enganado - Jayme Copstein
Já há tempo, o Brasil está dentro do Mercosul como marido enganado, tentando salvar um casamento que já terminou. Kirchner obteve até agora tudo o que exigiu, concedido carneiramente pelos amadores que se aboletaram no Itamaraty, em nome de uma suposta unidade ideológica que só existe em delírio de mesa de bar.
Ele quer mais agora: que a união aduaneira tenha valor para os parceiros. A Argentina continuará usufruindo de privilégios na importação de máquinas, equipamentos, bens de informática e de telecomunicações.
As pretensões argentinas serão mais difíceis de sustar com o ingresso, não propriamente da Venezuela, mas de Hugo Chaves, o novo Napoleão das Américas, que tem financiado os déficits de caixa da Argentina com a receita extraordinária do petróleo, cujos preços começam a mostrar arrefecimento no mercado internacional. É ele que mantém o precário equilíbrio de Kirchner.
A aventura tanto de Chaves como de Kirchner, na política exterior, vai depender dos rigores do inverno no Hemisfério Norte. Se os estoques norte-americanos bastarem para suprir as necessidades deste ano, os preços caem. Chaves terá dificuldades para financiar seus planos de grande líder continental e Kirchner ficará segurando o pincel, descobrindo que a escada era como aquele anel que sendo de vidro, se quebrou.
A todas essas, quem pagará o maior preço será o Brasil. Passou a hora de negociar a Alça em uma posição de prestígio. Aos nossos diplomatas ficará reservado o papel de boi de presépio, com Kirchner e Chavez dando as cartas.
Depois de tudo isso, enfim o sr. Luiz Inácio Lula da Silva terá autoridade para dizer que jamais, em toda a história do país, o Itamaraty teve uma diplomacia como a de agora. Tanta incompetência jamais foi vista desde 1822.
Ele quer mais agora: que a união aduaneira tenha valor para os parceiros. A Argentina continuará usufruindo de privilégios na importação de máquinas, equipamentos, bens de informática e de telecomunicações.
As pretensões argentinas serão mais difíceis de sustar com o ingresso, não propriamente da Venezuela, mas de Hugo Chaves, o novo Napoleão das Américas, que tem financiado os déficits de caixa da Argentina com a receita extraordinária do petróleo, cujos preços começam a mostrar arrefecimento no mercado internacional. É ele que mantém o precário equilíbrio de Kirchner.
A aventura tanto de Chaves como de Kirchner, na política exterior, vai depender dos rigores do inverno no Hemisfério Norte. Se os estoques norte-americanos bastarem para suprir as necessidades deste ano, os preços caem. Chaves terá dificuldades para financiar seus planos de grande líder continental e Kirchner ficará segurando o pincel, descobrindo que a escada era como aquele anel que sendo de vidro, se quebrou.
A todas essas, quem pagará o maior preço será o Brasil. Passou a hora de negociar a Alça em uma posição de prestígio. Aos nossos diplomatas ficará reservado o papel de boi de presépio, com Kirchner e Chavez dando as cartas.
Depois de tudo isso, enfim o sr. Luiz Inácio Lula da Silva terá autoridade para dizer que jamais, em toda a história do país, o Itamaraty teve uma diplomacia como a de agora. Tanta incompetência jamais foi vista desde 1822.
terça-feira, 6 de dezembro de 2005
As moscas do vice - Jayme Copstein
A mágica do milhão de reais surgido na cartola do vice-presidente José Alencar, é outro dos mais instigantes enigmas desta república latino-americana. Ninguém sabe, ninguém viu. O PT lava as mãos em público. No privado, Berzoini pede desculpas. Foi “sem-querer”, diz com candura.
Senador por Minas Gerais, Alencar achava que sabia tudo de política. Eleito vice na chapa de Lula, as luzes e as trombetas do Planalto o anestesiaram para a ferroada da mosca azul, a qual, ao contrário da sonolenta tse-tsé, dá febre de grandeza.
Pilotando discurso contra juros altos, que lhe pareceu ser o tema preferencial da campanha de 2006, Alencar criou partido próprio e candidatou-se à presidência da República. Até aí, flores. Havia o estímulo de Lula, mesmo porque o projeto é ter Nelson Jobim como vice na chapa da reeleição. Ao se inventar candidato, Alencar dispensava desculpas e compensações pela ruptura.
Ele,porém, levou a sério o papel. Começou a bater no governo em tom acima do diapasão e entornou o caldo. Estourou o escândalo da Coteminas.
Alencar, agora, mergulha em profundas reflexões sobre a arte da política. Detém toda a atenção no capítulo das moscas, cuja cor é o que menos importa. O problema é a boca. Que deve ser mantida fechada para que elas não entrem.
Senador por Minas Gerais, Alencar achava que sabia tudo de política. Eleito vice na chapa de Lula, as luzes e as trombetas do Planalto o anestesiaram para a ferroada da mosca azul, a qual, ao contrário da sonolenta tse-tsé, dá febre de grandeza.
Pilotando discurso contra juros altos, que lhe pareceu ser o tema preferencial da campanha de 2006, Alencar criou partido próprio e candidatou-se à presidência da República. Até aí, flores. Havia o estímulo de Lula, mesmo porque o projeto é ter Nelson Jobim como vice na chapa da reeleição. Ao se inventar candidato, Alencar dispensava desculpas e compensações pela ruptura.
Ele,porém, levou a sério o papel. Começou a bater no governo em tom acima do diapasão e entornou o caldo. Estourou o escândalo da Coteminas.
Alencar, agora, mergulha em profundas reflexões sobre a arte da política. Detém toda a atenção no capítulo das moscas, cuja cor é o que menos importa. O problema é a boca. Que deve ser mantida fechada para que elas não entrem.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2005
Pena de morte -- Jayme Copstein
Ao executar o milésimo criminoso, os Estados Unidos recebem pedido da União Européia para a abolição da pena de morte, restabelecida no país em 1976. Como de hábito, o apelo veio acompanhado de argumentos que alinham desde sentimentos humanitários até interpretações erráticas das estatísticas de criminalidade.
O que traz a pena de morte para o centro do debate é sempre a crueldade dos crimes contra a vida. Se ela, uma violência em si, contribui ou não para aumentar ou diminuir a violência, é uma discussão sem fim, em que qualquer ponto de vista pode ser defendido.
Há, entretanto, um argumento sólido e irrespondível: o erro judicial, de alguma maneira reparável em qualquer outra circunstância, é irreversível na pena de morte. Não há forma de se compensar a vítima.
É absolutamente irracional justificar-se que alguns inocentes são o preço a pagar para livrar a sociedade dos seus piores criminosos. A contabilidade é uma ciência só aplicável aos parafusos de um robô, não aos enigmas dos seres humanos.
Ademais, neste planeta dinheirista em que vivemos, há muito tempo foi revogado o aforismo de que todos são inocentes até prova em contrário. Prevalece a certeza de que todos são culpados até que um bom advogado, e bem pago, diga que não.
O que traz a pena de morte para o centro do debate é sempre a crueldade dos crimes contra a vida. Se ela, uma violência em si, contribui ou não para aumentar ou diminuir a violência, é uma discussão sem fim, em que qualquer ponto de vista pode ser defendido.
Há, entretanto, um argumento sólido e irrespondível: o erro judicial, de alguma maneira reparável em qualquer outra circunstância, é irreversível na pena de morte. Não há forma de se compensar a vítima.
É absolutamente irracional justificar-se que alguns inocentes são o preço a pagar para livrar a sociedade dos seus piores criminosos. A contabilidade é uma ciência só aplicável aos parafusos de um robô, não aos enigmas dos seres humanos.
Ademais, neste planeta dinheirista em que vivemos, há muito tempo foi revogado o aforismo de que todos são inocentes até prova em contrário. Prevalece a certeza de que todos são culpados até que um bom advogado, e bem pago, diga que não.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2005
Incertas certezas - Jayme Copstein
É puro dramalhão a frase, perfilhada pelo comandante do Policiamento de Porto Alegre, explicando a execução de um industrial por assaltante que lhe queria roubar o carro.
“Ele estava no lugar errado, na hora errada.”
O que significa que era o assaltante quem estava no lugar certo, na hora certa.
A elucubração altamente filosófica induz à pergunta:
“Em que lugar estava a Polícia?”
O comandante responde: “Onde estamos, ele não comete o crime.”
Se o assaltante comete o crime onde a Polícia não está, ele está no lugar certo, a Polícia no lugar errado.
O comandante, quando põe de lado as frases de efeito, em apenas duas palavras toca no cerne do problema: impunidade e reincidência. Causa e efeito.
Mas ele o afirma com timidez, o que mostrar o constrangimento a que o politicamente correto submete a sociedade brasileira contemporânea.
É o que preserva o código de porta de cadeia, cuja mudança, essencial para que pudesse migrar ao átrio dos fóruns, ninguém pede.
É mais fácil, parece, processar jornalistas.
“Ele estava no lugar errado, na hora errada.”
O que significa que era o assaltante quem estava no lugar certo, na hora certa.
A elucubração altamente filosófica induz à pergunta:
“Em que lugar estava a Polícia?”
O comandante responde: “Onde estamos, ele não comete o crime.”
Se o assaltante comete o crime onde a Polícia não está, ele está no lugar certo, a Polícia no lugar errado.
O comandante, quando põe de lado as frases de efeito, em apenas duas palavras toca no cerne do problema: impunidade e reincidência. Causa e efeito.
Mas ele o afirma com timidez, o que mostrar o constrangimento a que o politicamente correto submete a sociedade brasileira contemporânea.
É o que preserva o código de porta de cadeia, cuja mudança, essencial para que pudesse migrar ao átrio dos fóruns, ninguém pede.
É mais fácil, parece, processar jornalistas.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2005
O fundo do poço - Jayme Copsteun
A cada dia deslizamos mais fundo no abismo da insegurança a que nos conduziu o código de porta de cadeia, decretado no Brasil como uma passe de mágica, uma varinha de condão, a cujo toque todos dar-se-iam as mãos, tornar-se-iam irmãos, cantariam louvações a Deus e seríamos felizes para sempre.
O que se viu ontem, no Rio de Janeiro, foi a falência dessa ingenuidade, cuja fronteira com a idiotice é difícil delinear. Os traficantes deixaram quatro corpos queimados em um automóvel e comunicaram à Polícia que tinha começado a punir os autores do massacre do ônibus incendiado.
O recado é claro: os traficantes estão dizendo que fundaram um estado à parte, e criaram sua própria justiça no qual as pessoas são inocentes ou não, de acordo com o arbítrio e o poder dos líderes. Igual a qualquer ditadura, de direita ou de esquerda.
A Polícia respondeu com a desgastada frase de que não há bandidos bons. Significa que o rigor – pouco – que antes seria suficiente para conter a delinqüência, será substituído agora por um barbárie igual a praticada pelos criminosos.
Não há como fugir da realidade: trata-se de uma guerra – e na guerra, como na guerra.
É uma alucinação achar que, algum dia, o lobo e o cordeiro poderão sentar-se à mesma mesa. Se não cuidarmos de pôr um buçal no lobo, com toda a certeza o cordeiro estará na mesa, sim, mas em uma travessa, para ser comido. E o lobo há de se defender com unhas e dentes, para que não lhe tirem a presa.
Ao longo do tempo, perseguindo a utopia do paraíso terrestre, as pessoas foram incitadas à violência. Aquele brasileiro afável, cordial e solidário, que existia até os anos 60, foi deslocado por um ser amargo, grosseiro, que nada respeita, substitui a ética pela vantagem a qualquer preço, que mata e morre nas ruas e nas estradas e acha que lhe devem todos os favores da vida apenas por ter nascido no Brasil.
A educação, a única arma capaz de revolucionar um país, nunca foi pensada como solução. Capacita as pessoas a viver melhor e a tornar melhor a sociedade em que vivem. Mas elas adquirem também, quando instruídas e educadas, discernimento para identificar a demagogia barata e repelir aqueles que, sedentos de poder, mantêm as massas na mais absoluta ignorância, para manipulá-las segundo as seus interesses e mesquinharias.
É o que não convém a quem se banqueteia no poder.
O que se viu ontem, no Rio de Janeiro, foi a falência dessa ingenuidade, cuja fronteira com a idiotice é difícil delinear. Os traficantes deixaram quatro corpos queimados em um automóvel e comunicaram à Polícia que tinha começado a punir os autores do massacre do ônibus incendiado.
O recado é claro: os traficantes estão dizendo que fundaram um estado à parte, e criaram sua própria justiça no qual as pessoas são inocentes ou não, de acordo com o arbítrio e o poder dos líderes. Igual a qualquer ditadura, de direita ou de esquerda.
A Polícia respondeu com a desgastada frase de que não há bandidos bons. Significa que o rigor – pouco – que antes seria suficiente para conter a delinqüência, será substituído agora por um barbárie igual a praticada pelos criminosos.
Não há como fugir da realidade: trata-se de uma guerra – e na guerra, como na guerra.
É uma alucinação achar que, algum dia, o lobo e o cordeiro poderão sentar-se à mesma mesa. Se não cuidarmos de pôr um buçal no lobo, com toda a certeza o cordeiro estará na mesa, sim, mas em uma travessa, para ser comido. E o lobo há de se defender com unhas e dentes, para que não lhe tirem a presa.
Ao longo do tempo, perseguindo a utopia do paraíso terrestre, as pessoas foram incitadas à violência. Aquele brasileiro afável, cordial e solidário, que existia até os anos 60, foi deslocado por um ser amargo, grosseiro, que nada respeita, substitui a ética pela vantagem a qualquer preço, que mata e morre nas ruas e nas estradas e acha que lhe devem todos os favores da vida apenas por ter nascido no Brasil.
A educação, a única arma capaz de revolucionar um país, nunca foi pensada como solução. Capacita as pessoas a viver melhor e a tornar melhor a sociedade em que vivem. Mas elas adquirem também, quando instruídas e educadas, discernimento para identificar a demagogia barata e repelir aqueles que, sedentos de poder, mantêm as massas na mais absoluta ignorância, para manipulá-las segundo as seus interesses e mesquinharias.
É o que não convém a quem se banqueteia no poder.
Em um país livre - Jayme Copstein
Ao que considerou excesso de alguns jornalistas em criticá-lo por ter votado no julgamento do hábeas pedido por José Dirceu, o presidente do STF, ministro Nelson Jobim, respondeu com outra demasia: disse que os idiotas haviam perdido a modéstia.
Ora, desde que prestem atenção ao noticiário dos jornais, até mesmo verdadeiros idiotas – não os que foram promovidos à categoria pelo ministro irado – sabem que não há ilegalidade nem imoralidade no voto do presidente do STF em questões importantes. Não é usual, mas é um direito que lhe cabe e que exerce ou não, com independência e segundo sua vontade. Este é um país livre.
Não foi o criticado, porém, na atuação do ministro. Aqueles jornalistas tiveram em mente iniciativas de Jobim no terreno político-partidário. A imprensa já publicou à farta, sem nenhum desmentido formal, que ele concerta uma aliança com o Planalto, para candidatar-se a vice-presidente na campanha de Lula à reeleição.
Nestas circunstâncias, onde está a idiotice e a falta de modéstia em se estranhar a disposição para votar o habeas de um correligionário e amigo chegado do futuro aliado?
Afinal de contas, este é um país livre – supõe-se – também para jornalistas.
Ora, desde que prestem atenção ao noticiário dos jornais, até mesmo verdadeiros idiotas – não os que foram promovidos à categoria pelo ministro irado – sabem que não há ilegalidade nem imoralidade no voto do presidente do STF em questões importantes. Não é usual, mas é um direito que lhe cabe e que exerce ou não, com independência e segundo sua vontade. Este é um país livre.
Não foi o criticado, porém, na atuação do ministro. Aqueles jornalistas tiveram em mente iniciativas de Jobim no terreno político-partidário. A imprensa já publicou à farta, sem nenhum desmentido formal, que ele concerta uma aliança com o Planalto, para candidatar-se a vice-presidente na campanha de Lula à reeleição.
Nestas circunstâncias, onde está a idiotice e a falta de modéstia em se estranhar a disposição para votar o habeas de um correligionário e amigo chegado do futuro aliado?
Afinal de contas, este é um país livre – supõe-se – também para jornalistas.
quarta-feira, 30 de novembro de 2005
O olho dos outros - Jayme Copstein
Nem há porque tergiversar sobre a agressão de que foi vítima o deputado José Dirceu, ontem na Câmara dos Deputados. Não se justifica por nenhum título e o caso deve ser decidido pela justiça, como é a praxe de uma democracia.
Contudo, esta verdade não exclui reflexões sobre o silêncio e até apoio declarado do próprio deputado José Dirceu, quando as vítimas de agressões semelhantes eram adversários políticos.
Não se conhece nenhum protesto dele, nenhuma indignação, quando líderes sindicais deram pontapés no traseiro de empresários ou fizeram corredor polonês no próprio Parlamento, quando professores militantes cuspiram e jogaram objetos em governadores e secretários de Educação, menos ainda quando o MST agrediu e ainda agride e tranca pacatos empregados de fa-zendas em cárcere privado.
Nem param no terreno físico as agressões que seus adeptos praticam contra opositores. Só que, desta vez, a desqualificação pessoal – aquela coisa de reacionário,burguês, mais isso, mais aquilo, não tem lugar: o agressor é um escritor de nome na literatura infantil e defensor de teses politicamente corretas. A acusação que faz a Dirceu é a mesma de Dirceu aos adversários: manipulação do delineamento jurídico para ordenar o Brasil segundo seus interesses.
Resumindo: pimenta no olho dos outros é carícia.
Contudo, esta verdade não exclui reflexões sobre o silêncio e até apoio declarado do próprio deputado José Dirceu, quando as vítimas de agressões semelhantes eram adversários políticos.
Não se conhece nenhum protesto dele, nenhuma indignação, quando líderes sindicais deram pontapés no traseiro de empresários ou fizeram corredor polonês no próprio Parlamento, quando professores militantes cuspiram e jogaram objetos em governadores e secretários de Educação, menos ainda quando o MST agrediu e ainda agride e tranca pacatos empregados de fa-zendas em cárcere privado.
Nem param no terreno físico as agressões que seus adeptos praticam contra opositores. Só que, desta vez, a desqualificação pessoal – aquela coisa de reacionário,burguês, mais isso, mais aquilo, não tem lugar: o agressor é um escritor de nome na literatura infantil e defensor de teses politicamente corretas. A acusação que faz a Dirceu é a mesma de Dirceu aos adversários: manipulação do delineamento jurídico para ordenar o Brasil segundo seus interesses.
Resumindo: pimenta no olho dos outros é carícia.
terça-feira, 29 de novembro de 2005
Filme antigo - Jayme Copstein
É só comparar a situação brasileira com a da Argentina, para se conceder ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o aplauso por preservar, em seu governo, a política que está reabilitando as nossas finanças. Ressalve-se: depois que Sarney quebrou o país, é tarefa para muitas gerações.
Lula mantém Palocci a despeito de suas próprias convicções, porque sabe que a efervescência da área econômica, no último ano de Fernando Henrique Cardoso, deveu-se ao receio de utopias balaqueiras e aventuras infantis. Onde ele cedeu às mágicas e sortilégios de amadores aficionados, caso da diplomacia, os resultados são desalentadores.
Kirchner, depois das gabolices, do calote de parte da dívida que só lesou indefesos aposentados italianos, tem agora uma inflação que já está em dois dígitos.
Como a mágica não faz mais efeito, Kirchner demitiu o ministro da Fazenda, Roberto Lavagna, de cuja contenção discordava e era quem segurava as pontas. Inclusive se rebelava contra a corrupção que gerou escândalos na área da construção civil.
O que espera a Argentina nos próximos dois anos não é muito animador: aumento das tarifas públicas, contidas para Kirchner ganhar a eleição, dificuldades para fechar novo acordo com o FMI, depois do calote, e necessidades de juros altos para atrair investimentos.
Já vimos este filme nos tempos de José Sarney. Não foi?
Lula mantém Palocci a despeito de suas próprias convicções, porque sabe que a efervescência da área econômica, no último ano de Fernando Henrique Cardoso, deveu-se ao receio de utopias balaqueiras e aventuras infantis. Onde ele cedeu às mágicas e sortilégios de amadores aficionados, caso da diplomacia, os resultados são desalentadores.
Kirchner, depois das gabolices, do calote de parte da dívida que só lesou indefesos aposentados italianos, tem agora uma inflação que já está em dois dígitos.
Como a mágica não faz mais efeito, Kirchner demitiu o ministro da Fazenda, Roberto Lavagna, de cuja contenção discordava e era quem segurava as pontas. Inclusive se rebelava contra a corrupção que gerou escândalos na área da construção civil.
O que espera a Argentina nos próximos dois anos não é muito animador: aumento das tarifas públicas, contidas para Kirchner ganhar a eleição, dificuldades para fechar novo acordo com o FMI, depois do calote, e necessidades de juros altos para atrair investimentos.
Já vimos este filme nos tempos de José Sarney. Não foi?
segunda-feira, 28 de novembro de 2005
A diferença - Jayme Copstein
Processem jornalistas e lhes atribuam crime por terem opinião que eventualmente desgoste alguém. É da democracia.
Inventar intenções, pinçar fraseados fora contexto, para dar veracidade ao pretexto, não. É das ditaduras.
Pouco importa. Jornalistas não são as únicas vítimas. Que os processem, que os condenem mil vezes e os mandem para o cárcere. Tal como ocorreu no nazismo e também no estalinismo, de que de muito pouca gente fala, é preciso alguém para testemunhar o que ocorre nos presídios brasileiros, masmorras medievais onde empilham como gado pessoas que não podem pagar melhores advogados e por isso mesmo lá estão. Como uma pobre mulher de 79 anos, moribunda de câncer, retorcendo-se de dor no presídio de Taubaté, em São Paulo, a quem a Justiça nega o direito de morrer em um hospital.
Ela é acusada de tráfico de drogas. Foram encontradas em sua casa em torno de 17 pedras de “crack”, que ela alega terem sido jogadas por um desconhecido, fugindo da Polícia. Ainda não foi julgada, apesar do tempo decorrido. Antes de ser transferida para o Tatuapé, estava na cadeia de Valinhos, Campinas, onde dormia no chão.
Se verdade ou mentira a história do fugitivo que jogou as pedras de crack, não é a questão fundamental. O filho da mulher foi preso na mesma ocasião e também responde processo na prisão. Não se pode afastar a hipótese de tenha envolvido a mãe em seus crimes.
A questão humanitária é tocante, mas também não é fundamental. O presídio tem enfermaria, tem assistência médica – precárias, mas tem.
O que importa é comparar o caso desta mulher de 79 anos, moribunda de câncer, mantida presa sem julgamento, com o caso da família Maluf, com o dos assassinos do casal Richtofen, com o do estudante universitário de Minas Gerais, preso em flagrante e condenado por asssalto a mão armada, de que se falou aqui na semana passada. Todos respondem seus processos em liberdade.
Qual a diferença entre esses casos? A única que se percebe é que a mulher moribunda é pobre. Os demais, não.
Inventar intenções, pinçar fraseados fora contexto, para dar veracidade ao pretexto, não. É das ditaduras.
Pouco importa. Jornalistas não são as únicas vítimas. Que os processem, que os condenem mil vezes e os mandem para o cárcere. Tal como ocorreu no nazismo e também no estalinismo, de que de muito pouca gente fala, é preciso alguém para testemunhar o que ocorre nos presídios brasileiros, masmorras medievais onde empilham como gado pessoas que não podem pagar melhores advogados e por isso mesmo lá estão. Como uma pobre mulher de 79 anos, moribunda de câncer, retorcendo-se de dor no presídio de Taubaté, em São Paulo, a quem a Justiça nega o direito de morrer em um hospital.
Ela é acusada de tráfico de drogas. Foram encontradas em sua casa em torno de 17 pedras de “crack”, que ela alega terem sido jogadas por um desconhecido, fugindo da Polícia. Ainda não foi julgada, apesar do tempo decorrido. Antes de ser transferida para o Tatuapé, estava na cadeia de Valinhos, Campinas, onde dormia no chão.
Se verdade ou mentira a história do fugitivo que jogou as pedras de crack, não é a questão fundamental. O filho da mulher foi preso na mesma ocasião e também responde processo na prisão. Não se pode afastar a hipótese de tenha envolvido a mãe em seus crimes.
A questão humanitária é tocante, mas também não é fundamental. O presídio tem enfermaria, tem assistência médica – precárias, mas tem.
O que importa é comparar o caso desta mulher de 79 anos, moribunda de câncer, mantida presa sem julgamento, com o caso da família Maluf, com o dos assassinos do casal Richtofen, com o do estudante universitário de Minas Gerais, preso em flagrante e condenado por asssalto a mão armada, de que se falou aqui na semana passada. Todos respondem seus processos em liberdade.
Qual a diferença entre esses casos? A única que se percebe é que a mulher moribunda é pobre. Os demais, não.
A lógica do poder - Jayme Copstein
O homem que um dia foi íntimo de Lula e até seu assessor especial, hoje está disposto a acampar na frente do Palácio do Planalto, para protestar contra a omissão do governo em relação a jovens e adolescentes.
Oded Grajew, empresário idealista, esteve com Lula e o PT desde os primeiros passos. Agora manifesta desilusão à revista Isto É, em entrevista conjunta com o ex-jogador de futebol, Raí de Oliveira.
Não foram ambições insatisfeitas que esgotaram a paciência de Grajew. Quando Lula assumiu a presidência da República, foi guindado à missão especial de mobilizar a classe empresarial em torno de programas sociais.
Não conseguiu sequer tirar da gaveta e regulamentar lei sancionada ainda em dezembro de 2000, por Fernando Henrique Cardoso, que obriga empresas de médio e grande porte a contratar como aprendizes, adolescentes entre 14 e 24 anos.
Bastaria um simples decreto para garantir, anualmente, aprendizado profissional e trabalho a dois milhões de jovens, hoje, em boa parte, fazendo acrobacias para recolher tostões nos cruzamentos das grandes avenidas, quando não a serviço de bandidos e traficantes.
Lula não assina o decreto para não pôr azeitona na empada de Fernando Henrique Cardoso. Com o que esvazia o prato de milhões de jovens e adolescentes. Esta é a lógica do poder
Oded Grajew, empresário idealista, esteve com Lula e o PT desde os primeiros passos. Agora manifesta desilusão à revista Isto É, em entrevista conjunta com o ex-jogador de futebol, Raí de Oliveira.
Não foram ambições insatisfeitas que esgotaram a paciência de Grajew. Quando Lula assumiu a presidência da República, foi guindado à missão especial de mobilizar a classe empresarial em torno de programas sociais.
Não conseguiu sequer tirar da gaveta e regulamentar lei sancionada ainda em dezembro de 2000, por Fernando Henrique Cardoso, que obriga empresas de médio e grande porte a contratar como aprendizes, adolescentes entre 14 e 24 anos.
Bastaria um simples decreto para garantir, anualmente, aprendizado profissional e trabalho a dois milhões de jovens, hoje, em boa parte, fazendo acrobacias para recolher tostões nos cruzamentos das grandes avenidas, quando não a serviço de bandidos e traficantes.
Lula não assina o decreto para não pôr azeitona na empada de Fernando Henrique Cardoso. Com o que esvazia o prato de milhões de jovens e adolescentes. Esta é a lógica do poder
sexta-feira, 25 de novembro de 2005
Do macacão à toga - Jayme Copstein
Recebi esta manhã o telefonema de um amigo ansioso. Desejava comentar o assalto sofrido pelo dr. Eros Grau, ministro do Supremo Federal, que graças a Deus escapou sem prejuízos físicos, ele e a esposa.
Meu amigo bradou: “Bem-feito!”
Eu o contradisse imediatamente: “Não, malfeito, muito malfeito!.”
É malfeito antigo, nascido da parvoice bem intencionada que trouxe para o Brasil o código dos rábulas de porta de cadeia e a conseqüente impunidade a quem possa pagar por chicanas jurídicas.
As primeiras vítimas foram os trabalhadores de salário mínimo, que madrugam para apanhar um ônibus superlotado e acabam indo a pé para o serviço porque têm de entregar ao assaltante o mísero vale-transporte, o único valor que têm no bolso.
Só agora, depois de passar pelas vilas pobres, pelos bairros de classe média e pelos condomínios superprotegidos de gente rica, é que o malfeito chegou à Corte Suprema, em demonstração cabal de que a autoridade constitucional foi substituída pelo arbítrio e pela selvageria dos malfeitores que a lei protege, não havendo quem a ela os submeta.
A responsabilidade do Judiciário em todo esse quadro tétrico é o silêncio diante da legislação que seus membros sabem viciosa. A mesma veemência com que os magistrados defendem outras teses, como se viu anteontem no julgamento do recurso de José Dirceu, em muito haveria de contribuir para devolver a segurança a todos nós, dos trabalhadores de salário mínimo aos ministros do próprio Supremo Tribunal Federal.
Meu amigo bradou: “Bem-feito!”
Eu o contradisse imediatamente: “Não, malfeito, muito malfeito!.”
É malfeito antigo, nascido da parvoice bem intencionada que trouxe para o Brasil o código dos rábulas de porta de cadeia e a conseqüente impunidade a quem possa pagar por chicanas jurídicas.
As primeiras vítimas foram os trabalhadores de salário mínimo, que madrugam para apanhar um ônibus superlotado e acabam indo a pé para o serviço porque têm de entregar ao assaltante o mísero vale-transporte, o único valor que têm no bolso.
Só agora, depois de passar pelas vilas pobres, pelos bairros de classe média e pelos condomínios superprotegidos de gente rica, é que o malfeito chegou à Corte Suprema, em demonstração cabal de que a autoridade constitucional foi substituída pelo arbítrio e pela selvageria dos malfeitores que a lei protege, não havendo quem a ela os submeta.
A responsabilidade do Judiciário em todo esse quadro tétrico é o silêncio diante da legislação que seus membros sabem viciosa. A mesma veemência com que os magistrados defendem outras teses, como se viu anteontem no julgamento do recurso de José Dirceu, em muito haveria de contribuir para devolver a segurança a todos nós, dos trabalhadores de salário mínimo aos ministros do próprio Supremo Tribunal Federal.
Lula, o iluminado - Jayme Copstein
Um dia depois de ter assumido a presidência da República, deixando de lado fantasias de Pedro Álvares Cabral, para reconhecer que a estabilidade econômica é um legado de governos anteriores – e nem podia ser diferente – o sr. Luiz Inácio Lula da Silva assume o papel de Sherlock Holmes. Agora comunica à Nação a sábia conclusão de que o assassinato de Celso Daniel é apenas um crime comum e os grandes culpados são os promotores de Justiça que desejam tirar proveito político.
Ninguém entende que utilidade teria qualquer proveito político para promotores de Justiça que não se metem em política e investigaram também o governo anterior, para satisfação do próprio sr. Luiz Inácio Lula da Silva quando ele era oposição.
Não foram os promotores de Justiça os primeiros a levantar a suspeita de que alguma coisa grave se escondia por trás do assassinato de Celso Daniel. Era a própria opinião pública que não engolia a versão fabricada para esconder a verdade. As muitas testemunhas do crime, abatidas uma a uma, mostraram posteriormente que as suspeitas generalizadas tinham fundamento.
Tão logo o noticiário daqueles dias descreveu as circunstâncias do crime, a versão de Sérgio Sombra não se sustentou. Logo emergiu um grosso esquema de corrupção que não pode ser dissociado do episódio e é o maior já montado na história deste país.
Os representantes do governo na CPI dos bingos exigem, com razão, incluir na lista dos patrocinados por Marcos Valério o senador Eduardo Azeredo, do PSDB. A intenção é provar que o seu partido não inventou a corrupção, que não foram os únicos a praticá-la. Só que, antes, afirmavam que eram únicos que não faziam.
Devemos ser gratos às luzes esplendorosas de sabedoria que o sr. Luiz Inácio Lula da Silva irradia sobre todos nós. Pena não serem suficientes para aclarar nem o caso Celso Daniel e nem o escândalo do mensalão.
Ninguém entende que utilidade teria qualquer proveito político para promotores de Justiça que não se metem em política e investigaram também o governo anterior, para satisfação do próprio sr. Luiz Inácio Lula da Silva quando ele era oposição.
Não foram os promotores de Justiça os primeiros a levantar a suspeita de que alguma coisa grave se escondia por trás do assassinato de Celso Daniel. Era a própria opinião pública que não engolia a versão fabricada para esconder a verdade. As muitas testemunhas do crime, abatidas uma a uma, mostraram posteriormente que as suspeitas generalizadas tinham fundamento.
Tão logo o noticiário daqueles dias descreveu as circunstâncias do crime, a versão de Sérgio Sombra não se sustentou. Logo emergiu um grosso esquema de corrupção que não pode ser dissociado do episódio e é o maior já montado na história deste país.
Os representantes do governo na CPI dos bingos exigem, com razão, incluir na lista dos patrocinados por Marcos Valério o senador Eduardo Azeredo, do PSDB. A intenção é provar que o seu partido não inventou a corrupção, que não foram os únicos a praticá-la. Só que, antes, afirmavam que eram únicos que não faziam.
Devemos ser gratos às luzes esplendorosas de sabedoria que o sr. Luiz Inácio Lula da Silva irradia sobre todos nós. Pena não serem suficientes para aclarar nem o caso Celso Daniel e nem o escândalo do mensalão.
A Aids e o dilúvio - Jayme Copstein
Terá Deus substituído o dilúvio da Bíblia pela Aids, para acabar com a humanidade supostamente pecadora? Artigo de Demétrio Magnoli, na Folha de São Paulo de hoje, induz a esta reflexão, pelo menos no Brasil: o Ministério da Saúde põe em risco o combate a Aids, para esconder mais uma demagogia mal-sucedida do atual governo.
A comunicação do ministro Saraiva Felipe ao Conselho Nacional da Saúde, afirmando que “a taxa de expansão das infecções por HIV está controlada e que a proporção de casos da doença por habitante é baixa”, contradiz outra publicação do próprio Ministério da Saúde, o Boletim Epidemiológico, no qual se registra aumento da incidência da doença entre as mulheres e os pobres, os últimos dependendo da distribuição gratuita do coquetel para continuar vivendo.
Ao mentir que a doença está controlada no país, o governo esconde que era demagogia a acusação de junho ao Laboratório Abbot, de que bastavam US$ 0,25 por cápsula do remédio Kaletra, para obter lucros polpudos. O acordo fechado com a multinacional baixou de US$ 1,17 para US$ 0,63, redução substancial de quase metade, mas ainda assim três vezes acima do apregoado.
Qualquer pobre mortal sentir-se-ia orgulhoso em dizer: conseguimos uma boa redução. Quem, entretanto, delira como Luiz XV, rei da França, fica mais inclinado ao consolo de Madame Pompadour: “Depois de nós, o dilúvio”. E põe em risco o combate à Aids.
A comunicação do ministro Saraiva Felipe ao Conselho Nacional da Saúde, afirmando que “a taxa de expansão das infecções por HIV está controlada e que a proporção de casos da doença por habitante é baixa”, contradiz outra publicação do próprio Ministério da Saúde, o Boletim Epidemiológico, no qual se registra aumento da incidência da doença entre as mulheres e os pobres, os últimos dependendo da distribuição gratuita do coquetel para continuar vivendo.
Ao mentir que a doença está controlada no país, o governo esconde que era demagogia a acusação de junho ao Laboratório Abbot, de que bastavam US$ 0,25 por cápsula do remédio Kaletra, para obter lucros polpudos. O acordo fechado com a multinacional baixou de US$ 1,17 para US$ 0,63, redução substancial de quase metade, mas ainda assim três vezes acima do apregoado.
Qualquer pobre mortal sentir-se-ia orgulhoso em dizer: conseguimos uma boa redução. Quem, entretanto, delira como Luiz XV, rei da França, fica mais inclinado ao consolo de Madame Pompadour: “Depois de nós, o dilúvio”. E põe em risco o combate à Aids.
quarta-feira, 23 de novembro de 2005
A injustiça de Deus - Jayme Copstein
Nós, pobres mortais, a quem Deus negou uma centelha sequer de entendimento além da lógica, só podemos ficar perplexos com uma decisão da 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, divulgada pela revista eletrônica Consultor Jurídico.
Por unanimidade, os ministros mandaram um delinqüente responder em liberdade a sua respectiva apelação, após prisão em flagrante, ter sido condenado a seis anos de cadeia, por roubo, crime caracterizado pelo uso de força ou ameaça. Ou seja, pondo em risco a vida de sua vítima.
Com tudo isso, o Tribunal não encontrou motivos para que o delinqüente permanecesse preso enquanto seus advogados apelassem da sentença. O delinqüente é portador de curso superior.
Esta condição deveria ser levada em conta como agravante. Ele não pode alegar em seu favor a miséria e a ignorância. Ou então, o Tribunal deveria dizer com todas as letras que o ensino universitário no Brasil é um estelio-nato: em lugar de líderes de elite, forma bandidos.
O delinqüente não poderia alegar a condição de pobreza porque tem recursos – ele ou a sua família – para contratar bons advogados, tanto assim que pôde apelar à segunda instância, coisa que está fora do alcance de João da Silva.
Os advogados são competentíssimos: além de responder em liberdade, antes mesmo do julgamento da apelação, o réu já teve direito à reforma parcial da sentença de primeira instância, garantindo-lhe o direito de iniciar, no regime semi-aberto, o cumprimento da pena de seis anos a que fora condenado em regime fechado. O que talvez já possa ser argüido como nulidade – se o recurso ainda não julgado e já determina o regime do cumprimento da plena, não haveria aí a predisposição de condenar o réu?
Não, o réu não se chama Gabriel e nem está em discussão se é anjo, e tendo sido anjo, antes de ser arcanjo, qual será o seu sexo? Heim? Heim?
Os defensores alegaram, também, que seu cliente, tinha bons antecedentes. Novamente coloca-se outra questão que foge a qualquer lógica: de quantos assaltos a mão armada se necessita neste país para alguém deixe de ser bem comportado e perca seus bons antecedentes?
A culpa é toda nossa, de não termos uma centelha sequer de entendimento além da lógica.
Deus nos negou cérebro para tanto. Só que ele não precisava condenar todo o povo brasileiro a ser vítima da impunidade de seus bandidos. É uma injustiça.
Por unanimidade, os ministros mandaram um delinqüente responder em liberdade a sua respectiva apelação, após prisão em flagrante, ter sido condenado a seis anos de cadeia, por roubo, crime caracterizado pelo uso de força ou ameaça. Ou seja, pondo em risco a vida de sua vítima.
Com tudo isso, o Tribunal não encontrou motivos para que o delinqüente permanecesse preso enquanto seus advogados apelassem da sentença. O delinqüente é portador de curso superior.
Esta condição deveria ser levada em conta como agravante. Ele não pode alegar em seu favor a miséria e a ignorância. Ou então, o Tribunal deveria dizer com todas as letras que o ensino universitário no Brasil é um estelio-nato: em lugar de líderes de elite, forma bandidos.
O delinqüente não poderia alegar a condição de pobreza porque tem recursos – ele ou a sua família – para contratar bons advogados, tanto assim que pôde apelar à segunda instância, coisa que está fora do alcance de João da Silva.
Os advogados são competentíssimos: além de responder em liberdade, antes mesmo do julgamento da apelação, o réu já teve direito à reforma parcial da sentença de primeira instância, garantindo-lhe o direito de iniciar, no regime semi-aberto, o cumprimento da pena de seis anos a que fora condenado em regime fechado. O que talvez já possa ser argüido como nulidade – se o recurso ainda não julgado e já determina o regime do cumprimento da plena, não haveria aí a predisposição de condenar o réu?
Não, o réu não se chama Gabriel e nem está em discussão se é anjo, e tendo sido anjo, antes de ser arcanjo, qual será o seu sexo? Heim? Heim?
Os defensores alegaram, também, que seu cliente, tinha bons antecedentes. Novamente coloca-se outra questão que foge a qualquer lógica: de quantos assaltos a mão armada se necessita neste país para alguém deixe de ser bem comportado e perca seus bons antecedentes?
A culpa é toda nossa, de não termos uma centelha sequer de entendimento além da lógica.
Deus nos negou cérebro para tanto. Só que ele não precisava condenar todo o povo brasileiro a ser vítima da impunidade de seus bandidos. É uma injustiça.
segunda-feira, 21 de novembro de 2005
A arte de consertar o Brasil - Jayme Copstein
Ora Delfim Neto, ora João Sayad nos dão portentosas lições de como consertar a economia, em artigos publicados nos jornais. Agora surge Maílson da Nóbrega, em livro. Em comum, os três tiveram em certa época a faca e o queijo na mão, sem deixar lembrança concreta dos milagres que, dizem agora, podem ser feitos com um estalar de dedos.
Delfim Neto prega um repentino déficit zero. Só se paga despesa com o dinheiro entrado em caixa, não se pede emprestado, e se acaba com os juros estratosféricos. Mas quando passou a chave do cofre, na transição do governo Médici para o governo Geisel, em 1974, deixou uma bomba de efeito retardado que explodiu nas mãos do sucessor, Mario Simonsen.
Sayad e Maílson foram ministros da área econômica de Zé Sarney, governo de triste memória que pôs na lata do lixo alguns decênios da história brasileira. É a origem dos pesados sacrifícios hoje impostos à nação. Sayad também estala os dedos com o súbito corte de juros, Maílson, o otimista, acha que o futuro chegou.
Nenhum deles, entretanto, toca na corrupção e na voracidade de uma oligarquia que devora o orçamento público, atoicinhada em salários polpudos e generosas aposentadorias.
Falta, pois, um capítulo importante, na “Arte de consertar o Brasil!”, desses consumados mestres da economia cabocla.
Delfim Neto prega um repentino déficit zero. Só se paga despesa com o dinheiro entrado em caixa, não se pede emprestado, e se acaba com os juros estratosféricos. Mas quando passou a chave do cofre, na transição do governo Médici para o governo Geisel, em 1974, deixou uma bomba de efeito retardado que explodiu nas mãos do sucessor, Mario Simonsen.
Sayad e Maílson foram ministros da área econômica de Zé Sarney, governo de triste memória que pôs na lata do lixo alguns decênios da história brasileira. É a origem dos pesados sacrifícios hoje impostos à nação. Sayad também estala os dedos com o súbito corte de juros, Maílson, o otimista, acha que o futuro chegou.
Nenhum deles, entretanto, toca na corrupção e na voracidade de uma oligarquia que devora o orçamento público, atoicinhada em salários polpudos e generosas aposentadorias.
Falta, pois, um capítulo importante, na “Arte de consertar o Brasil!”, desses consumados mestres da economia cabocla.
sábado, 19 de novembro de 2005
Lá e cá - Jayme Copstein
O que aconteceu com aqueles juízes de futebol, aqui no Brasil, que aceitaram suborno de uma quadrilha de apostadores, para forçar e fraudar resultados de partidas?
Afora os clubes, que nada tinham a ver com a trampolinagem, os torcedores que pagaram ingresso também foram lesados. Alguém foi para a cadeia?
O assunto desapareceu da mídia. De vez em quando algum dirigente esportivo o traz de volta, não para exigir punições, mas para tentar obter alguma vantagenzinha para o seu clube, muito dentro daquele espírito malandro, esperto, responsável por toda a bagunça e corrupção que assola este país.
Agora, comparem: pouco dias depois do caso sabido aqui, estourou na Alemanha escândalo igual, envolvendo dois juízes alemães e um mafioso croata que os subornou. Já estão todos julgados. O croata e um dos juízes vão cumprir dois anos e onze meses de prisão – e pagando a “hospedagem” porque, lá, além do mais, cadeia não é de graça.
O segundo juiz e mais os irmãos do croata também receberam sentenças de prisão, mas foram beneficiados com liberdade condicional. Não é troca por cestinha básica. Um bebedeira é o suficiente para pô-los atrás da grades.
Esta é a diferença entre um país desenvolvido e um país que não é. O primeiro tem uma justiça severa e célere. O segundo, não tem.
Afora os clubes, que nada tinham a ver com a trampolinagem, os torcedores que pagaram ingresso também foram lesados. Alguém foi para a cadeia?
O assunto desapareceu da mídia. De vez em quando algum dirigente esportivo o traz de volta, não para exigir punições, mas para tentar obter alguma vantagenzinha para o seu clube, muito dentro daquele espírito malandro, esperto, responsável por toda a bagunça e corrupção que assola este país.
Agora, comparem: pouco dias depois do caso sabido aqui, estourou na Alemanha escândalo igual, envolvendo dois juízes alemães e um mafioso croata que os subornou. Já estão todos julgados. O croata e um dos juízes vão cumprir dois anos e onze meses de prisão – e pagando a “hospedagem” porque, lá, além do mais, cadeia não é de graça.
O segundo juiz e mais os irmãos do croata também receberam sentenças de prisão, mas foram beneficiados com liberdade condicional. Não é troca por cestinha básica. Um bebedeira é o suficiente para pô-los atrás da grades.
Esta é a diferença entre um país desenvolvido e um país que não é. O primeiro tem uma justiça severa e célere. O segundo, não tem.
sexta-feira, 18 de novembro de 2005
Ponto nos “is” - Jayme Copstein
Decisão importante da 9ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo bota os pontos nos “is” na relação entre imprensa e Judiciário, contaminada aqui e ali por entulhos totalitários do passado ou por delírios de tiranias futuras.
Em ação movida por três juízes, pedindo, cada um, 700 mil reais de indenização da Rede Globo, por comentários do jornalista Arnaldo Jabor, em 2004, o desembargador Jayme Martins de Oliveira Neto, relator do processo, decidiu: nenhum juiz pode se sentir atingido se críticas ao Judiciário, por fortes que sejam, não o citarem pessoalmente.
A matéria da repórter Maria Fernanda Erdely está na revista eletrônica Consultor Jurídico de hoje e transcreve na integra o voto do relator. Ouçam este trecho:
“Uma sociedade que se pretende evoluída não pode prescindir de uma imprensa livre, sendo inaceitável que uma pessoa, órgão ou instituição queira se colocar fora do alcance dela. A crítica que os meios de comunicação social dirigem às pessoas públicas, especialmente às autoridades e aos agentes do Estado, por mais acerba, dura e veemente que possa ser, deixa de sofrer, quanto ao seu concreto exercício, as limitações externas que ordinariamente resultam dos direitos da personalidade”.
Bela lição de democracia. Tem gente necessitada de alfabetização.
Em ação movida por três juízes, pedindo, cada um, 700 mil reais de indenização da Rede Globo, por comentários do jornalista Arnaldo Jabor, em 2004, o desembargador Jayme Martins de Oliveira Neto, relator do processo, decidiu: nenhum juiz pode se sentir atingido se críticas ao Judiciário, por fortes que sejam, não o citarem pessoalmente.
A matéria da repórter Maria Fernanda Erdely está na revista eletrônica Consultor Jurídico de hoje e transcreve na integra o voto do relator. Ouçam este trecho:
“Uma sociedade que se pretende evoluída não pode prescindir de uma imprensa livre, sendo inaceitável que uma pessoa, órgão ou instituição queira se colocar fora do alcance dela. A crítica que os meios de comunicação social dirigem às pessoas públicas, especialmente às autoridades e aos agentes do Estado, por mais acerba, dura e veemente que possa ser, deixa de sofrer, quanto ao seu concreto exercício, as limitações externas que ordinariamente resultam dos direitos da personalidade”.
Bela lição de democracia. Tem gente necessitada de alfabetização.
quarta-feira, 16 de novembro de 2005
No quartel de Abrantes - Jayme Copstein
As manobras de governo para neutralizar a oposição e preservar o ministro Antônio Palocci da roda de fogo da CPI, foram de raro amadorismo.
Resultou em puro non-sense. Palocci dava respostas a perguntas que não lhe eram feitas sobre suposta corrupção em Ribeirão Preto e na angariação de fundos para a campanha de Lula. A oposição o forçava a defender a política econômica, deixando a ministra Dilma Roussef, sua crítica feroz, em péssimos lençóis.
O Planalto, com a antecipação do depoimento de Palocci, montara uma arapuca para pegar a oposição com as calças na mão.
Apostava, primeiro, na ausência dos senadores em uma semana decapitada por feriadão, e por último, na falta de tempo dos inquisidores sobrantes para ajustar a alça de mira.
Palocci reduziria a pó-de-traque por falta de contundência, de evidências e de provas, as poucas acusações que lhe seriam levantadas.
Não foi preciso muito brilho para que os canhões do Planalto dessem chabu. A presença dos senadores era significativa e a oposição se limitou às excelências da condução da economia, deixando a inquirição mais escabrosa para outra oportunidade. O que prolonga a agonia do governo.
Em um governo de comportamento normal e portanto previsível, não restaria alternativa a Dilma Roussef a não ser a demissão voluntária. Mas como do governo Lula se pode esperar tudo e até mesmo nada – a frase é do jornalista Bóris Casoy – não se sabe o que vai acontecer nem com Dilma nem com Palocci.
Parece comprovado é que Dilma cumpriu tarefa determinada pela nomenclatura do Partido dos Trabalhadores e com pleno conhecimento de Lula. Tanto assim que, de manhã, assustado com queda da bolsa e a elevação do dólar, ao discursar na 3ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, Lula elogiou a conjuntura econômica, assegurou a preservação da política do Ministério da Fazenda, mas não fez uma única referência a Palocci, que, por conseguinte, continua com a cabeça a prêmio.
Enfim, segue tudo como dantes no quartel de Abrantes
Resultou em puro non-sense. Palocci dava respostas a perguntas que não lhe eram feitas sobre suposta corrupção em Ribeirão Preto e na angariação de fundos para a campanha de Lula. A oposição o forçava a defender a política econômica, deixando a ministra Dilma Roussef, sua crítica feroz, em péssimos lençóis.
O Planalto, com a antecipação do depoimento de Palocci, montara uma arapuca para pegar a oposição com as calças na mão.
Apostava, primeiro, na ausência dos senadores em uma semana decapitada por feriadão, e por último, na falta de tempo dos inquisidores sobrantes para ajustar a alça de mira.
Palocci reduziria a pó-de-traque por falta de contundência, de evidências e de provas, as poucas acusações que lhe seriam levantadas.
Não foi preciso muito brilho para que os canhões do Planalto dessem chabu. A presença dos senadores era significativa e a oposição se limitou às excelências da condução da economia, deixando a inquirição mais escabrosa para outra oportunidade. O que prolonga a agonia do governo.
Em um governo de comportamento normal e portanto previsível, não restaria alternativa a Dilma Roussef a não ser a demissão voluntária. Mas como do governo Lula se pode esperar tudo e até mesmo nada – a frase é do jornalista Bóris Casoy – não se sabe o que vai acontecer nem com Dilma nem com Palocci.
Parece comprovado é que Dilma cumpriu tarefa determinada pela nomenclatura do Partido dos Trabalhadores e com pleno conhecimento de Lula. Tanto assim que, de manhã, assustado com queda da bolsa e a elevação do dólar, ao discursar na 3ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, Lula elogiou a conjuntura econômica, assegurou a preservação da política do Ministério da Fazenda, mas não fez uma única referência a Palocci, que, por conseguinte, continua com a cabeça a prêmio.
Enfim, segue tudo como dantes no quartel de Abrantes
Sinuca de bico - Jayme Copstein
Certeira no espinhaço do governo, a crise que leva Antônio Palocci hoje ao Senado, nasceu aparentemente de um bate-boca entre o ministro da Fazenda e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef.
Dizem as más línguas que foi encomendada sob medida por Luiz Inácio Lula da Silva, ansioso para se livrar do rígido controle dos gastos públicos, para torrar os sacrifícios desse longos anos na campanha da reeleição.
Alguma coisa está fora dos trilhos. Dilma Roussef não consegue transferir para a Casa Civil a gestão brilhante do Ministério da Energia. Mostra-se inábil, afoita, rude em suas discordâncias com pontos de vista alheios, imiscui-se em áreas que não lhe competem, como a condução de economia. É possível até que esteja sendo usada por raposões da política, sedentos de verbas em véspera de eleições,para derrubar Palocci.
Uma terceira versão diz que Dilma ambiciona o Ministério da Fazenda, com vistas a vôos mais estratosféricos. O Brasil não demora, até como originalidade, a eleger uma mulher para a presidência da República.
Seja como for, o caldo entornou. Bastaram os rumores, a Bolsa caiu e o dólar subiu, confirmando a advertência de que mexer na política econômica, para promover novo carnaval à la Zé Sarney, trará de volta a catástrofe do Plano Cruzado.
Mesmo que Palocci saia bem no Senado, a crise não termina aí. Não há lugar ele e Dilma no mesmo governo. Para Lula, é a própria sinuca de bico.
Dizem as más línguas que foi encomendada sob medida por Luiz Inácio Lula da Silva, ansioso para se livrar do rígido controle dos gastos públicos, para torrar os sacrifícios desse longos anos na campanha da reeleição.
Alguma coisa está fora dos trilhos. Dilma Roussef não consegue transferir para a Casa Civil a gestão brilhante do Ministério da Energia. Mostra-se inábil, afoita, rude em suas discordâncias com pontos de vista alheios, imiscui-se em áreas que não lhe competem, como a condução de economia. É possível até que esteja sendo usada por raposões da política, sedentos de verbas em véspera de eleições,para derrubar Palocci.
Uma terceira versão diz que Dilma ambiciona o Ministério da Fazenda, com vistas a vôos mais estratosféricos. O Brasil não demora, até como originalidade, a eleger uma mulher para a presidência da República.
Seja como for, o caldo entornou. Bastaram os rumores, a Bolsa caiu e o dólar subiu, confirmando a advertência de que mexer na política econômica, para promover novo carnaval à la Zé Sarney, trará de volta a catástrofe do Plano Cruzado.
Mesmo que Palocci saia bem no Senado, a crise não termina aí. Não há lugar ele e Dilma no mesmo governo. Para Lula, é a própria sinuca de bico.
terça-feira, 15 de novembro de 2005
O Calvário da República - Jayme Copstein
Comemoramos hoje 116 anos de regime republicano ou apenas a crise que se perpetua desde a quartelada de 15 de novembro de 1889?
Pedro II era um homem doente, não tinha muita vida pela frente, todos sabiam. Não havia porque depô-lo E ninguém queria sua filha no trono, e não era por ela ter abolido a escravatura. Mais afeita a devoções religiosas que à administração pública, com um marido detestável, Isabel não assumiria a coroa por decisão do parlamento e a república seria instituída sem turbulências.
Não aconteceu porque Deodoro da Fonseca, líder do Exército, era homem rancoroso. Foi suficiente o boato de que o Visconde de Ouro Preto tomaria providências severas para conter a indisciplina dos quartéis, para que ele o apeasse da chefia do governo, sem contudo derrubar a monarquia.
Só quando o imperador nomeou Silveira Martins chefe do novo gabinete, é que se deixou convencer que havia proclamado a República. O gaúcho era seu inimigo por questões estritamente pessoais, nada a ver com a política. Não podia aceitá-lo.
Foi o começo do nosso calvário.
Pedro II era um homem doente, não tinha muita vida pela frente, todos sabiam. Não havia porque depô-lo E ninguém queria sua filha no trono, e não era por ela ter abolido a escravatura. Mais afeita a devoções religiosas que à administração pública, com um marido detestável, Isabel não assumiria a coroa por decisão do parlamento e a república seria instituída sem turbulências.
Não aconteceu porque Deodoro da Fonseca, líder do Exército, era homem rancoroso. Foi suficiente o boato de que o Visconde de Ouro Preto tomaria providências severas para conter a indisciplina dos quartéis, para que ele o apeasse da chefia do governo, sem contudo derrubar a monarquia.
Só quando o imperador nomeou Silveira Martins chefe do novo gabinete, é que se deixou convencer que havia proclamado a República. O gaúcho era seu inimigo por questões estritamente pessoais, nada a ver com a política. Não podia aceitá-lo.
Foi o começo do nosso calvário.
Cachorros e lingüiças - Jayme Copstein
Morreu Peter Drucker, considerado “pai da administração moderna” de empresas, conforme a medíocre definição dos jornais de hoje.
O bordão não expressa nem palidamente o talento desse austríaco naturalizado norte-americano, gênio no diagnóstico contemporâneo das transformações do mundo e profeta certeiro do que se desdobraria como conseqüência.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial até chegar ao antológico “Uma era de descontinuidade”, em 1969, Drucker alertava que ingressávamos em uma nova idade, após milênios de matérias-primas obtidas em bruto na natureza. Desde os fins do século 19, o homem sintetizava seus materiais nos laboratórios o que remetia aos museus métodos de produção e teorias econômicas.
O livro só chegou ao Brasil alguns anos depois. Não chamou a atenção dos nossos políticos e governantes que preferiram se fossilizar no tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça, e o cachorro não comia a lingüiça.
O próprio Drucker alertava que os países desenvolvidos de hoje, incluindo-se aí a Rússia e o Japão, já o eram na entrada do século 20, por terem entendido a realidade, não por eventuais revoluções que guindaram esta ou aquela facção política ao poder.
O bordão não expressa nem palidamente o talento desse austríaco naturalizado norte-americano, gênio no diagnóstico contemporâneo das transformações do mundo e profeta certeiro do que se desdobraria como conseqüência.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial até chegar ao antológico “Uma era de descontinuidade”, em 1969, Drucker alertava que ingressávamos em uma nova idade, após milênios de matérias-primas obtidas em bruto na natureza. Desde os fins do século 19, o homem sintetizava seus materiais nos laboratórios o que remetia aos museus métodos de produção e teorias econômicas.
O livro só chegou ao Brasil alguns anos depois. Não chamou a atenção dos nossos políticos e governantes que preferiram se fossilizar no tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça, e o cachorro não comia a lingüiça.
O próprio Drucker alertava que os países desenvolvidos de hoje, incluindo-se aí a Rússia e o Japão, já o eram na entrada do século 20, por terem entendido a realidade, não por eventuais revoluções que guindaram esta ou aquela facção política ao poder.
sábado, 12 de novembro de 2005
Teoria e prática de tributos - Jayme Copstein
Mais um ato da nossa interminável comédia tributária ganha decisão do Supremo Tribunal Federal. Segundo os jornais, de um lado as empresas recuperam 29 bilhões de reais que o governo lhes cobrou indevidamente, de outro, o governo recobra 12 bilhões de reais que as empresas não queriam pagar.
É antigo o confronto entre políticos que ocupam o governo e usam de todos os artifícios para arranjar o dinheiro de suas gastanças, e empresários, cujas lá-grimas convencem até frades de pedra que só teriam prejuízos se não sonegassem impostos.
O grande problema é o tempo que duram essas pendengas. O primeiro caso, o dos 29 bilhões, referentes a diferença de cálculos do PIS e do Confins, estava na Justiça desde 1999. O dos 12 bilhões, referente a isenções do IPI, tinha barbas bem mais compridas – arrastava-se desde 1983.
Toda essa dinheirama sai do nosso bolso e faz falta na educação, na saúde e na segurança. Os dois valores em questão somam quase todo o orçamento do Ministério da Saúde, ou o dobro do dinheiro à disposição do Ministério da Educação ou, ainda, oito vezes o que o Ministério da Justiça pode gastar em segurança pública.
É antigo o confronto entre políticos que ocupam o governo e usam de todos os artifícios para arranjar o dinheiro de suas gastanças, e empresários, cujas lá-grimas convencem até frades de pedra que só teriam prejuízos se não sonegassem impostos.
O grande problema é o tempo que duram essas pendengas. O primeiro caso, o dos 29 bilhões, referentes a diferença de cálculos do PIS e do Confins, estava na Justiça desde 1999. O dos 12 bilhões, referente a isenções do IPI, tinha barbas bem mais compridas – arrastava-se desde 1983.
Toda essa dinheirama sai do nosso bolso e faz falta na educação, na saúde e na segurança. Os dois valores em questão somam quase todo o orçamento do Ministério da Saúde, ou o dobro do dinheiro à disposição do Ministério da Educação ou, ainda, oito vezes o que o Ministério da Justiça pode gastar em segurança pública.
sexta-feira, 11 de novembro de 2005
A sombra do boitatá- Jayme Copstein
O Rio Grande não é mais o mesmo.
Esta frase de desencanto, colhida de um velho peão, vem à tona neste momento em que se perpetra acordo vergonhoso na Assembléia Legislativa do Estado. Governistas e oposicionistas engavetaram duas investigações que antes proclamavam ser o retrato acabado da moralização.
Sepultadas, entretanto, não foram as CPIs propostas dos pedágios e do mensalão, mas a própria moralidade que todos brandiam como bandeira do Rio Grande, ao entoar o hino dos farrapos: não basta ser aguerrido e bravo. Quem não tem virtude ...
O que há de tão escabroso na história desses pedágios que obriga os governistas a engolir a indecência do mensalão, para não deixá-la vir à tona?
Sirvam nossas façanhas de modelo... do quê? Para quem?
Como escreveu um dia o poeta Balbino da Rocha, gaúcho não é mais gaúcho. É fantasma, vagueando de lá pra cá, como a sombra do boitatá..
Esta frase de desencanto, colhida de um velho peão, vem à tona neste momento em que se perpetra acordo vergonhoso na Assembléia Legislativa do Estado. Governistas e oposicionistas engavetaram duas investigações que antes proclamavam ser o retrato acabado da moralização.
Sepultadas, entretanto, não foram as CPIs propostas dos pedágios e do mensalão, mas a própria moralidade que todos brandiam como bandeira do Rio Grande, ao entoar o hino dos farrapos: não basta ser aguerrido e bravo. Quem não tem virtude ...
O que há de tão escabroso na história desses pedágios que obriga os governistas a engolir a indecência do mensalão, para não deixá-la vir à tona?
Sirvam nossas façanhas de modelo... do quê? Para quem?
Como escreveu um dia o poeta Balbino da Rocha, gaúcho não é mais gaúcho. É fantasma, vagueando de lá pra cá, como a sombra do boitatá..
quarta-feira, 9 de novembro de 2005
Pecados da imprensa - Jayme Copstein
Ontem, durante a cerimônia de entrega dos troféus aos vencedores do Prêmio Gestor Público 2005, no auditório Dantes Barone, da Assembléia Legislativa do Estado, dois prefeitos teceram críticas à ênfase da imprensa, ao denunciar abusos cometidos por administradores municipais.
O Prêmio Gestor Público é uma bela iniciativa do Sindicato dos Auditores de Finanças Públicas do Estado do Rio Grande, para destacar projetos de municípios que apresentem resultados positivos para suas comunidades.
A reclamação dos prefeitos tem fundamento. Nos jornais de hoje não havia mais do que algumas linhas, poucas, inexpressivas, sobre a centena de projetos que mereceram destaque e aplausos entusiasmados. O vencedor foi o da Secretaria de Educação e Cultura do município do Rio Grande, integrando o ensino fundamental, a universidade e as instituições comunitárias.
Como os pesquisadores, no futuro, saberão de um capítulo importante da história, se os jornais que documentam o presente, omitem o que acontece?
Os prefeitos queixosos só não têm razão em um ponto, também importante: a imprensa ao denunciar gatunos, corruptos e nepotistas, tem ajudado o cidadão a eleger melhores prefeitos. Tanto assim que eles tinham o que mostrar na consagração do Prêmio Gestor Público 2005.
O Prêmio Gestor Público é uma bela iniciativa do Sindicato dos Auditores de Finanças Públicas do Estado do Rio Grande, para destacar projetos de municípios que apresentem resultados positivos para suas comunidades.
A reclamação dos prefeitos tem fundamento. Nos jornais de hoje não havia mais do que algumas linhas, poucas, inexpressivas, sobre a centena de projetos que mereceram destaque e aplausos entusiasmados. O vencedor foi o da Secretaria de Educação e Cultura do município do Rio Grande, integrando o ensino fundamental, a universidade e as instituições comunitárias.
Como os pesquisadores, no futuro, saberão de um capítulo importante da história, se os jornais que documentam o presente, omitem o que acontece?
Os prefeitos queixosos só não têm razão em um ponto, também importante: a imprensa ao denunciar gatunos, corruptos e nepotistas, tem ajudado o cidadão a eleger melhores prefeitos. Tanto assim que eles tinham o que mostrar na consagração do Prêmio Gestor Público 2005.
terça-feira, 8 de novembro de 2005
O crime da liberdade - Jayme Copstein
Chama a atenção a ameaça descortês do presidente nacional da OAB, Roberto Busato, de processar criminalmente o desembargador Oswaldo Stefanello, presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, por discordar da sua opinião sobre a abrangência da legislação antinepotismo.
A observação de Stefanello, de que Busato não entendia nada juridicamente, não tem nada de ofensiva. Referia-se à questão específica do antinepotismo. Está claro que o presidente da OAB não estava tratando juridicamente da questão.
As abordagens políticas, por parte de presidentes da OAB, como de outras associações classistas, vêm dos tempos do impeachment de Collor, quando todas as ações, mesmo intrusivas, eram parte de um momento especial da reconstrução democrática.
Mas acabada a obra, a cada qual em seu lugar, cabe apenas a livre expressão do pensamento. Que é direito constitucional de todos, não apenas privilégio de donos da verdade. Mesmo porque seria crime de apropriação indébita.
A observação de Stefanello, de que Busato não entendia nada juridicamente, não tem nada de ofensiva. Referia-se à questão específica do antinepotismo. Está claro que o presidente da OAB não estava tratando juridicamente da questão.
As abordagens políticas, por parte de presidentes da OAB, como de outras associações classistas, vêm dos tempos do impeachment de Collor, quando todas as ações, mesmo intrusivas, eram parte de um momento especial da reconstrução democrática.
Mas acabada a obra, a cada qual em seu lugar, cabe apenas a livre expressão do pensamento. Que é direito constitucional de todos, não apenas privilégio de donos da verdade. Mesmo porque seria crime de apropriação indébita.
O Bloco na avenida - Jayme Copstein
Três CPIs em véspera de quatro, um ata-mas-não-desata nas investigações da corrupção, o ano está se esvaindo rapidamente. Mais apenas 53 dias e mergulhamos em 2006 e na campanha eleitoral para a presidência da República e a renovação do parlamento federal.
O que traz de volta a sensação de hospício. Uma boa chusma de candidatos nada inspiradores vai surgir no cenário, assemelhando-se muito aos malucos que se encontra em qualquer manicômio, fingindo ser médico ou o próprio diretor da casa, quando não as duas coisas ao mesmo tempo.
Alguns até são capazes de explicar com muita lógica tudo sobre os demais loucos e como se pode botar ordem na bagunça que todos fazem e compartilham. De repente, pegam uma barra de chocolates, jogam o chocolate fora e começam a comer o papel da embalagem.
Com o sistema eleitoral que temos, sem nenhum debate sério, a campanha se resumindo a um duelo de marqueteiros, como se fosse desfile de sambódromo, o problema não a escolha recair em Momo I e Único, que a isso o país já está acostumado e vacinado: será sempre o mal menor.
O risco é o eleitor, atordoado pela bateria, não perceber o que se esconde sob as fantasias e entregar a chave do cofre a alguém que finge que vai pôr fogo no circo, para esconder o dinheiro no bolso.
O que traz de volta a sensação de hospício. Uma boa chusma de candidatos nada inspiradores vai surgir no cenário, assemelhando-se muito aos malucos que se encontra em qualquer manicômio, fingindo ser médico ou o próprio diretor da casa, quando não as duas coisas ao mesmo tempo.
Alguns até são capazes de explicar com muita lógica tudo sobre os demais loucos e como se pode botar ordem na bagunça que todos fazem e compartilham. De repente, pegam uma barra de chocolates, jogam o chocolate fora e começam a comer o papel da embalagem.
Com o sistema eleitoral que temos, sem nenhum debate sério, a campanha se resumindo a um duelo de marqueteiros, como se fosse desfile de sambódromo, o problema não a escolha recair em Momo I e Único, que a isso o país já está acostumado e vacinado: será sempre o mal menor.
O risco é o eleitor, atordoado pela bateria, não perceber o que se esconde sob as fantasias e entregar a chave do cofre a alguém que finge que vai pôr fogo no circo, para esconder o dinheiro no bolso.
O crime da liberdade - Jayme Copstein
Chama a atenção a ameaça descortês do presidente nacional da OAB, Roberto Busato, de processar criminalmente o desembargador Oswaldo Stefanello, presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, por discordar da sua opinião sobre a abrangência da legislação antinepotismo.
A observação de Stefanello, de que Busato não entendia nada juridicamente, não tem nada de ofensiva. Referia-se à questão específica do antinepotismo. Está claro que o presidente da OAB não estava tratando juridicamente da questão.
As abordagens políticas, por parte de presidentes da OAB, como de outras associações classistas, vêm dos tempos do impeachment de Collor, quando todas as ações, mesmo intrusivas, eram parte de um momento especial da reconstrução democrática.
Mas acabada a obra, a cada qual em seu lugar, cabe apenas a livre expressão do pensamento. Que é direito constitucional de todos, não apenas privilégio de donos da verdade. Mesmo porque seria crime de apropriação indébita.
A observação de Stefanello, de que Busato não entendia nada juridicamente, não tem nada de ofensiva. Referia-se à questão específica do antinepotismo. Está claro que o presidente da OAB não estava tratando juridicamente da questão.
As abordagens políticas, por parte de presidentes da OAB, como de outras associações classistas, vêm dos tempos do impeachment de Collor, quando todas as ações, mesmo intrusivas, eram parte de um momento especial da reconstrução democrática.
Mas acabada a obra, a cada qual em seu lugar, cabe apenas a livre expressão do pensamento. Que é direito constitucional de todos, não apenas privilégio de donos da verdade. Mesmo porque seria crime de apropriação indébita.
segunda-feira, 7 de novembro de 2005
O fio da meada - Jayme Copstein
A crise política agrava-se com novas denúncias. Não fossem os bons ventos da economia mundial, com algumas brisas atenuando o calor das nossas refregas, e já teríamos retornado à instabilidade que marcou os anos 50 e desembocou no regime militar.
O sr. Luís Inácio Lula da Silva, que gosta a cada passo de se atribuir façanhas jamais praticadas em toda a história deste país – tem mostrado uma inédita incompetência para lidar com a crise. Para livrar-se do aperto, fala no combate à pobreza. Os salários continuam lá embaixo, os lucros do Bradesco, só neste ano, cresceram 90 por cento.
Cresce a suspeita de que não se trata de incompetência, mas necessidade de preservar algo mais grave, escondido na profundidade dos rios de dinheiro do mensalão, que não cessam de jorrar e cujo montante ainda não é possível calcular-se. Considera-se com bastante insistência o hipotético financiamento de uma conspiração para guindar José Dirceu ao poder, após a conquista do segundo mandato de Lula.
Será delírio paranóico, reforçado pelos dólares escondidos em caixas de uísque e trazidos supostamente de Cuba? Os líderes do PT arranjaram um argumento contundente para ridicularizar a acusação. “Só falta dizerem que o PT recebeu dinheiro da Al Quaeda!”
Mas apareceu o piloto do avião. Confirmou que transportou os envolvidos e as caixas de uísque.
É o fio da meada.
O sr. Luís Inácio Lula da Silva, que gosta a cada passo de se atribuir façanhas jamais praticadas em toda a história deste país – tem mostrado uma inédita incompetência para lidar com a crise. Para livrar-se do aperto, fala no combate à pobreza. Os salários continuam lá embaixo, os lucros do Bradesco, só neste ano, cresceram 90 por cento.
Cresce a suspeita de que não se trata de incompetência, mas necessidade de preservar algo mais grave, escondido na profundidade dos rios de dinheiro do mensalão, que não cessam de jorrar e cujo montante ainda não é possível calcular-se. Considera-se com bastante insistência o hipotético financiamento de uma conspiração para guindar José Dirceu ao poder, após a conquista do segundo mandato de Lula.
Será delírio paranóico, reforçado pelos dólares escondidos em caixas de uísque e trazidos supostamente de Cuba? Os líderes do PT arranjaram um argumento contundente para ridicularizar a acusação. “Só falta dizerem que o PT recebeu dinheiro da Al Quaeda!”
Mas apareceu o piloto do avião. Confirmou que transportou os envolvidos e as caixas de uísque.
É o fio da meada.
quinta-feira, 3 de novembro de 2005
O recheio do pastel - Jayme Copstein
Um assessor do vice-presidente Dick Chenney, portanto figura para lá de secundária no quadro político norte-americano, põe a administração de George W. Bush em palpos de aranha, simplesmente porque negou ter delatado a identidade de uma agente secreta da CIA.
O crime não é ter posto em risco a vida da mulher, casada, por sinal, com um crítico da guerra do Iraque, mas ter mentido, o que é inadmissível a quem quer que seja diante da Justiça dos Estados Unidos, mormente se integrar a administração pública de qualquer escalão.
Foi o que derrubou o ex-presidente Nixon nos anos 70. O escândalo de Watergate não passava de escaramuça política. A sala do Partido Democrata naquele edifício comercial já estava entregue às baratas há muito tempo. Nada de importante havia por ali.
O problema de Nixon foi ter sido flagrado, mentindo a respeito do caso. Pecado indesculpável para políticos em qualquer lugar mundo, não o de mentir, mas o de se deixar apanhar na mentira. Bill Clinton conseguiu escapar porque, sob juramento, não sustentou a negativa e confessou as suas relações com Mônica Lewinski.
Enquanto isso, entre nós, hábeas corpus garantem o direito de mentir e Paulo Maluf saboreia pastéis regados a cerveja. Fala-se que o recheio é de guisado de carne. Mais certo, porém, é pensar-se em brisa e marmelada
O crime não é ter posto em risco a vida da mulher, casada, por sinal, com um crítico da guerra do Iraque, mas ter mentido, o que é inadmissível a quem quer que seja diante da Justiça dos Estados Unidos, mormente se integrar a administração pública de qualquer escalão.
Foi o que derrubou o ex-presidente Nixon nos anos 70. O escândalo de Watergate não passava de escaramuça política. A sala do Partido Democrata naquele edifício comercial já estava entregue às baratas há muito tempo. Nada de importante havia por ali.
O problema de Nixon foi ter sido flagrado, mentindo a respeito do caso. Pecado indesculpável para políticos em qualquer lugar mundo, não o de mentir, mas o de se deixar apanhar na mentira. Bill Clinton conseguiu escapar porque, sob juramento, não sustentou a negativa e confessou as suas relações com Mônica Lewinski.
Enquanto isso, entre nós, hábeas corpus garantem o direito de mentir e Paulo Maluf saboreia pastéis regados a cerveja. Fala-se que o recheio é de guisado de carne. Mais certo, porém, é pensar-se em brisa e marmelada
Maluf, pizza e pastel - Jayme Copstein
A Folha de São Paulo publicou ontem, na primeira página, a foto de Paulo Maluf em Campos do Jordão, com amigos e seguranças, tomando cerveja e saboreando pastel de carne.
Maluf deu entrevista. Sente-se injustiçado, compara-se a figuras como Wa-shington Luís, Getúlio Vargas, Juscelino Kubistchek, Jânio Quadros, Adhe-mar de Barros e Lula, dizendo que também sofreram perseguição política.
Faz anos que Maluf joga cabra-cega com a Justiça brasileira. Só agora é que curtiu uns poucos 40 dias de cadeia. Fica difícil encaixar na sua teoria os de-pósitos multimilionários descobertos em paraísos fiscais e bancos suíços, que ele sempre negava sob palavra de honra e jurando em nome de Deus.
Há, também, absoluta impropriedade na comparação com outras figuras po-líticas. Jamais pesou contra Washington Luís, Getúlio, Juscelino, Jânio e Lula qualquer acusação de gatunagem.
Havia murmúrios contra Adhemar de Barros. Ele próprio adotava o eslogan – rouba, mas faz. Jamais apareceu indício, por pequeno que fosse, para levá-lo aos tribunais. O caso da urna marajoara não passou de palhaçada patroci-nada pelo seu inimigo figadal, Jânio Quadros.
Fora as impropriedades históricas, Maluf está muito bem. Já não mostra o ar martirizado de cristão primitivo que afivelou no rosto para sair da cadeia. Fez a barba, voltou a falar pelos cotovelos.
Só não devia ter comido pastel com a cervejinha gelada, lá em Campos de Jordão. Assentava melhor uma boa pizza de marmelada. Não acham?
Maluf deu entrevista. Sente-se injustiçado, compara-se a figuras como Wa-shington Luís, Getúlio Vargas, Juscelino Kubistchek, Jânio Quadros, Adhe-mar de Barros e Lula, dizendo que também sofreram perseguição política.
Faz anos que Maluf joga cabra-cega com a Justiça brasileira. Só agora é que curtiu uns poucos 40 dias de cadeia. Fica difícil encaixar na sua teoria os de-pósitos multimilionários descobertos em paraísos fiscais e bancos suíços, que ele sempre negava sob palavra de honra e jurando em nome de Deus.
Há, também, absoluta impropriedade na comparação com outras figuras po-líticas. Jamais pesou contra Washington Luís, Getúlio, Juscelino, Jânio e Lula qualquer acusação de gatunagem.
Havia murmúrios contra Adhemar de Barros. Ele próprio adotava o eslogan – rouba, mas faz. Jamais apareceu indício, por pequeno que fosse, para levá-lo aos tribunais. O caso da urna marajoara não passou de palhaçada patroci-nada pelo seu inimigo figadal, Jânio Quadros.
Fora as impropriedades históricas, Maluf está muito bem. Já não mostra o ar martirizado de cristão primitivo que afivelou no rosto para sair da cadeia. Fez a barba, voltou a falar pelos cotovelos.
Só não devia ter comido pastel com a cervejinha gelada, lá em Campos de Jordão. Assentava melhor uma boa pizza de marmelada. Não acham?
quarta-feira, 2 de novembro de 2005
Faraco em dose tripla - Jayme Copsteiun
Sérgio Faraco autografa hoje na Feira do Livro, às 6 e meia da tarde, “Histórias dentro da história”. É uma coletânea de crônicas, somada a dois outros livros do autor, que por suas pequenas tiragens anteriores, são pouco conhecidos: “Urartu, uma civilização na sombra” e “Tiradentes, o calvário e a glória”..
Faraco é um dos melhores escritores gaúchos e situa-se entre os mais importantes contistas brasileiros. Seu defeito maior, nesta era de adoradores da notoriedade, é não comprar do camelô da esquina conteúdos politicamente corretos. Usa a própria cabeça para formular seu pensamento.
Desde a juventude, com preocupação de anatomista, buscou dissecar a verdade escondida em fantasias a serviço de versões convenientes. Foi assim que em plena ditadura militar, devolveu a Tiradentes a estatura que lhe cabia na Inconfidência Mineira, mas não o fez substituindo um mito por outro. Leu de cabo a rabo, palavra por palavra, os 10 volumes dos Autos de Devassa, para resgatar a história escamoteada.
De sobra, “Urartu, uma civilização na sombra”, uma de suas primeiras produções, distribuída com parcimônia pela Editora da UFRGS nos anos 70.
São três livros importantes em um só volume. Não é sempre que isso acontece. Mas é a festa de hoje, a sessão de autógrafos de Sérgio Faraco, às 6 e meia da tarde, na Feira do Livro.
Faraco é um dos melhores escritores gaúchos e situa-se entre os mais importantes contistas brasileiros. Seu defeito maior, nesta era de adoradores da notoriedade, é não comprar do camelô da esquina conteúdos politicamente corretos. Usa a própria cabeça para formular seu pensamento.
Desde a juventude, com preocupação de anatomista, buscou dissecar a verdade escondida em fantasias a serviço de versões convenientes. Foi assim que em plena ditadura militar, devolveu a Tiradentes a estatura que lhe cabia na Inconfidência Mineira, mas não o fez substituindo um mito por outro. Leu de cabo a rabo, palavra por palavra, os 10 volumes dos Autos de Devassa, para resgatar a história escamoteada.
De sobra, “Urartu, uma civilização na sombra”, uma de suas primeiras produções, distribuída com parcimônia pela Editora da UFRGS nos anos 70.
São três livros importantes em um só volume. Não é sempre que isso acontece. Mas é a festa de hoje, a sessão de autógrafos de Sérgio Faraco, às 6 e meia da tarde, na Feira do Livro.
Legião dos anjos - Jayme
O Conselho de Ética da Câmara Federal aprovou por unanimidade parecer do relator Benedito Lira, correligionário do sr. Paulo Maluf, solicitando o arquivamento do pedido de cassação do deputado Sandro Mabel, correligi-onário do ex-deputado Valdemar Costa Neto que a seu contrário, preferiu renunciar e não enfrentar o julgamento dos seus pares.
O relatório ainda vai a plenário, para ser voltado, mas tem-se como certo que lá também será aprovado, não com esta unanimidade. Resta saber se esta virtual absolvição não é balão de ensaio, para ver como a opinião reage diante da enorme pizza que está no forno, à espera de aquecimento.
Sandro Mabel foi acusado por sua colega e amiga Raquel Teixeira, correli-gionária dos srs. Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alkimin e José Ser-ra, de tentativa de suborno, para transferir parta o Partido Liberal o alto conceito de que ela desfruta em Goiás como educadora. Aliás, a deputada só se deu conta da gravidade da proposta de Sandro Mabel, após a denúncia de Roberto Jefferson sobre o mensalão.
A primeira reação de Mabel, no confronto com Roberto Jefferson, foi uma mistura de coitadismo, pai de pobres e agressividade bem mais próxima da grosseria do que da veemência. Bem orientado pelos seus advogados, mu-dou o tom, depois.
Como Mabel naturalmente não escreveu nem chamou testemunhas para fa-zer a proposta a Raquel, restou à Comissão de Ética o que se chama palavra contra palavra.
O confronto entre os dois caracterizou-se por um fato notável. Ele não ten-tou desqualificar pessoalmente a deputada, sabendo que nada tinha objetar quando a isso. Ora, se até Sandro Mabel reconhece a idoneidade de Raquel Teixeira, qual o fundamento para se ahcar que ela não estivesse falando a verdade a respeito do caso?
Parece, entretanto, que o relator se deixou comover pela tecla do coitadis-mo que Sandro Mabel continuou manipulando, agora com grande compe-tência. Com o que foi promovido a titular da legião dos arcanjos que a polí-tica brasileira tem criado com generosidade. São todos inocentes.
Os culpados somos nós, eleitores, que atiramos nossos votos a esmo, como se fosse uma loteria. Não passa de reles batota.
O relatório ainda vai a plenário, para ser voltado, mas tem-se como certo que lá também será aprovado, não com esta unanimidade. Resta saber se esta virtual absolvição não é balão de ensaio, para ver como a opinião reage diante da enorme pizza que está no forno, à espera de aquecimento.
Sandro Mabel foi acusado por sua colega e amiga Raquel Teixeira, correli-gionária dos srs. Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alkimin e José Ser-ra, de tentativa de suborno, para transferir parta o Partido Liberal o alto conceito de que ela desfruta em Goiás como educadora. Aliás, a deputada só se deu conta da gravidade da proposta de Sandro Mabel, após a denúncia de Roberto Jefferson sobre o mensalão.
A primeira reação de Mabel, no confronto com Roberto Jefferson, foi uma mistura de coitadismo, pai de pobres e agressividade bem mais próxima da grosseria do que da veemência. Bem orientado pelos seus advogados, mu-dou o tom, depois.
Como Mabel naturalmente não escreveu nem chamou testemunhas para fa-zer a proposta a Raquel, restou à Comissão de Ética o que se chama palavra contra palavra.
O confronto entre os dois caracterizou-se por um fato notável. Ele não ten-tou desqualificar pessoalmente a deputada, sabendo que nada tinha objetar quando a isso. Ora, se até Sandro Mabel reconhece a idoneidade de Raquel Teixeira, qual o fundamento para se ahcar que ela não estivesse falando a verdade a respeito do caso?
Parece, entretanto, que o relator se deixou comover pela tecla do coitadis-mo que Sandro Mabel continuou manipulando, agora com grande compe-tência. Com o que foi promovido a titular da legião dos arcanjos que a polí-tica brasileira tem criado com generosidade. São todos inocentes.
Os culpados somos nós, eleitores, que atiramos nossos votos a esmo, como se fosse uma loteria. Não passa de reles batota.
terça-feira, 1 de novembro de 2005
Além do infinito - Jayme Copstein
É da natureza do homem a cegueira e a surdez para os acontecimentos transcendentais, que mudam o rumo da civilização. Abafadas pelos estrondos da carnificina do Iraque, pouco se ouviu das preces murmuradas por padres e rabinos, em ação de graças pelos 40 anos da Nostra Aetate, a declaração do Concílio Vaticano II, que pôs fim a dois milênios de desavenças entre judeus e cristãos.
Quem penetra na profundidade deste conflito, surpreende-se como a pequenez e a complexidade das paixões pode se sobrepor à grandeza e à singeleza da razão. Judeus e cristãos estiveram sempre separados apenas por um tempo de verbo: o Messias, já veio, dizem os cristãos. Ele virá, dizem os judeus.
Apesar de discordância tão pequena, foram necessários 40 anos, desde a aprovação da Nostra Aetate, para que pudessem estar juntos, na mesma ação de graças, convencidos de que o diálogo entre eles não é uma concessão, mas uma obrigação de irmãos.
Significará, como querem algumas interpretações, o fim dos tempos? Ou será apenas o fim tão ansiado deste tempo de miséria e de violências de que é feita a história humana, desde que descemos das árvores e saímos das cavernas?
Há uma Terra da Promissão à nossa espera, um pouco além do infinito agora desvendado pela reconciliação plena de judeus e cristãos. De quantos 40 anos ainda necessitaremos para a reconciliação de toda a espécie humana?
Quem penetra na profundidade deste conflito, surpreende-se como a pequenez e a complexidade das paixões pode se sobrepor à grandeza e à singeleza da razão. Judeus e cristãos estiveram sempre separados apenas por um tempo de verbo: o Messias, já veio, dizem os cristãos. Ele virá, dizem os judeus.
Apesar de discordância tão pequena, foram necessários 40 anos, desde a aprovação da Nostra Aetate, para que pudessem estar juntos, na mesma ação de graças, convencidos de que o diálogo entre eles não é uma concessão, mas uma obrigação de irmãos.
Significará, como querem algumas interpretações, o fim dos tempos? Ou será apenas o fim tão ansiado deste tempo de miséria e de violências de que é feita a história humana, desde que descemos das árvores e saímos das cavernas?
Há uma Terra da Promissão à nossa espera, um pouco além do infinito agora desvendado pela reconciliação plena de judeus e cristãos. De quantos 40 anos ainda necessitaremos para a reconciliação de toda a espécie humana?
César e as aparências - Jayme Copstein
Foi só agora, com a decisão do ministro Eros Grau, favorecendo José Dirceu e soando como interferência indevida do Judiciário no Legislativo, que a Comissão de Ética da Câmara Federal achou por bem duvidar dos critérios de nomeação dos membros do Supremo Tribunal Federal.
Há muito tempo setores responsáveis da opinião pública, na qual se incluem magistrados federais, expressam insatisfação com a contaminação política da Corte Suprema, iniciada quando Francisco Resek renunciou à toga para ser ministro da Justiça de Collor, e foi renomeado, ao deixar a Pasta.
O critério de nomeação cria vínculos inadequados entre o Judiciário e eventuais ocupantes do Palácio do Planalto, que podem continuar a exercer influência muito tempo após ter concluído seu mandato.
O exame de duas situações presentes evidencia a impropriedade da situação. Enquanto o próprio José Dirceu consegue inéditos direitos de defesa, tal como assinalou seu correligionário Chico Alencar, o senador pelo Amapá, João Capiberibe, do Partido Socialista Brasileiro, está comendo o pão que o diabo amassou para preservar o mandato.
Em lugar de mensalões, cuecões, uísque escocês e charutos cubanos, pesa contra Capiberibe a acusação de compra de votos. A prova apresentada se resume à doação de 26 reais a dois eleitores, entre os milhares que elegem um senador.
O que se esconde por trás do suposto escândalo é a derrota que Capiberibe, tanto por sua popularidade como pelo cansaço do eleitor com antigas velhacarias, inflingiu ao candidato do todo poderoso cacique maranhense José Sarney.
O que é a “fortuna” de 52 reais – duas vezes 26 reais – tirados do próprio bolso para atender dois eleitores, comparada com a “ninharia” de milhares de reais caídos do céu em cima de uma mesa da empresa do genro de Sarney, favorecido, aliás, também por financiamentos da Sudam, aprovados pela esposa, Roseana Sarney?
Haverá alguma relação entre essas contradições? Provavelmente, não. Mas o desgastado dito – à mulher de César não basta ser honesta – mostra com clareza que o vínculo entre o Judiciário e eventuais ocupantes do Planalto é inadequado e constrangedor para um país que se pretenda civilizado.
Há muito tempo setores responsáveis da opinião pública, na qual se incluem magistrados federais, expressam insatisfação com a contaminação política da Corte Suprema, iniciada quando Francisco Resek renunciou à toga para ser ministro da Justiça de Collor, e foi renomeado, ao deixar a Pasta.
O critério de nomeação cria vínculos inadequados entre o Judiciário e eventuais ocupantes do Palácio do Planalto, que podem continuar a exercer influência muito tempo após ter concluído seu mandato.
O exame de duas situações presentes evidencia a impropriedade da situação. Enquanto o próprio José Dirceu consegue inéditos direitos de defesa, tal como assinalou seu correligionário Chico Alencar, o senador pelo Amapá, João Capiberibe, do Partido Socialista Brasileiro, está comendo o pão que o diabo amassou para preservar o mandato.
Em lugar de mensalões, cuecões, uísque escocês e charutos cubanos, pesa contra Capiberibe a acusação de compra de votos. A prova apresentada se resume à doação de 26 reais a dois eleitores, entre os milhares que elegem um senador.
O que se esconde por trás do suposto escândalo é a derrota que Capiberibe, tanto por sua popularidade como pelo cansaço do eleitor com antigas velhacarias, inflingiu ao candidato do todo poderoso cacique maranhense José Sarney.
O que é a “fortuna” de 52 reais – duas vezes 26 reais – tirados do próprio bolso para atender dois eleitores, comparada com a “ninharia” de milhares de reais caídos do céu em cima de uma mesa da empresa do genro de Sarney, favorecido, aliás, também por financiamentos da Sudam, aprovados pela esposa, Roseana Sarney?
Haverá alguma relação entre essas contradições? Provavelmente, não. Mas o desgastado dito – à mulher de César não basta ser honesta – mostra com clareza que o vínculo entre o Judiciário e eventuais ocupantes do Planalto é inadequado e constrangedor para um país que se pretenda civilizado.
segunda-feira, 31 de outubro de 2005
Banditismos - Jayme Copstein
Procurem na Feira do Livro, “O jardineiro fiel”, de John Lê Carré. Apesar de romance, é documento importante neste momento em que se acumulam as denúncias contra a indústria farmacêutica.
A própria Associação Médica Americana está apontando a manipulação de resultados de pesquisas, para empurrar venenos a peso de ouro a cardíacos, diabéticos e cancerosos.
Tudo em nome do Lucro, erigido à condição de deus, do qual os laboratórios se transformaram em altares e seus dirigentes, em sumos-sacerdotes.
O problema começou quando o governo norte-americano decidiu, em nome da livre iniciativa, que o Estado não deveria mais subsidiar a pesquisa científica pura. Equivaleu a entregar a chave do cofre a bandoleiros.
Não só foi só a bactéria que causava úlceras de estômago: muita descoberta importante tem sido escamoteada porque contraria o interesse dos grandes laboratórios, inclusive com prejuízos à própria pesquisa científica.
Ninguém está se rebelando contra o lucro legítimo, mas sim contra a voracidade que faz a saúde dos habitantes do planeta mero pretexto para engordá-lo.
Não há nenhuma diferença entre traficar remédios e drogas. Pode ser bom negócio, mas é o mesmo banditismo que deve ser combatido com a mesma veemência.
A própria Associação Médica Americana está apontando a manipulação de resultados de pesquisas, para empurrar venenos a peso de ouro a cardíacos, diabéticos e cancerosos.
Tudo em nome do Lucro, erigido à condição de deus, do qual os laboratórios se transformaram em altares e seus dirigentes, em sumos-sacerdotes.
O problema começou quando o governo norte-americano decidiu, em nome da livre iniciativa, que o Estado não deveria mais subsidiar a pesquisa científica pura. Equivaleu a entregar a chave do cofre a bandoleiros.
Não só foi só a bactéria que causava úlceras de estômago: muita descoberta importante tem sido escamoteada porque contraria o interesse dos grandes laboratórios, inclusive com prejuízos à própria pesquisa científica.
Ninguém está se rebelando contra o lucro legítimo, mas sim contra a voracidade que faz a saúde dos habitantes do planeta mero pretexto para engordá-lo.
Não há nenhuma diferença entre traficar remédios e drogas. Pode ser bom negócio, mas é o mesmo banditismo que deve ser combatido com a mesma veemência.
sexta-feira, 28 de outubro de 2005
Picolés e marmeladas - Jayme Copstein
O deputado estadual gaúcho Dionilso Marcon não pode ver o politicamente incorreto pedaço de gelo enfiado em um palito, tingido de anilinas e temperado com sabores artificiais, chamado vulgarmente de picolé.
Não resiste e até põe de lado considerações transcendentais sobre a origem do dito cujo, se a madeira do palito não veio da Amazônia, se não foi fabricado por uma dessas terríveis multinacionais a serviço do imperialismo colonizador e escravizador dos povos livres da América Latina. Ele próprio faz a autocrítica, como declarou ao jornal gaúcho Zero Hora: “Quem não come um bom picolé?”
O deputado Dionilso Marcon terá de esclarecer é outro vínculo: mesmo sabendo que os de creme levam leite na receita, o que têm a ver picolés com os baixos preços do leite, pretexto para o saque de uma empresa distribuidora de alimentos congelados, com a destruição de toneladas de carnes, doces e embutidos.
Marcon terá um problema muito sério para explicar aos colegas da Comissão de Ética da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, não por questões de refrigeração mas porque eles parecem preferir a marmelada. Foi em nome da doçura que apenas repreenderam o deputado Vilson Covatti com um discreto “o bom menino não faz pipi na cama”, ao julgarem o agenciamento de consultas e as vendas de cirurgias, um bom negócio criado pelos seus assessores parlamentares.
Não riam. São casos muito sérios.
Não resiste e até põe de lado considerações transcendentais sobre a origem do dito cujo, se a madeira do palito não veio da Amazônia, se não foi fabricado por uma dessas terríveis multinacionais a serviço do imperialismo colonizador e escravizador dos povos livres da América Latina. Ele próprio faz a autocrítica, como declarou ao jornal gaúcho Zero Hora: “Quem não come um bom picolé?”
O deputado Dionilso Marcon terá de esclarecer é outro vínculo: mesmo sabendo que os de creme levam leite na receita, o que têm a ver picolés com os baixos preços do leite, pretexto para o saque de uma empresa distribuidora de alimentos congelados, com a destruição de toneladas de carnes, doces e embutidos.
Marcon terá um problema muito sério para explicar aos colegas da Comissão de Ética da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, não por questões de refrigeração mas porque eles parecem preferir a marmelada. Foi em nome da doçura que apenas repreenderam o deputado Vilson Covatti com um discreto “o bom menino não faz pipi na cama”, ao julgarem o agenciamento de consultas e as vendas de cirurgias, um bom negócio criado pelos seus assessores parlamentares.
Não riam. São casos muito sérios.
Dirceu e Maluf - Jayme Copstein
O deputado José Dirceu vangloriou-se, dizendo que a decisão do ministro Eros Grau, determinando a confecção de novo relatório era uma advertência à Comissão de Ética da Câmara Federal. É uma afirmação arrogante e grave porque subverte a ordem constitucional, subordinando o Legislativo ao Judiciário, o que nem remotamente passou pela mente do ministro. Ele apenas ordenou a solução de um conflito, sendo duvidoso fosse acatada pelos demais membros do Supremo Tribunal Federal, se submetida a julgamento pleno.
Em contraposição, o deputado Chico Alencar, ex-correligionário de Dirceu, mas ideologicamente afinado com ele expressava a perplexidade da grande maioria do povo brasileiro, em uma frase singela: “Nunca vi ninguém, neste país, ter tanto direito à defesa quanto José Dirceu!”
Tem razão em parte, o deputado Chico Alencar. Também Paulo Maluf nos causa perplexidade por permanecer impune até hoje.
Mas Chico Alencar foi mais preciso na sua análise: “Dirceu está sendo cassado não pelo que representou, mas pelo que deixou de representar", disse, ao justificar o próprio voto, um dos 13 que aprovou o relatório condenando Dirceu.
O tão alegado passado de José Dirceu é um mito, nascido do idealismo da juventude, da urgência que se tem aos 18 anos, de salvar o mundo. Porém, quando a maturidade nos põe em contato com a realidade, todos acabamos constatando que o mundo não vai se perder tão cedo.
Uma minoria finge que não percebe e transforma a profissão de fé em profissão de lucros. Daí resulta o saque do patrimônio público, tenha ele o apelido que as circunstâncias lhe atribuírem, mensalão, o que for. A maioria vai trabalhar porque alguém tem de sustentar os salvadores da pátria
José Dirceu nunca participou das ações materiais de muitos de seus correligionários. Libertado dos cárceres da ditadura, cursou guerrilha em Cuba e não voltou para pegar em armas. Protagonizou uma caricatura de comerciante no interior do Paraná e por lá ficou placidamente até a abertura, quando não corria mais nenhum risco em reaparecer. Glorificá-lo como mentor e autor exclusivo da redemocratização é puro delírio.
Tem toda a razão o deputado Chico Alencar. José Dirceu está sendo julgado não por sua biografia jovem, que esta é a de todos nós, mas por sua biografia adulta, que todos nós queremos banir da nossa história.
Tanto a dele como a de Maluf
Em contraposição, o deputado Chico Alencar, ex-correligionário de Dirceu, mas ideologicamente afinado com ele expressava a perplexidade da grande maioria do povo brasileiro, em uma frase singela: “Nunca vi ninguém, neste país, ter tanto direito à defesa quanto José Dirceu!”
Tem razão em parte, o deputado Chico Alencar. Também Paulo Maluf nos causa perplexidade por permanecer impune até hoje.
Mas Chico Alencar foi mais preciso na sua análise: “Dirceu está sendo cassado não pelo que representou, mas pelo que deixou de representar", disse, ao justificar o próprio voto, um dos 13 que aprovou o relatório condenando Dirceu.
O tão alegado passado de José Dirceu é um mito, nascido do idealismo da juventude, da urgência que se tem aos 18 anos, de salvar o mundo. Porém, quando a maturidade nos põe em contato com a realidade, todos acabamos constatando que o mundo não vai se perder tão cedo.
Uma minoria finge que não percebe e transforma a profissão de fé em profissão de lucros. Daí resulta o saque do patrimônio público, tenha ele o apelido que as circunstâncias lhe atribuírem, mensalão, o que for. A maioria vai trabalhar porque alguém tem de sustentar os salvadores da pátria
José Dirceu nunca participou das ações materiais de muitos de seus correligionários. Libertado dos cárceres da ditadura, cursou guerrilha em Cuba e não voltou para pegar em armas. Protagonizou uma caricatura de comerciante no interior do Paraná e por lá ficou placidamente até a abertura, quando não corria mais nenhum risco em reaparecer. Glorificá-lo como mentor e autor exclusivo da redemocratização é puro delírio.
Tem toda a razão o deputado Chico Alencar. José Dirceu está sendo julgado não por sua biografia jovem, que esta é a de todos nós, mas por sua biografia adulta, que todos nós queremos banir da nossa história.
Tanto a dele como a de Maluf
quinta-feira, 27 de outubro de 2005
Ovos, galinhas e titicas - Jayme Copstein
A denúncia do envolvimento do senador tucano Eduardo Azeredo com Marcos Valério produziu efeito contrário ao desejado pelos políticos do PT.
Os petistas continuam apegados à tática antiga, a de desqualificar pessoas para tirar a importância e a veracidade de seus argumentos. Ontem, na CPI dos Bingos, na acareação com os irmãos do ex-prefeito Ceslo Daniel, o grande equívoco de Gilberto Carvalho foi exatamente esse. Só conseguiu passar a impressão de frieza, cálculo e premeditação, que em nada ajuda a sua verdade.
No caso de Azeredo, a intenção era desqualificar os tucanos, fortalecer a atenuante do “sou, mas quem não é?’ e aprofundar a tese de terem apenas aperfeiçoado a corrupção, em versão cabocla, nada criativa, do velho enigma do ovo e da galinha – quem nasceu primeiro? Ou, no caso, quem é o mais antigo no pedaço? Como se isso fizesse diferença.
Em vez de sentirem coagidos, os tucanos se irritaram. Compararam as duas situações do “valerioduto”, ocorridas em tempos diferentes: Azeredo foi candidato a governador de Minas, em 1998Lula, a presidente da República, em 2002. Azeredo não se elegeu, portanto não há ilegalidades a punir no mandato que nunca existiu. Lula está no Planalto. Pela primeira vez, a palavra “impeachment” foi pronunciada no recinto do parlamento.
O que tucanos e petistas precisam entender, e nas suas águas, tudo o mais que integrar a fauna política deste país, é que ninguém deseja saber a quem cabe a primazia.
O que interessa mesmo é varrer, de uma vez por todas, a titica do galinheiro.
Os petistas continuam apegados à tática antiga, a de desqualificar pessoas para tirar a importância e a veracidade de seus argumentos. Ontem, na CPI dos Bingos, na acareação com os irmãos do ex-prefeito Ceslo Daniel, o grande equívoco de Gilberto Carvalho foi exatamente esse. Só conseguiu passar a impressão de frieza, cálculo e premeditação, que em nada ajuda a sua verdade.
No caso de Azeredo, a intenção era desqualificar os tucanos, fortalecer a atenuante do “sou, mas quem não é?’ e aprofundar a tese de terem apenas aperfeiçoado a corrupção, em versão cabocla, nada criativa, do velho enigma do ovo e da galinha – quem nasceu primeiro? Ou, no caso, quem é o mais antigo no pedaço? Como se isso fizesse diferença.
Em vez de sentirem coagidos, os tucanos se irritaram. Compararam as duas situações do “valerioduto”, ocorridas em tempos diferentes: Azeredo foi candidato a governador de Minas, em 1998Lula, a presidente da República, em 2002. Azeredo não se elegeu, portanto não há ilegalidades a punir no mandato que nunca existiu. Lula está no Planalto. Pela primeira vez, a palavra “impeachment” foi pronunciada no recinto do parlamento.
O que tucanos e petistas precisam entender, e nas suas águas, tudo o mais que integrar a fauna política deste país, é que ninguém deseja saber a quem cabe a primazia.
O que interessa mesmo é varrer, de uma vez por todas, a titica do galinheiro.
A toga e a pena - Jayme Copstein
A Justiça Federal de São Paulo acaba de decidir – de uma vez por todas, espera-se – ser o exercício profissional do jornalismo prerrogativa de quem tenha diploma universitário específico.
Algumas liminares têm sido concedidas por juizes desavisados, aqui e ali, sob o argumento de que não se pode cercear a livre manifestação do pensamento.
É a mesma confusão entre atividades de jornalismo e o exercício profissional do jornalismo que existiu no arquivado projeto do Conselho Federal.
O complexo processamento da notícia, desde a coleta da informação até chegar ao público através dos jornais, do rádio, da tevê, exige capacitação técnica e ética de envergadura só propiciada por cursos universitários.
O que alguém pensa, contra ou a favor de qualquer questão, pode ser expressado livremente em qualquer meio de comunicação, no generoso espaço concedido a leitores, ouvintes e espectadores, quando não couber nas seções reservadas aos colaboradores efetivos do veiculo.
Não é o que alguém acha sobre como as leis deveriam proteger direitos e coibir abusos e ilegalidades que o autorizam a envergar a toga de magistrado. Vale o mesmo para o jornalismo.
Algumas liminares têm sido concedidas por juizes desavisados, aqui e ali, sob o argumento de que não se pode cercear a livre manifestação do pensamento.
É a mesma confusão entre atividades de jornalismo e o exercício profissional do jornalismo que existiu no arquivado projeto do Conselho Federal.
O complexo processamento da notícia, desde a coleta da informação até chegar ao público através dos jornais, do rádio, da tevê, exige capacitação técnica e ética de envergadura só propiciada por cursos universitários.
O que alguém pensa, contra ou a favor de qualquer questão, pode ser expressado livremente em qualquer meio de comunicação, no generoso espaço concedido a leitores, ouvintes e espectadores, quando não couber nas seções reservadas aos colaboradores efetivos do veiculo.
Não é o que alguém acha sobre como as leis deveriam proteger direitos e coibir abusos e ilegalidades que o autorizam a envergar a toga de magistrado. Vale o mesmo para o jornalismo.
Ópera dos vivos - Jayme Copstein
Notável em toda a atual crise brasileira é o papel desempenhado por esse cidadão Marcos Valério, de repente surgido do nada como um bonequeiro que transforma políticos de todas as origens em meros mamulengos, movidos a dinheiros espúrios.
Marcos Valério sequer é publicitário. Não passa de um agenciador de serviços que encontrou o filão generoso dos chamados homens públicos, da mesma maneira que Geane Maria Córner descobriu o filão generoso das chamadas mulheres públicas.
Parece ter sido uma questão de “feeling”, como se diz em inglês. Tanto Marcos Valério poderia ter optado pelas mulheres, como Geane pelos homens, dava no mesmo. Esses homens e mulheres eram públicos e público também o dinheiro alcançado, sem nada a ver com preferências sexuais.
Mas o extraordinário não são os trocadilhos que se possa fazer a respeito. O extraordinário é a falta de respeito com todos nós porque, passado meio ano desde que o escândalo estourou, o único punido foi o denunciante Roberto Jefferson.
Os demais, o petista José Dirceu à frente, agora com a coadjuvância do tucano Eduardo Azeredo, continuam protagonizando a Ópera dos Vivos, que era como se chamava o espetáculo de mamulengos no Brasil Colonial.
Marcos Valério sequer é publicitário. Não passa de um agenciador de serviços que encontrou o filão generoso dos chamados homens públicos, da mesma maneira que Geane Maria Córner descobriu o filão generoso das chamadas mulheres públicas.
Parece ter sido uma questão de “feeling”, como se diz em inglês. Tanto Marcos Valério poderia ter optado pelas mulheres, como Geane pelos homens, dava no mesmo. Esses homens e mulheres eram públicos e público também o dinheiro alcançado, sem nada a ver com preferências sexuais.
Mas o extraordinário não são os trocadilhos que se possa fazer a respeito. O extraordinário é a falta de respeito com todos nós porque, passado meio ano desde que o escândalo estourou, o único punido foi o denunciante Roberto Jefferson.
Os demais, o petista José Dirceu à frente, agora com a coadjuvância do tucano Eduardo Azeredo, continuam protagonizando a Ópera dos Vivos, que era como se chamava o espetáculo de mamulengos no Brasil Colonial.
quarta-feira, 26 de outubro de 2005
O retrato - Jayme Copstein
Não era nenhum quebra-cabeças, mas bastou juntar fragmentos do noticiário para se ter o retrato de corpo inteiro da tragédia brasileira.
Enquanto o secretário de Segurança do Rio Grande do Sul, José Otávio Germano, reivindicava do governo federal a criação de um Ministério especializado, já que o Ministério da Justiça parece ter outras preocupações, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cobrado do calote que vem passando no Rio Grande do Sul, mandava o governador Germano Rigotto vacinar os rebanhos, o soldado PM Rosemiro Rodrigues era assassinado por um detento de regime semi-aberto, no prédio que ambos invadiram e vizinhavam.
O Brasil é isso. Na teoria, é verborréia pura, com tiradas, cujo limite entre o engraçado e a grosseria não é muito preciso, mas fazem seus políticos se sentirem inteligentes.
Na prática, é uma propriedade do Estado invadida ilegalmente há 6 anos, sem que nenhuma providência tenha sido tomada para desocupá-lo e dar destino aos seus moradores.
É um homem da lei. vizinhando com marginais porque não ganha o suficiente para ter um cantinho de seu.
É também um marginal, condenado por tráfico de drogas e assalto, recebendo benefícios sem uma avaliação correta das suas possibilidades e sem um programa que o reeduque, obrigado a dormir em uma casa prisional, mas sem fiscalização que o impeça de passar a noite em um prédio invadido.
Mas somos campeões mundiais futebol. Ah! E do Caixa 2 também.
Enquanto o secretário de Segurança do Rio Grande do Sul, José Otávio Germano, reivindicava do governo federal a criação de um Ministério especializado, já que o Ministério da Justiça parece ter outras preocupações, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cobrado do calote que vem passando no Rio Grande do Sul, mandava o governador Germano Rigotto vacinar os rebanhos, o soldado PM Rosemiro Rodrigues era assassinado por um detento de regime semi-aberto, no prédio que ambos invadiram e vizinhavam.
O Brasil é isso. Na teoria, é verborréia pura, com tiradas, cujo limite entre o engraçado e a grosseria não é muito preciso, mas fazem seus políticos se sentirem inteligentes.
Na prática, é uma propriedade do Estado invadida ilegalmente há 6 anos, sem que nenhuma providência tenha sido tomada para desocupá-lo e dar destino aos seus moradores.
É um homem da lei. vizinhando com marginais porque não ganha o suficiente para ter um cantinho de seu.
É também um marginal, condenado por tráfico de drogas e assalto, recebendo benefícios sem uma avaliação correta das suas possibilidades e sem um programa que o reeduque, obrigado a dormir em uma casa prisional, mas sem fiscalização que o impeça de passar a noite em um prédio invadido.
Mas somos campeões mundiais futebol. Ah! E do Caixa 2 também.
terça-feira, 25 de outubro de 2005
Pesquisas e patacoadas - Jayme Copstein
Em lugar de provocar risadas em Vladimir Putin, ao lhe propor eixo Brasília-Moscou para enfrentar a hegemonia da União Européia e dos Estados Unidos, o governo brasileiro deveria prestar mais atenção ao que está acontecendo na pesquisa de combustíveis alternativos, para aproveitar as cartas que tem na mão.
Já há muito tempo, desde quando éramos inteiramente dependentes das importações de petróleo, os pesquisadores brasileiros preocuparam-se em encontrar fontes de energia mais baratas. Esbarraram sempre na falta de apoio e na cabeça obtusa dos seus políticos, onde o cérebro foi definitivamente substituído chave do cofre.
Aconteceu assim com a energia eólica, a gerada pelo vento. Em uma publicação da Universidade Federal do Rio Grande, de dezembro de 1966 – há quase 40 anos – o engenheiro Paulo de Castro Nogueira defendia o “Aproveitamento econômico da energia do vento” – esse era o título da monografia – em que demonstrava ser viável, pelo regime dos ventos, a geração de energia eólica na Planície Costeira do nosso Estado. Hoje estamos importando, como grande novidade, a tecnologia alemã.
Chegam notícias da Austrália e da Suécia, de esforços para desenvolver fontes alternativas de energia, de fácil renovação, os chamados biocombus-tíveis.
Os australianos que tem grandes excedentes de bananas e seus engenheiros criaram um gerador de eletricidade, movido pelo metano obtido a partir dos frutos em decomposição. Esperam, no futuro, movimentar até uma usina inteira.
Já os suecos buscam obter o metano através da decomposição de restos de animais, abatidos para consumo e testam a viabilidade em locomotivas mo-vidas a gás.
O Brasil está a léguas na frente desses países. O álcool combustível é uma realidade e até agora não tem a presença mundial que lhe cabe pela estrei-teza dos barões da cana-de-açúcar, cujo bolso maior do que os olhos lhes impede de enxergar bem mais adiante.
Há também o biodiesel, desenvolvido a partir da mamona, para satisfazer as nostalgias infantis do sr. Luiz Inácio Lula da Silva, quando as melhores fontes são o girassol, o nabo, o babaçu, dendê, milho, soja e até o próprio óleo queimado em frituras nos restaurantes e em casa.
O óleo de mamona, por suas qualidades como solvente na industrialização de plásticos tem preço de mercado muito superior, e seria desperdício, para não dizer rematada asneira, queimá-lo nos motores.
Mas não é o que importa neste momento. Importa é que concentremos apoio e esforços, para estender a liderança que já temos nos laboratórios ao mercado internacional.
Encurtará bem mais a distância que nos separa dos líderes mundiais do que as patacoadas travestidas de ideologia, que tem a catinga dos cigarros e os eflúvios do álcool consumidos nos bares da Cidade Baixa.
Já há muito tempo, desde quando éramos inteiramente dependentes das importações de petróleo, os pesquisadores brasileiros preocuparam-se em encontrar fontes de energia mais baratas. Esbarraram sempre na falta de apoio e na cabeça obtusa dos seus políticos, onde o cérebro foi definitivamente substituído chave do cofre.
Aconteceu assim com a energia eólica, a gerada pelo vento. Em uma publicação da Universidade Federal do Rio Grande, de dezembro de 1966 – há quase 40 anos – o engenheiro Paulo de Castro Nogueira defendia o “Aproveitamento econômico da energia do vento” – esse era o título da monografia – em que demonstrava ser viável, pelo regime dos ventos, a geração de energia eólica na Planície Costeira do nosso Estado. Hoje estamos importando, como grande novidade, a tecnologia alemã.
Chegam notícias da Austrália e da Suécia, de esforços para desenvolver fontes alternativas de energia, de fácil renovação, os chamados biocombus-tíveis.
Os australianos que tem grandes excedentes de bananas e seus engenheiros criaram um gerador de eletricidade, movido pelo metano obtido a partir dos frutos em decomposição. Esperam, no futuro, movimentar até uma usina inteira.
Já os suecos buscam obter o metano através da decomposição de restos de animais, abatidos para consumo e testam a viabilidade em locomotivas mo-vidas a gás.
O Brasil está a léguas na frente desses países. O álcool combustível é uma realidade e até agora não tem a presença mundial que lhe cabe pela estrei-teza dos barões da cana-de-açúcar, cujo bolso maior do que os olhos lhes impede de enxergar bem mais adiante.
Há também o biodiesel, desenvolvido a partir da mamona, para satisfazer as nostalgias infantis do sr. Luiz Inácio Lula da Silva, quando as melhores fontes são o girassol, o nabo, o babaçu, dendê, milho, soja e até o próprio óleo queimado em frituras nos restaurantes e em casa.
O óleo de mamona, por suas qualidades como solvente na industrialização de plásticos tem preço de mercado muito superior, e seria desperdício, para não dizer rematada asneira, queimá-lo nos motores.
Mas não é o que importa neste momento. Importa é que concentremos apoio e esforços, para estender a liderança que já temos nos laboratórios ao mercado internacional.
Encurtará bem mais a distância que nos separa dos líderes mundiais do que as patacoadas travestidas de ideologia, que tem a catinga dos cigarros e os eflúvios do álcool consumidos nos bares da Cidade Baixa.
A fraude - Jayme Copstein
Os deputados Alberto Fraga, do PFL de Brasília, da campanha do “não”, e Raul Jungmann, do PPS de Pernambuco, da campanha do “sim”, continuam o debate sobre a proibição das armas de fogo, agora enfocando os custos da campanha.
Fraga confessa uma dívida de 900 mil reais. Diz que recorrerá à indústria de armamentos – Taurus e CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos) – para obter o dinheiro, se ele não vier de outra fonte. Em outras palavras, se não cair do céu.
Ao que tudo indica, esta foi a origem – o céu – do dinheiro para pagar a campanha do “sim”. Seu tesoureiro, o deputado Raul Jungmann, não tem preocupações a respeito, como se apenas o “não” tivesse pago pela produção dos programas de tevê. As dívidas foram saldadas e ele pode dar-se ao luxo de acusar os antagonistas de entrarem no jogo com cartas mar-cadas pelos fabricantes de armas.
Jungmann teria toda a razão se não excluísse o “sim” da tramóia que acusa. Mas sua denúncia convida à reflexão. Basta atentar para as montanhas de dinheiro, de origem espúria, envolvidas nas campanhas eleitorais, para se chegar à conclusão: a política no Brasil é uma imensa fraude.
Fraga confessa uma dívida de 900 mil reais. Diz que recorrerá à indústria de armamentos – Taurus e CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos) – para obter o dinheiro, se ele não vier de outra fonte. Em outras palavras, se não cair do céu.
Ao que tudo indica, esta foi a origem – o céu – do dinheiro para pagar a campanha do “sim”. Seu tesoureiro, o deputado Raul Jungmann, não tem preocupações a respeito, como se apenas o “não” tivesse pago pela produção dos programas de tevê. As dívidas foram saldadas e ele pode dar-se ao luxo de acusar os antagonistas de entrarem no jogo com cartas mar-cadas pelos fabricantes de armas.
Jungmann teria toda a razão se não excluísse o “sim” da tramóia que acusa. Mas sua denúncia convida à reflexão. Basta atentar para as montanhas de dinheiro, de origem espúria, envolvidas nas campanhas eleitorais, para se chegar à conclusão: a política no Brasil é uma imensa fraude.
segunda-feira, 24 de outubro de 2005
Onde está a honestidade? - Jayme Copstein
Fosse o Brasil uma democracia de verdade, a Justiça Eleitoral não teria proibido, no rádio e na tevê, o livre debate das idéias em confronto e sobre a própria natureza da consulta que se fazia ao povo no referendo de domingo. Simplesmente, câmeras e microfones foram liberados para militantes de cartas marcadas trocarem asneiras e desonestidades.
Desfilaram estatísticas, sacadas não se sabe de que algibeira, ora para defender o “sim”, ora para defender o “não”, que tanto serviam a uma e outra posição. Argumentos, os mais canhestros, apelaram até para o orgulho nacional, como aquele de que o Brasil podia dar exemplo ao mundo, como se fosse de verdade o primeiro país a abolir o comércio das armas, ou o único que pretendesse fazê-lo.
Na origem da violência que no Brasil assume caráter de crueldade, não se tocou. Sempre que o debate se aproxima da ignorância que também gera pobreza e corrupção, juntas ou separadamente, ele é descartado. Porque, aí, teríamos é exemplos a seguir como o da Nova Zelândia, da Coréia do Sul e do Chile, que chegaram aonde estão, resolvendo as deficiências do ensino fundamental.
Não há outro caminho para formar cidadãos. Mas a educação, ponto básico é mantida deficiente, em países como o Brasil, porque assim se impede que as pessoas adquiram discernimento e cidadania, libertando-se da tutela dos aventureiros de direita, de esquerda, de centro e do que mais inventem em ideologias, só interessados no poder e nas suas benesses.
Persiste entre nós o mito do bom selvagem, segundo o qual o homem nasce puro, a sociedade é que o corrompe.
É uma idiotice. O selvagem é escravo da urgência de seus instintos mais primitivos. É a educação que o civiliza para construir uma sociedade, que será tão mais justa quanto mais educados forem seus cidadãos. Fora disso, há apenas militância a serviço de espertalhões que desejam o poder a qualquer preço.
Não há ideologia que substitua a educação. Muito menos de referendos mal ajambrados, feitos para enganar o eleitor, passando-lhe a idéia de que está resolvendo alguma coisa. No máximo, está é referendando a demagogia barata que atrasa esta Nação.
Desfilaram estatísticas, sacadas não se sabe de que algibeira, ora para defender o “sim”, ora para defender o “não”, que tanto serviam a uma e outra posição. Argumentos, os mais canhestros, apelaram até para o orgulho nacional, como aquele de que o Brasil podia dar exemplo ao mundo, como se fosse de verdade o primeiro país a abolir o comércio das armas, ou o único que pretendesse fazê-lo.
Na origem da violência que no Brasil assume caráter de crueldade, não se tocou. Sempre que o debate se aproxima da ignorância que também gera pobreza e corrupção, juntas ou separadamente, ele é descartado. Porque, aí, teríamos é exemplos a seguir como o da Nova Zelândia, da Coréia do Sul e do Chile, que chegaram aonde estão, resolvendo as deficiências do ensino fundamental.
Não há outro caminho para formar cidadãos. Mas a educação, ponto básico é mantida deficiente, em países como o Brasil, porque assim se impede que as pessoas adquiram discernimento e cidadania, libertando-se da tutela dos aventureiros de direita, de esquerda, de centro e do que mais inventem em ideologias, só interessados no poder e nas suas benesses.
Persiste entre nós o mito do bom selvagem, segundo o qual o homem nasce puro, a sociedade é que o corrompe.
É uma idiotice. O selvagem é escravo da urgência de seus instintos mais primitivos. É a educação que o civiliza para construir uma sociedade, que será tão mais justa quanto mais educados forem seus cidadãos. Fora disso, há apenas militância a serviço de espertalhões que desejam o poder a qualquer preço.
Não há ideologia que substitua a educação. Muito menos de referendos mal ajambrados, feitos para enganar o eleitor, passando-lhe a idéia de que está resolvendo alguma coisa. No máximo, está é referendando a demagogia barata que atrasa esta Nação.
Farolices - Jayme Copstein
O referendo de ontem foi pura farolice. Pouco importa se ganhou o “não”. Pouco importaria se vencesse o “sim”.
O referendo não decidia nada. A legislação que originou a consulta, clara e severa ao regulamentar a posse e o porte das armas de fogo, se contradizia ao proibir o fabrico e a venda.
Se permitia a alguns o uso das armas, não tinha como impedir a fabricação legal para vendê-las aos aquinhoados. A proibição era nula. A não ser que deliberadamente se pretendesse o fim da indústria nacional das armas, para favorecer empresas estrangeiras. Uma nova modalidade de mensalão.
Nada pôde ser dito no rádio e na tevê, canais de informação para mais de 70% da população, porque a Justiça estendeu ao referendo a legislação fascista que impede o debate no período eleitoral.
Pagamos 250 milhões de reais para continuar assistindo ao espetáculo de um governo que não consegue impedir nem mesmo que um boi pesteado passe pela fronteira do Paraguai, mas pretende, com um referendo, terminar com o contrabando das armas de guerra que abastece os bandidos do país.
É muita soberba e alienação.
O referendo não decidia nada. A legislação que originou a consulta, clara e severa ao regulamentar a posse e o porte das armas de fogo, se contradizia ao proibir o fabrico e a venda.
Se permitia a alguns o uso das armas, não tinha como impedir a fabricação legal para vendê-las aos aquinhoados. A proibição era nula. A não ser que deliberadamente se pretendesse o fim da indústria nacional das armas, para favorecer empresas estrangeiras. Uma nova modalidade de mensalão.
Nada pôde ser dito no rádio e na tevê, canais de informação para mais de 70% da população, porque a Justiça estendeu ao referendo a legislação fascista que impede o debate no período eleitoral.
Pagamos 250 milhões de reais para continuar assistindo ao espetáculo de um governo que não consegue impedir nem mesmo que um boi pesteado passe pela fronteira do Paraguai, mas pretende, com um referendo, terminar com o contrabando das armas de guerra que abastece os bandidos do país.
É muita soberba e alienação.
sexta-feira, 21 de outubro de 2005
O preço da farsa - Jayme Copstein
Flávio Koutzi, deputado estadual do Rio Grande do Sul, sempre destacado entre os melhores parlamentares de todas as legislaturas, desde a redemocratização, anuncia que não concorrerá a nenhum mandato nas eleições de 2006.
Koutzi diz que encerra um ciclo da sua vida pública e justifica a decisão extrema com as denúncias de corrupção envolvendo o seu partido, o PT, e o baixo nível dos debates na Assembléia Legislativa.
Diferenças e discordâncias ideológicas à parte, Koutzi é vítima, como todos nós, desta farsa chamada voto proporcional, em que o eleitor é convocado apenas para sacramentar a perversão do sistema. Ele jamais sabe em quem está votando, menos ainda quem está elegendo. Pior ainda: o próprio deputado não sabe quem o elegeu, com o que e com quem tem compromissos.
O raciocínio é muito simples. Como ninguém se elege com o número exato de votos, exigidos pelo quociente eleitoral, sempre o faz ou com excesso de votos que descarrega em outros candidatos da legenda ou com os votos descarregados de seus companheiros de chapa.
Então, os candidatos não necessitam ter plataformas, programas, idéias a defender. Disputam as eleições como se fossem concursos de beleza em que as pernas bonitas são substituídas por promessas de bíblicos paraísos ressuscitados. Vencem os delírios mais febris.
A desilusão não é só de deputados como Flávio Koutzi. É do próprio eleitor que freqüentemente pensa em anular seu voto, como protesto. Melhor faríamos todos se trocássemos nossa decepção por veemente exigência do voto distrital que corrige a distorção.
Koutzi diz que encerra um ciclo da sua vida pública e justifica a decisão extrema com as denúncias de corrupção envolvendo o seu partido, o PT, e o baixo nível dos debates na Assembléia Legislativa.
Diferenças e discordâncias ideológicas à parte, Koutzi é vítima, como todos nós, desta farsa chamada voto proporcional, em que o eleitor é convocado apenas para sacramentar a perversão do sistema. Ele jamais sabe em quem está votando, menos ainda quem está elegendo. Pior ainda: o próprio deputado não sabe quem o elegeu, com o que e com quem tem compromissos.
O raciocínio é muito simples. Como ninguém se elege com o número exato de votos, exigidos pelo quociente eleitoral, sempre o faz ou com excesso de votos que descarrega em outros candidatos da legenda ou com os votos descarregados de seus companheiros de chapa.
Então, os candidatos não necessitam ter plataformas, programas, idéias a defender. Disputam as eleições como se fossem concursos de beleza em que as pernas bonitas são substituídas por promessas de bíblicos paraísos ressuscitados. Vencem os delírios mais febris.
A desilusão não é só de deputados como Flávio Koutzi. É do próprio eleitor que freqüentemente pensa em anular seu voto, como protesto. Melhor faríamos todos se trocássemos nossa decepção por veemente exigência do voto distrital que corrige a distorção.
Os enciclopedistas - Jayme Copstein
Estava previsto. Ingênuo, quem achasse que não. Cadeia no Brasil é monopólio de chinelão, que não tem sequer chefe de quadrilha para lhe pagar a fiança e livrá-lo das grades.
Paulo Maluf e o filho Flávio, enciclopedistas do Direito Penal, tal a variedade dos seus crimes e o valor dos respectivos “cabritos”, para usar expressão popular, foram soltos pelo Supremo Tribunal Federal, após cadeia de 40 dias. O prazo foi excepcionalmente longo no país, para gatunos de grande alcance.
O bacharel defensor, voz embargada, estilo novelão de tevê, comunicou à imprensa que Maluf e seu zarelho estavam com os olhos rasos dágua, quando receberam a fausta notícia.
Comovente. Além do mais, decisão judicial não se discute, cumpre-se. Nada a fazer, apesar de o desfecho contrariar decisões anteriores do próprio Supremo Tribunal Federal.
Os cinco ministros que libertaram os Maluf podem argumentar com todas as sutilezas possíveis de leis feitas para garantir impunidade a quem possa pagar bons defensores. O problema é a perplexidade da opinião pública que finalmente começava a se convencer da revogação do velho provérbio – quem rouba tostão, é ladrão, quem rouba milhão, é barão.
Sem falar, por inútil, nas lágrimas das crianças famintas, dos velhos doentes, das viúvas desamparadas, cujos infortúnios seriam amenizados com pequena fração do dinheiro público que os malufes da vida embolsaram.
Paulo Maluf e o filho Flávio, enciclopedistas do Direito Penal, tal a variedade dos seus crimes e o valor dos respectivos “cabritos”, para usar expressão popular, foram soltos pelo Supremo Tribunal Federal, após cadeia de 40 dias. O prazo foi excepcionalmente longo no país, para gatunos de grande alcance.
O bacharel defensor, voz embargada, estilo novelão de tevê, comunicou à imprensa que Maluf e seu zarelho estavam com os olhos rasos dágua, quando receberam a fausta notícia.
Comovente. Além do mais, decisão judicial não se discute, cumpre-se. Nada a fazer, apesar de o desfecho contrariar decisões anteriores do próprio Supremo Tribunal Federal.
Os cinco ministros que libertaram os Maluf podem argumentar com todas as sutilezas possíveis de leis feitas para garantir impunidade a quem possa pagar bons defensores. O problema é a perplexidade da opinião pública que finalmente começava a se convencer da revogação do velho provérbio – quem rouba tostão, é ladrão, quem rouba milhão, é barão.
Sem falar, por inútil, nas lágrimas das crianças famintas, dos velhos doentes, das viúvas desamparadas, cujos infortúnios seriam amenizados com pequena fração do dinheiro público que os malufes da vida embolsaram.
O fim - Jayme Copstein
José Dirceu acende velas a todos os santos, para escapar da cassação de mandato, fantasiando firulas jurídicas que impeçam a incorporação da batota do mensalão ao seu passado de salvador da Pátria.
Ele precisa deste passado para continuar alimentando sonhos todo-poderosos. Até Roberto Jefferson desmascará-lo, Dirceu engordava sua biografia de mitos de condotiere, de fuehrer ou de guia dos povos, no melhor estilo das ditaduras que empestaram o mundo no século 20.
Agora tenta se livrar do escândalo do mensalão, grudado na pele, na crença de que manobras bem-sucedidas para absolvê-lo por uma acrobática falta de provas, podem devolver a lenda esvaída.
Chega a ser melancólica a semelhança que sua figura guarda com Adolf Hitler, mobilizando exércitos imaginários nos dias finais do regime nazista.
Hitler achava que a nação alemã só existia para servi-lo e não merecia sobreviver sem ele. José Dirceu parece achar que o PT e as esperanças e ilusões que mobilizou e incutiu nas pessoas estiveram à sua espera, desde tempos imemoriais, e devem extinguir-se com ele.
Até agora, os esforços de José Dirceu têm sido vãos. Ainda aposta algumas fichas na decisão de mérito do Supremo Tribunal Federal, em escaramuças na própria Câmara de Deputados. Não leva em conta que, além do esfacelamento do PT, já consumado, significará a destruição do que resta de credibilidade do legislativo brasileiro, sem em nada alterar a opinião pública..
A história não o perdoará jamais.
Ele precisa deste passado para continuar alimentando sonhos todo-poderosos. Até Roberto Jefferson desmascará-lo, Dirceu engordava sua biografia de mitos de condotiere, de fuehrer ou de guia dos povos, no melhor estilo das ditaduras que empestaram o mundo no século 20.
Agora tenta se livrar do escândalo do mensalão, grudado na pele, na crença de que manobras bem-sucedidas para absolvê-lo por uma acrobática falta de provas, podem devolver a lenda esvaída.
Chega a ser melancólica a semelhança que sua figura guarda com Adolf Hitler, mobilizando exércitos imaginários nos dias finais do regime nazista.
Hitler achava que a nação alemã só existia para servi-lo e não merecia sobreviver sem ele. José Dirceu parece achar que o PT e as esperanças e ilusões que mobilizou e incutiu nas pessoas estiveram à sua espera, desde tempos imemoriais, e devem extinguir-se com ele.
Até agora, os esforços de José Dirceu têm sido vãos. Ainda aposta algumas fichas na decisão de mérito do Supremo Tribunal Federal, em escaramuças na própria Câmara de Deputados. Não leva em conta que, além do esfacelamento do PT, já consumado, significará a destruição do que resta de credibilidade do legislativo brasileiro, sem em nada alterar a opinião pública..
A história não o perdoará jamais.
quarta-feira, 19 de outubro de 2005
Regras e exceções
Quem saiu do fundo do armário, no início desta semana, foi Itamar Franco, já em plena campanha para se eleger senador por Minas Gerais.
De pouco vale perguntar se não é cedo demais. Também, se não há ilegalidade, pois a legislação eleitoral proíbe campanhas precoces.
No Brasil as leis se caracterizam pela elasticidade. Têm o comprimento – e em conseqüência, o cumprimento – das circunstâncias.
Itamar Franco consegue ser pequeno em tudo, nos rancores pessoais, na preferência pelo fusca, na tola exibição de namoradas, no seu legado público. Era um político obscuro de Minas Gerais e foi o único entre os muitos consultados a aceitar a candidatura a vice de Fernando Collor de Mello.
Assumindo a presidência da República, os bastidores do Planalto registram, a luta para mantê-lo ocupado com insignificâncias, sem meter o bedelho no Plano Real. Foi nomeado alguma vezes embaixador do Brasil, mas sempre se limitou receber os proventos sem exercer o cargo.
Agora, em flagrante infração à legislação eleitoral, antecipa sua campanha para o Senado. Vai lhe acontecer alguma coisa? Ninguém sabe. Terá ele saído lista das exceções e sido enquadrado na regra geral?
De pouco vale perguntar se não é cedo demais. Também, se não há ilegalidade, pois a legislação eleitoral proíbe campanhas precoces.
No Brasil as leis se caracterizam pela elasticidade. Têm o comprimento – e em conseqüência, o cumprimento – das circunstâncias.
Itamar Franco consegue ser pequeno em tudo, nos rancores pessoais, na preferência pelo fusca, na tola exibição de namoradas, no seu legado público. Era um político obscuro de Minas Gerais e foi o único entre os muitos consultados a aceitar a candidatura a vice de Fernando Collor de Mello.
Assumindo a presidência da República, os bastidores do Planalto registram, a luta para mantê-lo ocupado com insignificâncias, sem meter o bedelho no Plano Real. Foi nomeado alguma vezes embaixador do Brasil, mas sempre se limitou receber os proventos sem exercer o cargo.
Agora, em flagrante infração à legislação eleitoral, antecipa sua campanha para o Senado. Vai lhe acontecer alguma coisa? Ninguém sabe. Terá ele saído lista das exceções e sido enquadrado na regra geral?
terça-feira, 18 de outubro de 2005
Gafieiras e mensalões - Jayme Copstein
Um ouvinte pergunta qual seria a posição da mídia se tudo caminhar para a impunidade, como sugerem as danças e contradanças “na grande gafieira em que se converteu Brasília. Como vocês jornalistas reagirão a tamanha afronta?”
O ouvinte comete injustiças e equívocos. A injustiça está na comparação. As gafieiras exigem um mínimo de respeito, o que não se consegue nem para remédio na zorra do mensalão.
O equívoco diz respeito à mídia, coletivo criado denominar os veículos de comunicação social, mas cujo sentido é deturpado por quem não consegue conviver com a diferença de idéias. É a mesma loucura do imperador romano Calígula, que lamentava não ter o povo romano uma única cabeça, para ser decepada por um só golpe de espada.
A mídia, se é que isso existe fora desse conceito meramente técnico, fará o de sempre. Continuará expressando a revolta e a perplexidade dos ingênuos, mais uma vez enganados pelos gatunos que correm junto com as vítimas e gritam “pega ladrão!”, para não serem identificados pela Polícia. No caso, os eleitores.
Tudo é hipótese, porém. O mais provável é que a afronta não seja cometida. Fomos todos longe demais, os gatunos na sua ousadia, os demais na indignação, seja por sinceridade ou mero teatro. Difícil recuar.
O ouvinte comete injustiças e equívocos. A injustiça está na comparação. As gafieiras exigem um mínimo de respeito, o que não se consegue nem para remédio na zorra do mensalão.
O equívoco diz respeito à mídia, coletivo criado denominar os veículos de comunicação social, mas cujo sentido é deturpado por quem não consegue conviver com a diferença de idéias. É a mesma loucura do imperador romano Calígula, que lamentava não ter o povo romano uma única cabeça, para ser decepada por um só golpe de espada.
A mídia, se é que isso existe fora desse conceito meramente técnico, fará o de sempre. Continuará expressando a revolta e a perplexidade dos ingênuos, mais uma vez enganados pelos gatunos que correm junto com as vítimas e gritam “pega ladrão!”, para não serem identificados pela Polícia. No caso, os eleitores.
Tudo é hipótese, porém. O mais provável é que a afronta não seja cometida. Fomos todos longe demais, os gatunos na sua ousadia, os demais na indignação, seja por sinceridade ou mero teatro. Difícil recuar.
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